Cristófaro faz vídeo ao lado de funcionários negros: 'Não sou racista'
O vereador Camilo Cristófaro (sem partido), responsável por uma fala racista durante reunião da CPI dos Aplicativos na Câmara Municipal de São Paulo, na última terça-feira (3), publicou um vídeo ao lado de funcionários negros de seu gabinete e negou ser racista.
O vídeo foi publicado na conta do Instagram do político na quarta-feira (4), no dia seguinte ao episódio.
Sem saber que seu áudio estava aberto durante a sessão, que ocorria de forma híbrida, Cristófaro comentou: "Eles arrumaram e não lavaram a calçada. É coisa de preto, né?".
No vídeo, o vereador alega que a frase vazada estava fora de contexto e foi dita durante uma conversa com um amigo negro, mas reconheceu que a fala foi "lamentável".
"Nós estávamos brincando e eu fiz uma brincadeira infeliz. Eu nunca fui, não sou e nunca serei racista. Isso aprendi com meu pai, com a minha mãe, minha família e minha origem", diz ele.
Na sequência, quatro funcionários descrevem como é trabalhar com o parlamentar e elogiam as ações sociais dele em comunidades de São Paulo.
'Situação completamente constrangedora'
A vereadora Luana Alves (PSOL) disse que Cristófaro colocou os funcionários "numa situação completamente constrangedora" ao fazer o vídeo.
"É muito comum que as pessoas que cometem atos racistas, para se justificarem, colocam como algum tipo de salvaguarda, a relação delas com pessoas negras. A relação de trabalho, de amizade, de parentesco. É uma prática muito antiga do racismo e não isenta ninguém de ter tido uma prática racista", afirmou.
"O que acontece é que ele colocou esses funcionários dele numa situação completamente constrangedora, numa situação terrível, porque existe obviamente uma relação hierárquica", acrescentou ela.
Delegacia abre inquérito
A Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) instaurou um inquérito para investigar a fala racista do vereador. O pedido foi protocolado por políticos do PSOL.
As vereadoras Luana Alves e Erika Hilton, o vereador Toninho Vespoli, a deputada estadual Mônica Seixas, a covereadora Paula Nunes e o vereador Celso Giannazi anexaram as imagens da sessão hibrida em que a frase racista foi dita.
"O termo 'coisa de preto' apresenta ofensa extensiva a toda a população negra, vez que é usado para atribuir a pessoas dessa origem étnico-racial práticas de cunho duvidoso, incompetente e desonesto", argumentaram os parlamentares.
Após a repercussão, Cristófaro pediu desculpas ao afirmar que cometeu um erro.
"Eu peço desculpas a toda população negra por esse episódio que destrói toda minha construção política na busca de garantia à cidadania dos paulistanos, principalmente aos que têm suas portas de acesso ao direito diminuída pelo racismo estrutural", disse ele, em nota.
A bancada do PSOL na Câmara de São Paulo também acionou, ontem, a Corregedoria da Casa para pedir a cassação do mandato do vereador.
A representante do PSOL na Corregedoria da Câmara é a vereadora negra Elaine do Quilombo Periférico, que defenderá a cassação do mandato.
O corregedor-geral da Câmara Municipal de São Paulo, vereador Gilberto Nascimento Jr. (PSC), afirmou em entrevista à Rádio Eldorado que dará celeridade ao processo.
Desfiliado do PSB
Após a repercussão do caso, o diretório estadual do PSB desfiliou Cristófaro da legenda. A decisão foi tomada pelo presidente estadual da sigla, Jonas Donizette.
Donizette classificou a fala como "grave" e disse que racismo é uma prática condenável pelo PSB, que, segundo ele, tem uma "negritude" muito forte. "Como o processo de expulsão exige um determinado trâmite legal, às vezes demorado, optei por despachar o ofício apresentado pelo próprio vereador no qual ele cita o artigo que trata de desfiliação", afirmou.
O ofício em questão foi enviado por Camilo Cristófaro ao PSB no dia 28 de abril. Nele, o vereador pede seu "imediato desligamento do diretório municipal de estadual do PSB" e cita o artigo 17, inciso sexto da Constituição Federal, o mesmo que trata de desfiliação partidária. "Diante desse pedido anterior ao fato, resolvi despachar e resolver assim de forma mais rápida", afirmou.
Ao Estadão, Camilo Cristófaro afirmou que a desfiliação tem a sua "anuência". "Fiz o pedido em 28 de abril", confirmou.
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