Jornal: Mulher de Ribeiro disse no dia da prisão que ex-ministro já sabia
Myrian Ribeiro, esposa de Milton Ribeiro, disse no dia da prisão que o ex-ministro da Educação já "estava sabendo" sobre a realização da operação contra ele, mas se recusava a acreditar. O trecho do diálogo, e que consta nas investigações, foi divulgado hoje pelo jornal O Globo.
"No fundo não queria acreditar, mas ele tava sabendo. Pra ter rumores do alto, a coisa... é porque o negócio já tava certo", disse em telefonema interceptado pela Polícia Federal.
De acordo com o jornal, a ligação de Myrian aconteceu às 9h19 da última quarta-feira (22). Ela falava com uma pessoa da família e se dizia abalada com a situação, enquanto o parente tentava tranquilizá-la sobre a operação.
A Operação da Polícia Federal "Acesso Pago", que culminou com a prisão de Milton Ribeiro, apura suspeitas de corrupção e tráfico de influência na liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
Hoje, o MPF (Ministério Público Federal) disse ter suspeitas de interferência do chefe do Executivo federal nas investigações referentes ao ex-ministro na Operação da Polícia Federal "Acesso Pago". O procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes pediu o envio de parte do caso ao STF (Supremo Tribunal Federal), segundo documento obtido pelo UOL.
Mais cedo, áudio divulgado pelo canal de notícias GloboNews e confirmado pelo UOL mostram o ex-ministro da Educação dizendo para a filha que o presidente Jair Bolsonaro (PL) o alertou sobre uma operação de busca e apreensão que a PF (Polícia Federal) faria contra ele - ação que acabou sendo realizada na última quarta-feira (22).
Confira o trecho do diálogo que conta nas investigações:
- Ministro para a filha: "A única coisa meio... hoje o presidente me ligou... ele tá com um pressentimento, novamente, que eles podem querer atingi-lo através de mim, sabe? É que eu tenho mandado versículos pra ele, né?"
- Filha pergunta: "Ele quer que você pare de mandar mensagens?"
- Ministro responde: "Não! Não é isso... ele acha que vão fazer uma busca e apreensão... em casa... sabe... é... é muito triste. Bom! Isso pode acontecer, né? Se houver indícios, né?".
Segundo a GloboNews, a conversa com a filha teria sido registrada no dia 9 de junho —ou 13 dias antes da operação— e durou 3min59seg.
Sobre o áudio, o advogado de Ribeiro, Daniel Bialski, afirmou que ele foi realizado antes da deflagração da operação. Segundo ele, a defesa ainda vai analisar tudo caso tenha acesso aos documentos, se lhe for franqueada vista da íntegra da documentação. No entanto, ele afirmou que tudo indica que há motivos para anular ao menos parte das decisões da operação.
"Causa espécie que se esteja fazendo menção a gravações/mensagens envolvendo autoridade com foro privilegiado, ocorridas antes da deflagração da operação", afirmou Bialski. "Se realmente esse fato se comprovar, atos e decisões tomadas são nulos por absoluta incompetência", disse.
O UOL procurou o Palácio do Planalto e aguarda o posicionamento.
Relembre o caso
Milton Ribeiro foi detido na quarta-feira, em Santos (SP), pela Polícia Federal em investigação que mira a atuação do ex-ministro e dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura em esquema para liberação de verbas do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) mediante pagamento de propina.
Na tarde de ontem os três foram soltos após uma decisão do desembargador Ney Bello, do TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região). O ex-ministro da Educação estava detido na Superintendência da PF em São Paulo.
O inquérito inicialmente foi aberto no STF, uma vez que Ribeiro tinha foro privilegiado. Em abril, a PGR (Procuradoria-Geral da República) afirmou que não via elementos para incluir o presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso, uma vez que o nome do presidente é apenas mencionado em uma outra gravação do ex-ministro. Após a demissão de Ribeiro, o caso foi enviado para a primeira instância.
O então ministro deixou o cargo no ministério no final de março, uma semana após a divulgação, pela Folha de S. Paulo, de um áudio em que ele afirma que o governo federal priorizava prefeituras ligadas a dois pastores - que não têm vínculo formal com a gestão pública.
Na gravação, o ex-ministro diz que o privilégio atenderia a solicitação de Bolsonaro, que negou ter orientado o então subordinado a cometer qualquer irregularidade.
Os pastores, que não tinham cargo no MEC, são acusados de montar um "balcão de negócios" dentro da pasta ao supostamente cobrar propinas de prefeitos em troca de liberação de recursos do FNDE. O caso foi revelado pelo jornal "O Estado de S. Paulo". (Entenda as suspeitas clicando aqui)
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