Bolsonaro precisa da ajuda de Michelle, mas continua com piadas misóginas
Atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas, o presidente Jair Bolsonaro (PL) patina entre o eleitorado feminino. Pesquisa Datafolha publicada na última quinta (28) aponta que apenas 27% das mulheres pretendem votar nele em outubro, ante 46% que preferem o petista.
Para avançar nesse terreno, a campanha de Bolsonaro tem investido em uma maior exposição da primeira-dama, Michelle. Ela foi a única além do marido a discursar na convenção do PL no último domingo (24), evento que oficializou a candidatura do presidente à reeleição.
Parte do discurso dela foi para tentar desconstruir a imagem de que Bolsonaro não gosta de mulheres - criada por diversas manifestações machistas feitas por ele ao longo do governo e em sua carreira como deputado federal.
"Falam que ele não gosta de mulheres, mas ele sancionou a lei que dá o direito de mães de crianças com microcefalia receberem o BPC [Benefício de Prestação Continuada]", disse a primeira-dama.
Apesar do esforço de Michelle, Bolsonaro continuou com o discurso sexista ao longo dessa semana. Na última quarta (27), ele disse que ela teria aprendido libras a pedido dele, "por falar alto demais em casa".
Como ela falava muito alto comigo em casa, eu falei 'tu vai aprender libras', e ela aprendeu libras Jair Bolsonaro
Na mesma ocasião, ele disse ganhar R$ 33 mil, mas não gastar quase nada, porque quem gastaria seria sua mulher. "Inclusive, todo dia quando levanto, ela me pede R$ 5 mil". Ao ser perguntado sobre como Michelle gastava o dinheiro, ele disse não saber, porque nunca havia dado.
No começo deste mês, o presidente disse que tem menos aceitação entre o eleitorado feminino porque as mulheres "gostam menos" de motociatas, como chama os passeios de moto que faz com apoiadores. Ao explicar a declaração no dia seguinte, ele disse que a razão seria porque a maioria das mulheres vê as motos como "símbolo do machismo".
Porque, a gente, o homem ou a mulher pensa de maneiras diferentes. Não há a menor dúvida que pensa, né? Mas todos pensam. Daí, por exemplo, a gente faz movimento de motociata. Vamos lá, as mulheres gostam ou não gostam?", questionou. "Se for fazer uma pesquisa, os homens gostam mais. Jair Bolsonaro
Mais de 8 milhões de mulheres estão habilitadas para pilotar motos no Brasil, de acordo com dados do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
Em junho, o presidente foi condenado a indenizar a repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S.Paulo por ofendê-la em fevereiro de 2020. Na época, ele acusou a profissional de se insinuar sexualmente para conseguir informações.
Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim.
Jair Bolsonaro em fevereiro de 2020.
"Furo" é como jornalistas chamam uma informação exclusiva.
Não foi a primeira vez que Bolsonaro foi condenado por uma declaração do tipo. Em 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que ele indenizasse a deputada Maria do Rosário (PT-RS) por dizer no plenário da Câmara dos Deputados que não a estupraria porque ela "não merece".
Fica aí, Maria do Rosário. Há poucos dias, tu me chamou de estuprador, no Salão Verde, e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece. Fica aqui para ouvir. Jair Bolsonaro, então deputado federal, em 2014
Na mesma fala, ele disse que a parlamentar era uma "mentirosa deslavada" e "covarde".
Outros casos
Em 2019, ao dizer que o Brasil não poderia se tornar conhecido como um destino de turismo gay, ele afirmou: "Quem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. Agora, não pode ficar conhecido como paraíso do mundo gay aqui dentro", declarou ele durante um evento com jornalistas.
Em 2017, durante a campanha eleitoral, ele se referiu à filha caçula, Laura, a única menina dentre os cinco filhos do presidente, como "fraquejada".
Fui com os meus três filhos, o outro foi também, foram quatro. Eu tenho o quinto também, o quinto eu dei uma fraquejada. Foram quatro homens, a quinta eu dei uma fraquejada e veio mulher. Jair Bolsonaro em discurso no Clube Hebraica
Em 2018, foi revelado que a ex-mulher de Bolsonaro, Ana Cristina Valle, relatou ter sido ameaçada de morte por ele ao pedir asilo na Noruega para o Ministério de Relações Exteriores.
"A senhora Ana Cristina Siqueira Valle disse ter deixado o Brasil há dois anos [em 2009] 'por ter sido ameaçada de morte' pelo pai do menor [Bolsonaro]. Aduziu ela que tal acusação poderia motivar pedido de asilo político neste país [Noruega]", diz um telegrama do Itamaraty obtido pelo jornal Folha de S.Paulo.
Atualmente, Ana Cristina é candidata deputada distrital pelo PP e usa o nome "Cristina Bolsonaro" nas redes sociais.
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