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Com PT e economia na mira, Bolsonaro prepara palanque para discurso na ONU

Jair Bolsonaro discursa na 76ª Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2021 - Eduardo Munoz-Pool/Getty Images
Jair Bolsonaro discursa na 76ª Assembleia Geral da ONU, em setembro de 2021 Imagem: Eduardo Munoz-Pool/Getty Images

Do UOL, em São Paulo e Brasília

19/09/2022 21h20

O presidente Jair Bolsonaro (PL) deverá atacar a esquerda e exaltar a retomada econômica do Brasil no discurso que fará nesta terça-feira (20) às 10h, na abertura da 77ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas) em Nova York, nos Estados Unidos. Esta será a quarta vez que Bolsonaro falará na abertura do evento.

A tendência, segundo apurou o UOL Notícias, é que Bolsonaro tente vender a imagem de um país que se recuperou rapidamente, após a crise provocada pela pandemia, e que faça comparações de seu governo com os anteriores, especialmente os do PT. Além disso, o presidente deverá defender as medidas do governo em temas como meio ambiente e combate à covid-19.

Como será o discurso de Bolsonaro na ONU? Conforme é tradição na Assembleia Geral da ONU, o presidente brasileiro será o primeiro chefe de Estado a falar no evento. O discurso, que terá duração de 10 a 15 minutos, é elaborado com sugestões do Ministério das Relações Exteriores, o Itamaraty. A redação final do texto é feita pela Presidência e aprovada por Bolsonaro.

A íntegra do discurso não é divulgada com antecedência. Conforme apurou o UOL Notícias, auxiliares do Planalto buscam um texto que não tenha tom eleitoreiro a ponto de ser contestado judicialmente por adversários da campanha. Bolsonaro, no entanto, deverá se dirigir tanto aos seus eleitores quanto à comunidade internacional.

O embaixador Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Itamaraty, afirmou a jornalistas no último dia 15 que Bolsonaro falará como presidente e como candidato à reeleição. A separação entre estes dois papéis, segundo Paulino, "é necessária, mas nem sempre é perfeita".

Ele é chefe de Estado e de Governo, e é candidato à reeleição. Ele separará as duas coisas, mas, ao mesmo tempo, ele não pode deixar de ser também um candidato à reeleição
Paulino Franco de Carvalho Neto, secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Itamaraty

Que temas Bolsonaro deverá citar no discurso? A retomada econômica brasileira estará entre os principais assuntos do pronunciamento. A ideia é que trechos da fala de Bolsonaro possam ser usados em peças de campanha, enfatizando a recuperação do país em indicadores como inflação, desemprego e preço dos combustíveis em um cenário de pandemia e guerra na Ucrânia.

Em entrevista ao SBT News, no último domingo (18), o presidente indicou que insistirá, mais uma vez, no argumento de que o Brasil é "celeiro do mundo" devido ao agronegócio e que preserva o meio ambiente apesar da imagem negativa que seria propagada por adversários. Bolsonaro recorreu a estas falas em outros discursos na ONU desde 2019.

O pronunciamento também poderá ter ataques aos governos do PT, sem citá-los diretamente. Segundo o colunista Jamil Chade, do UOL, o tom das críticas é avaliado pela equipe para evitar questionamentos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Nos discursos na ONU em 2019 e 2021, o presidente associou os governos petistas ao comunismo e os acusou de financiar ditaduras.

Como foram os discursos anteriores? Desde que assumiu o poder, Bolsonaro tem usado a tribuna da ONU para reforçar posições do governo, rebater críticas e atacar instituições relacionadas à esquerda.

Em 2019, o presidente exaltou o rompimento de iniciativas do PT, como o programa Mais Médicos, afirmou que críticas na área ambiental eram ataques à soberania do país e atacou o chamado "politicamente correto", atribuindo a ele a tentativa de "destruir a inocência das nossas crianças".

No ano seguinte, o foco central do texto foi a pandemia. O presidente exaltou o auxílio emergencial e os repasses da União a estados e municípios, afirmou que o governo se preocupou com a economia, além do vírus, e defendeu inclusive o chamado "tratamento precoce", que usa medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid.

O discurso de 2021 repetiu elementos dos anteriores. Por um lado, Bolsonaro voltou a atacar a esquerda brasileira e latino-americana, enfatizando o número de refugiados da Venezuela recebidos pelo Brasil. Por outro, voltou a defender o tratamento precoce contra a covid e afirmou que o governo apoiou a vacinação, mas foi contra sua obrigatoriedade.

Como discursaram outros presidentes em ano de eleição? Alvos preferenciais de Bolsonaro, os últimos dois presidentes brasileiros que discursaram na condição de candidatos à reeleição foram Dilma Rousseff (PT), em 2014, e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2006. Ambos foram marcados pela defesa dos respectivos governos.

Em 2006, Lula abriu o pronunciamento falando do combate à fome e citando iniciativas como o Bolsa Família, programa do governo petista que unificou benefícios sociais. Lula também criticou guerras, pediu um comércio internacional mais justo e defendeu a política externa do Brasil, focada na América Latina e na África.

Oito anos depois, também em campanha pela reeleição, Dilma afirmou que os governos do PT reduziram o desemprego e a desigualdade, negou que o país tivesse relaxado o controle fiscal e atribuiu a queda no crescimento econômico brasileiro às crises internacionais. Questionada posteriormente, ela negou que seu discurso tivesse sido eleitoreiro.

*Colaborou Carla Araújo, colunista do UOL Notícias, em Brasília

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.