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PF: Com 50 tiros de fuzil e 3 granadas, Jefferson assumiu risco de matar

Do UOL, em Brasília

24/10/2022 19h13Atualizada em 25/10/2022 08h41

O delegado da Polícia Federal Bernardo Adame Abrahao afirmou, em relatório, que Roberto Jefferson (PTB) assumiu o risco de matar os agentes que foram cumprir mandado de prisão contra o ex-deputado federal. O ex-deputado foi indiciado hoje por quatro tentativas de homicídio.

O ex-parlamentar confirmou em depoimento ter efetuado 50 tiros de fuzil e lançado três granadas na direção dos policiais.

A conclusão do delegado se encontra nos depoimentos relacionados ao episódios, aos quais o UOL obteve acesso.

No documento, Abrahao narra que integravam a equipe que foi cumprir decisão judicial contra Jefferson o delegado Marcelo André Cortês Villela, o escrivão Daniel de Queiroz Mendes da Costa e os agentes Heron Costa Peixoto e Karina Lino Miranda de Oliveira.

Os agentes chegaram na residência e tentaram falar com Jefferson pelo interfone, mas não foram atendidos. O agente Heron Costa, então, ainda segundo o documento, pulou o muro da casa para abrir o portão por dentro, mas não conseguiu. Até que decidiu caminhar até a porta da residência e tocar a campainha.

A esposa de Roberto Jefferson atendeu o policial "muito nervosa", pedindo para que os agentes fossem embora "porque daria problema".

No meio do diálogo, Roberto Jefferson apareceu em um andar superior da casa, a três metros de altura, "dizendo que não se entregaria, que não seria preso e que não deixaria a polícia federal ingressar no imóvel e cumprir a decisão", diz um trecho do documento.

"Isto foi materializado quando resolveu de forma consciente e voluntária efetuar mais de 50 disparos de arma de fogo fuzil calibre 5,56 mm e lançar três granadas contra a equipe de policiais que estavam cumprindo o seu mister", escreveu o delegado.

O documento relata cenas de uma guerra. Primeiro, Jefferson lançou uma granada. Na sequência, sacou um fuzil e disparou 30 tiros contra os policiais, atingindo a viatura. Lançou mais duas granas e descarregou o resto das balas do cartucho carregador do fuzil.

A agente Karina foi atingida por estilhaços na bacia, testa, pernas e braços. O delegado Marcelo foi atingido na cabeça por estilhaços. O agente, em depoimento, disse que "sentiu o sangue descer de sua cabeça" e que "em determinado momento a quantidade de sangue era muito grande, atrapalhando a visão do olho direito".

Ainda no confronto, Marcelo e o agente Daniel atiraram em direção a Jefferson "para tentar cessar a agressão injusta".

A arma de Daniel ainda travou e obrigou o agente a pegar a arma da colega Karina para continuar atirando contra Jefferson. Todos os agentes portavam pistola Glock.

Ainda que o interrogado afirme que não teve, em nenhum momento, intenção de matar os policiais federais e que queria apenas demonstrar que estava insatisfeito com a presença policial e com a decisão desfavorável, ele, minimamente, aceitou o risco ao disparar mais de 50 vezes e lançar 03 granadas contra a equipe"
Bernardo Adame Abrahao, delegado da Polícia Federal

Ele relatou que Jefferson "a todo momento" dizia que só sairia morto. "Inclusive, pediu para o advogado preparar a papelada do cemitério, em nítido sentido de afronta ao cumprimento dos mandados pela equipe policial", escreveu Abrahao.

Ele termina o texto ratificando a prisão do ex-deputado por quatro tentativas de homicídios qualificados por motivo torpe.

Jefferson disse a advogado que só sairia pro cemitério, segundo agente

O agente Vinicius Secundo, responsável pela rendição de Jefferson, afirmou que o ex-deputado estava "muito nervoso" nos momentos seguintes ao ataque aos agentes e que chegou a dizer que só sairia de casa morto, se negando a se entregar.

"Ele foi oscilando de humor e ficando mais calmo e receptivo à negociação; depois ficava nervoso novamente, ligava para o advogado e dizia para preparar o cemitério que ele só sairia para lá", afirmou Secundo.

O agente afirma que as conversas "ora avançavam, ora retrocedem" ao longo do dia e quando o clima na casa de Roberto Jefferson ficou "mais calmo" ele entrou desarmado para conversar com o ex-parlamentar.

Secundo é o agente que aparece rindo e conversando amistosamente com Jefferson depois que o ex-deputado atirou 50 vezes contra a viatura da PF na manhã de domingo (24). Segundo mostrou a colunista Juliana Dal Piva, do UOL, o policial afirmou que "vestiu um personagem" durante as negociações.

"A responsabilidade da negociação era enorme, não havia condições de fazer uma entrada tática com tantas pessoas na casa e a informação que havia várias armas! Virou um gerenciamento de crise, se sai um inocente ferido ou morto, seria uma tragédia e nome da PF na lama! Eu vesti um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível", escreveu o policial aos colegas.

O UOL apurou com alguns integrantes da PF do Rio que a conversa gravada no vídeo se deu depois da rendição. "Aquela conversa do Vinicius não era negociação. Estava tudo terminado àquela altura. Apenas um papo entre bolsonaristas", contou um agente. Segundo esse policial, a mensagem tenta criar uma narrativa para melhorar a imagem após o vídeo ter sido divulgado.