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Quem é o policial federal que negociou a rendição de Roberto Jefferson

Do UOL, em São Paulo

24/10/2022 17h53

Um profissional experiente e de referência em operações táticas no país: assim é visto o policial federal Vinicius de Moura Secundo, que aparece em vídeo em conversa amistosa com o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB). O policial negociava a rendição do político, neste domingo à tarde (23), em Comendador Levy Gasparian (RJ), onde o político foi preso após dar tiros de fuzil e jogar duas granadas em agentes que cumpriam mandado de prisão.

Atirador de elite, Secundo é instrutor de tiro e também atua como negociador. Em mensagem compartilhada pelo agente em grupos de WhatsApp, ele rebate as críticas sobre o tom ameno na conversa com Jefferson dizendo que precisou "vestir um personagem" para minimizar os riscos na ação.

Procurada, a assessoria de imprensa da entidade na capital fluminense, onde ele atua, informou que não iria se posicionar e que o agente não concederia entrevistas.

Fontes ligadas à entidade ouvidas pela reportagem informam que o agente tem vasta experiência em operações contra o crime organizado nas favelas do Rio de Janeiro e que já foi baleado em uma dessas ações.

Ainda de acordo com outros agentes, Vinicius já fez diversos cursos no exterior, e teria sido "escolhido a dedo" para a operação envolvendo a rendição de Roberto Jefferson justamente por conhecer os protocolos de ação em situações do tipo.

Mensagens

Na mensagem obtida pelo UOL Notícias, Vinicius se identificou como chefe-substituto do GPI (Grupo de Pronta Intervenção) e disse ser negociador formado pelo COT (Comando de Operações Táticas), a tropa de elite da Polícia Federal.

A responsabilidade da negociação era enorme, não havia condições de fazer uma entrada tática com tantas pessoas na casa e a informação que havia várias armas. Virou um gerenciamento de crise, se sai um inocente ferido ou morto seria uma tragédia e nome da PF na lama
Vinicius Secundo, em mensagem no WhatsApp

"Eu vesti um personagem para desacelerar a situação da melhor maneira possível. Graças a Deus tudo terminou bem sem ninguém ferido ou morto e o perpetrador preso (...). Se a equipe do GPI estivesse no momento da troca de tiro, o resultado poderia ser outro. Mas chegamos com uma situação de gerenciamento de crise. Aí, toda conduta muda", complementou, em texto compartilhado em grupos de policiais federais.

Formação em SP. Em 2019, ele veio a São Paulo para repassar sua experiência a agentes das unidades especiais da Polícia Militar paulista e da própria Polícia Federal. Na ocasião, ainda detalhou a sua participação em operações contra o crime organizado na capital fluminense.

Atirador de elite, noção de explosivos e de primeiros socorros. Segundo os profissionais que participaram da formação, ele demonstrou ter conhecimento operacional, noção do uso de explosivos e de atendimento pré-hospitalar.

Críticas e justificativas

A postura de Vinícius desencadeou uma série de críticas e justificativas de especialistas ouvidos pelo UOL Notícias. Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope, a tropa de elite da Polícia Militar do Rio de Janeiro, condenou a atitude do agente.

"Quem atira em policial é bandido e deve ser tratado como bandido. Acho vergonhoso para a Polícia Federal ver uma imagem dessa e o tratamento dispensado ao Roberto Jefferson por um agente da Polícia Federal", disse em entrevista ao UOL.

Jefferson já deveria estar imobilizado e algemado. Não vi razão para esse tipo de comunicação e camaradagem, parece coisa de amigos. É lamentável ver essas imagens depois que o presidente Bolsonaro já tinha dito que quem atira em policial é bandido
Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope-RJ

Flávio Werneck, diretor-jurídico da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), diz que o político deveria ser tratado como um "criminoso de alta periculosidade" após o ataque contra os policiais federais. Mas defendeu a postura do negociador.

Se tivesse sido um procedimento adequado, nada disso teria acontecido. Há críticas à postura e ao que ele disse, mas ele cumpriu o papel dele, que era o de levar o criminoso preso sem efeitos colaterais
Flávio Werneck, diretor-jurídico da Fenapef

Professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) na área de Segurança Pública, Rafael Alcadipani cita o que entende ser uma atitude de "condescendência" com Roberto Jefferson. Por outro lado, entende que o objetivo foi cumprido.

"Ele aparenta agir com uma certa condescendência contra um sujeito que atira contra os policiais. E não me pareceu adequado ele ter dado detalhes da operação ao citar que os policiais ali não tinham experiência. Mas, por mais que seja uma técnica que soa polêmica, ele [negociador] conseguiu atingir o objetivo, que era prender o criminoso sem disparar um único tiro."

O agente que negocia com o ex-parlamentar diz no vídeo filmado momentos antes da rendição que os colegas que foram cumprir a ordem de prisão são da área de inteligência, "burocráticos", trabalham em escritório e "não são operacionais."