Topo

Bolsonaro cita queixa-crime de Jefferson contra ele: 'Não tem amizade'

Do UOL, em São Paulo

23/10/2022 21h59Atualizada em 24/10/2022 03h48

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, negou ser amigo do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que no domingo (23) resistiu à prisão e atacou policiais federais com tiros e granadas. Na sabatina da Record, o chefe do Executivo disse que o ex-parlamentar acionou o STM (Superior Tribunal Militar) contra ele com uma queixa-crime.

Citando críticas de aliados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro reiterou que Jefferson não faz parte de sua equipe.

Não coordena a minha campanha. E não tem nada de amizade, tanto é verdade que agora em meados de setembro ele entrou com uma queixa-crime no Superior Tribunal Militar contra minha pessoa e do senhor ministro da defesa por prevaricação. Ou seja, quem me processa não pode alguém achar que é meu amigo".
Jair Bolsonaro

Conforme publicado pelo site The Intercept, Jefferson acionou a Justiça Militar em 16 de setembro contra o presidente e o ministro da Defesa, o general do Exército Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. O ex-deputado teria acusado os dois de prevaricação por não terem insistido para que o Senado apreciasse o pedido de impeachment do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

Bolsonaro já tinha falado sobre a queixa-crime antes mesmo da sabatina —ele chegou à emissora e fez um pronunciamento à imprensa, em que também negou proximidade com o ex-deputado federal.

Bolsonaro também citou ofensas a ministra. Na sabatina, Bolsonaro repudiou a fala machista feita ontem por Jefferson, em vídeo divulgado nas redes sociais da filha, sobre a ministra Cármen Lúcia, do STF. Na postagem, o ex-deputado xingou a ministra e a comparou a "prostitutas", "vagabundas" e "arrombadas" em uma publicação na internet.

"Repudio também a maneira como Roberto Jefferson se referiu à senhora ministra Cármen Lúcia. Nenhuma mulher deve ser tratada dessa maneira", afirmou o presidente. Em seguida, ele disse que uma jornalista fez ofensas contra a filha caçula dele e uma procuradora-geral chamou a primeira-dama, Michelle, de "vagabunda".

Nós somos vítimas do crime de ódio dessas pessoas, e não o contrário. Como o fujão aqui deixa transparecer e me ataca de forma caluniosa. Nós não passamos pano para ninguém [...] Roberto Jefferson agiu, xingando uma mulher, e também recebendo a bala policiais, o tratamento que será dispensado pelo governo Jair Bolsonaro será de bandido."
Jair Bolsonaro

A entrevista na Record foi agendada como debate de segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Como o petista declinou o convite, a emissora promoveu uma sabatina com o presidente. O candidato à reeleição citou o nome de Lula 22 vezes apenas no primeiro bloco da entrevista e o chamou de "fujão".

Em uma das respostas, afirmou que Lula "sempre tratou bem" Jefferson. "Nós não passamos pano pra ninguém, diferentemente do Lula, que, quando Roberto Jefferson delatou o Mensalão, delatou inclusive José Dirceu, o Lula simplesmente passou pano pra tudo isso."

Amizade com Jefferson? Desde a tarde de domingo, Bolsonaro tenta desvincular sua imagem à do ex-deputado. Durante live promovida no YouTube ao lado do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos), o presidente falou sobre Jefferson e declarou: "Não tem uma foto dele comigo".

Mas fotos compartilhadas nas redes sociais desmentem a versão —inclusive em posts do próprio Jefferson. Sobre as imagens publicadas na companhia de Jefferson, um integrante da equipe de Bolsonaro justificou que políticos com cargos públicos têm fotos com várias pessoas. A disseminação das fotos foi classificada com "old fake news".

Em abril de 2020, o ex-deputado afirmou que considerava o presidente um "amigo pessoal". A afirmação foi feita durante entrevista concedida ao jornalista do UOL Tales Faria.

O Bolsonaro é o meu amigo pessoal. Guardamos isso do passado."
Roberto Jefferson

Prisão. No fim da manhã de domingo, Roberto Jefferson reagiu com tiros contra agentes da Polícia Federal que cumpriam uma decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes de prendê-lo em sua casa, em Comendador Levy Gasparian, a cerca de 140 km do Rio. Por volta das 19h, o ex-parlamentar se entregou.

A PF informou que agentes foram à casa de Jefferson para cumprir a ordem de prisão e o alvo reagiu à abordagem, quando os agentes se preparavam para entrar na residência. Dois policiais, sendo uma mulher, foram atingidos por estilhaços. Segundo a corporação, eles foram levados a um pronto-socorro, passaram por atendimento médico e passam bem.

A ordem de prisão aponta o descumprimento de medidas cautelares por parte de Jefferson. Na decisão, Moraes pediu a detenção, busca e apreensão e proibiu entrevistas.