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Marília: Sudeste não entende que carro-pipa é sobrevivência para o Nordeste

Colaboração para o UOL, em São Paulo

23/11/2022 10h09Atualizada em 23/11/2022 11h11

A deputada federal Marília Arraes (Solidariedade-PE) foi anunciada como integrante da equipe de Desenvolvimento Regional do governo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao UOL News, a parlamentar, que perdeu a disputa do governo de Pernambuco para Raquel Lyra (PSDB), criticou o retrocesso vivido pelo Nordeste nos últimos anos.

Reportagem do colunista do UOL Carlos Madeiro mostra que, após a eleição, o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) cortou verba e água potável de 1,6 milhão de pessoas que vivem no Nordeste. Para Marília, esse é apenas mais um exemplo do descaso político de Brasília com a região. "Desde o governo de Michel Temer temos visto o corte de verbas e isso tem um impacto impressionante no Nordeste", disse. "Quando a gente fala em 1 milhão de cisternas, muita gente do Sul e Sudeste não entende, mas é uma questão de sobrevivência para o povo nordestino ter carro-pipa."

A política acrescentou que o uso de caminhões-tanque é uma medida paliativa para ajudar no acesso à água na região, mas são necessários projetos de longo prazo, como a transposição do Rio São Francisco, para resolver o problema de vez.

"A diminuição da desigualdade regional não tem sido prioridade no país há alguns anos e esse é um grande desafio do presidente Lula no próximo governo", disse Marília. "Vivemos todos esses séculos nos abastecendo das migalhas que caíam da mesa do Sul e Sudeste. Durante os governos Lula e Dilma, vimos essa lógica se inverter", afirmou.

Questionada sobre os "afagos" do presidente Bolsonaro aos nordestinos durante a campanha eleitoral, Marília afirmou que a população sempre reconheceu em Lula um político que ajudou no desenvolvimento da região.

"Bolsonaro fez afagos ao Nordeste, mas afago não adianta para quem tem sede, para quem voltou a ter fome. O povo nordestino sabe muito bem a realidade que vive e o quanto mudou depois que o governo Bolsonaro começou", disse a política.

Josias: Único resultado prático da ação do PL é prolongar a confusão

O colunista do UOL Josias de Souza falou sobre a ação apresentada ontem pelo partido do presidente Jair Bolsonaro, o PL, ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para anular votos proferidos em 279 mil urnas eletrônicas, cerca de 59% do total usado nas eleições, e dar vitória a Bolsonaro.

"O único resultado prático é prolongar a confusão", avaliou Josias. "O mais curioso é o silêncio da banda que foi eleita pelas urnas de 2022 e não se pronuncia. São exceções as manifestações como a do Rodrigo Pacheco, mas afora ele e personagens vinculados ao Lula, os outros estão em silêncio."

Josias questionou também o silêncio do procurador-geral da República, Augusto Aras, e dos integrantes das Forças Armadas que não são aliados de Bolsonaro. "As Forças Armadas fizeram uma auditoria das urnas, concluíram que não houve fraude, mas dizem que 'pode ter havido'. Nenhum militar sério se contrapõe a esse laudo. A hierarquia militar tem limites e um deles é o respeito à Constituição", afirmou o jornalista.

Maierovitch: Políticos que apoiam bloqueios violam Estado Democrático de Direito e podem ser processados

Reportagem do UOL mostrou que membros da elite política e empresarial de Sinop, no norte de Mato Grosso, têm apoiado o bloqueio de estradas e o fechamento do comércio em reação à derrota eleitoral de Bolsonaro. O colunista Wálter Maierovitch explicou que isso é contra a lei e os envolvidos podem ser punidos criminalmente.

"Podem e devem ser processados, pois estão violando o Estado Democrático de Direito. O Código Penal estabelece que qualquer um que participar do crime vai incidir na tipificação e penas culminadas, ou seja, é coautoria. Mais ainda: cabe prisão em flagrante", disse o jurista.

"Isso é violação ao Estado Democrático de Direito, é não saber perder a eleição e tumultuar. Segundo o Direito Internacional, para saber se uma ação é ou não terrorista, é necessário identificar os alvos direto e indireto. Nesse caso, o alvo direto é o bloqueio da estrada; o alvo indireto, é derrubar a Constituição. Sendo assim, está bem caracterizado o ato terrorista."

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