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Alimentadas com restos de comida, emas da Presidência morrem com obesidade

Jair Bolsonaro mostra cloroquina para ema - REUTERS/Adriano Machado
Jair Bolsonaro mostra cloroquina para ema Imagem: REUTERS/Adriano Machado

Do UOL, em Brasília

08/02/2023 20h01Atualizada em 09/02/2023 15h30

Duas emas da Presidência da República morreram neste mês com quadro de excesso de gordura.

Após assumir os palácios presidenciais, o novo governo identificou que os animais foram alimentados com restos de comida humana durante a gestão Jair Bolsonaro (PL).

O UOL teve acesso com exclusividade a documentos da Casa Civil e da Emater-DF (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural), cujo relatório foi feito a pedido da Presidência da República, que mostram que os animais estão sem acompanhamento veterinário e, em sua maioria, em instalações inadequadas.

Documento do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) atesta a transferência de alguns deles para o Zoológico de Brasília a fim de ficarem em ambientes adequados. O governo diz estar avaliando medidas para evitar novas mortes.

As informações foram confirmadas ao UOL pelo governo federal, que aponta que a gestão Bolsonaro destinou 7.000 grãos à alimentação dos animais instalados nos palácios presidenciais em 2022 —quase um terço dos 20 mil grãos previstos anualmente para alimentá-los adequadamente.

As duas emas mortas estavam na Granja do Torto, uma das residências oficiais da presidência, ocupada até o meio de dezembro pelo ex-ministro Paulo Guedes. Uma delas morreu na segunda semana de janeiro e outra, na última semana, de acordo com a planilha de contagem de animais feita pela presidência.

Em 6 de janeiro, a pedido da primeira-dama Janja da Silva, houve uma avaliação dos animais nas residências. De acordo com o relatório, a maioria apresentava "bom estado geral de saúde", mas estava em "instalações inadequadas". Na semana seguinte, o primeiro animal morreu.

Na autópsia preliminar, foi identificado excesso de gordura visceral, abdominal e no fígado dos animais.

De acordo com técnicos que acompanharam tanto o processo de avaliação quanto a autópsia dos animais, a morte súbita "fecha com o quadro" de doenças cardíacas e hepáticas, "desencadeadas provavelmente pelo mau manejo alimentar durante os últimos anos".

O laudo final sobre as mortes deve sair em duas ou três semanas, mas os técnicos comentaram nunca terem visto uma ave "com tanta gordura".

Os animais estavam sendo alimentados com restos de comida humana misturada a rações, segundo os técnicos que fizeram o acompanhamento em janeiro. Atualmente, há 17 emas na Granja do Torto e 38 no Palácio da Alvorada.

Diariamente, os animais estavam comendo arroz e milho junto à ração, o que desbalanceia a dieta e contribui para o aumento do peso dos bichos de forma desequilibrada. A suspeita é de que a mistura foi adotada em razão da baixa quantidade de ração disponível.

O principal problema e recomendação sendo o relatório é a falta de acompanhamento técnico por um profissional —algo dispensado pela gestão Bolsonaro.

É importante que as residências oficiais tenham um responsável técnico para acompanhamento permanente dos animais.
Relatório veterinário

A consultoria foi chamada por Janja. O texto destaca que as aves não foram vacinadas contra a doença de Newcastle, que já registrou surto em São Paulo, e que é preciso realizar uma "adequação nas instalações".

Segundo técnicos que avaliaram os locais, os problemas das instalações inviabilizavam cuidados básicos dos bichos, como vacinação, e até na segurança para reprodução. Muitos dos animais perderam seus filhotes por falta de ambiente adequado.

Alguns animais foram transferidos para o Zoológico de Brasília por não estarem em instalações adequadas nos palácios. São eles:

  • 4 papagaios
  • 3 araras-canindé
  • 2 pavões
  • 1 periquito-de-encontro-amarelo
  • 1 pássaro-preto

O relatório diz que não é necessário tratamento clínico para a maioria dos animais, mas sim acompanhamento.

O governo diz já estar colocando em prática três prioridades de "forma emergencial" para cuidar dos animais, em especial após as mortes das emas:

  • Ajustar a alimentação, adequando a compra da quantidade suficiente de ração.
  • Contratação de responsáveis técnicos para acompanhamento constante dos animais.
  • Ajuste das instalações e questões de manejo, para que os animais possam ser vacinados, cuidados e se reproduzam em segurança.

O UOL não conseguiu contato com Bolsonaro, que está na Flórida desde o ano passado. Assessores do ex-presidente também são procurados para comentar a denúncia. O espaço segue aberto em caso de posicionamento.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado pelo UOL, o gasto estimado para manutenção de todos os animais nos palácios presidenciais é de 20 mil grãos, e não R$ 20 milhões. E em 2022, foram destinados 7 mil grãos, e não R$ 7 milhões. Os erros foram corrigidos.