Caixa tarja documentos do consignado do Auxílio: o que continua escondido?

A atual gestão da Caixa Econômica Federal tentou esconder comunicações sobre riscos e perdas com o crédito consignado do Auxílio Brasil. Agora, o banco ainda oculta documentos internos que explicam a liberação do programa e por que ele foi cortado logo após a derrota de Jair Bolsonaro (PL).

O banco respondeu a uma determinação da CGU (Controladoria-Geral da União) para dar transparência a informações solicitadas pelo UOL sobre suspeitas de uso político da linha de crédito com um documento com 17 páginas totalmente tarjadas. Os trechos que foram escondidos revelam que o consignado do Auxílio Brasil foi iniciado apesar das dúvidas e pendências que representavam riscos financeiros e jurídicos.

Agora, o que a Caixa continua escondendo?

Documentos internos que explicam por que a Caixa decidiu conceder o consignado do Auxílio Brasil apesar dos problemas apontados pelo próprio banco.

Documentos internos que explicam por que a Caixa cortou o consignado após a derrota de Bolsonaro.

Dados sobre o volume exato de reservas do banco estatal após a derrota de Bolsonaro, que podem mostrar qual foi o nível de risco que a Caixa assumiu para liberar os R$ 7,6 bilhões do consignado em 20 dias.

O que aconteceu:

Em fevereiro deste ano, o UOL revelou que a Caixa cortou o consignado após a derrota de Bolsonaro. Do total de R$ 7,6 bilhões liberados em 2022 pelo banco, 99% se concentraram entre o primeiro e o segundo turno.

Também em fevereiro, o UOL pediu, pela Lei de Acesso à Informação, documentos sobre o corte do consignado. Solicitou ainda comunicações trocadas entre a Caixa e órgãos do governo federal sobre o tema, para entender como foi o processo de tomada de decisão. O banco estatal vem se negando, desde então, a fornecer as informações.

Em julho, a CGU determinou que a Caixa enviasse as comunicações. Na semana passada, o banco respondeu com o documento tarjado. As tarjas só podem ser removidas pela Caixa. Mas o UOL teve acesso aos documentos originais, sem as ocultações.

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Riscos e perdas. A atual gestão do banco — que mantém dirigentes que operaram a distribuição do consignado durante o processo eleitoral — estava tentando esconder comunicações sobre riscos e perdas com a linha de crédito. Um trecho, por exemplo, cita um "risco imprevisível às instituições financeiras".

A possibilidade de glosa [cancelamento] sem referidos detalhamentos impõe risco imprevisível às instituições financeiras e de difícil mensuração em relação à perda que pode advir do processo, uma vez que não há segurança, ainda, a partir dos dados disponibilizados.
Karla Ferreira, superintendente da Caixa, em e-mail ao Ministério da Cidadania em 7 de outubro de 2022

O trecho faz parte de um e-mail enviado em 7 de outubro de 2022, cinco dias após o primeiro turno e três dias antes do início da liberação do consignado, pela gerente nacional de consignado da Caixa para o governo Bolsonaro. Nele, foram apontados problemas que deveriam ser alterados. Apesar disso, a instituição começou a liberar o consignado imediatamente.

"Perda relevante em novembro de 2022". Oito dias após a derrota de Bolsonaro, a Caixa fez uma reunião com o Ministério da Cidadania. Em seguida, registrou por e-mail o que foi discutido: mais necessidades de correções. Logo no primeiro mês em que as parcelas do consignado foram descontadas do Auxílio Brasil, o banco estatal teve uma "perda relevante".

As informações reforçam as suspeitas de uso político do consignado pela Caixa para favorecer Bolsonaro nas eleições. O então presidente tinha menor intenção de voto entre eleitores de baixa renda, segundo as pesquisas da época.

*Com reportagem de Amanda Rossi publicada em 07/08/2023

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