Bolsonaro diz que prisão de Cid visa forçar delação e evita falar de joias
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que a prisão do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens, tem como objetivo forçar uma delação premiada. A afirmação foi feita em entrevista a um canal bolsonarista, divulgada neste domingo (13).
O canal não informou quando a entrevista foi gravada, portanto não se sabe se foi antes ou depois da operação da PF (Polícia Federal) que revelou um esquema de desvio de joias presenteadas à Presidência, envolvendo Cid, na última sexta-feira (11).
O que disse Bolsonaro
Espontaneamente, Bolsonaro citou Mauro Cid, dizendo que não concorda com a prisão preventiva do ex-auxiliar, decretada em maio deste ano, após operação da PF que apura um esquema de fraude em cartões de vacina, inclusive do próprio ex-presidente e sua filha.
Segundo Bolsonaro, o objetivo da prisão é forçar uma delação premiada. Além de Cid, Bolsonaro mencionou a prisão do sargento Luis Marcos Reis, detido na mesma ocasião.
Tenho dois auxiliares diretos presos há noventa dias: o Cid e o sargento (Luis Marcos) Reis, cuja punição -- se forem culpados, podem até ser, não sei -- não seria passível dessa preventiva que estão sofrendo agora. O objetivo é sempre aquela história de uma delação premiada. Vai delatar o quê? E a outra [história] é me atingir.
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, em entrevista a canal bolsonarista em agosto
Bolsonaro não citou o caso das joias na entrevista. Mesmo antes da operação de sexta-feira, já se sabia da tentativa de assessores do então presidente de liberar um conjunto de colar e brinco de brilhantes, que havia sido retido pela Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos, em 2021. As informações foram reveladas pelo jornal O Estado de S.Paulo em março.
Na entrevista, Bolsonaro também agradeceu pelas doações via Pix, que seriam usadas, segundo ele, para pagar dívidas judiciais. Em junho, relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) registrou que o ex-presidente recebeu R$ 17 milhões em Pix.
A previsão, hoje em dia, é de um pouco mais de R$ 3 milhões contando multas e processos. E deve aumentar.
Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, em entrevista a canal bolsonarista em agosto
Investigação sobre desvio de joias
Na última sexta-feira, Cid foi alvo de operação da PF que investiga um esquema de desvio e venda de joias do acervo presidencial.
O pai de Cid, o general Mauro Lourena Cid, também foi alvo de buscas. A PF aponta que a conta de Lourena Cid foi usada para receber recursos da venda das joias.
A PF pediu a quebra do sigilo bancário e fiscal de Bolsonaro, sob a suspeita de que os recursos eram repassados ao ex-presidente em dinheiro vivo. A queda de sigilo da ex-primeira-dama, Michelle, também foi solicitada.
Nas redes sociais, Bolsonaro não se pronunciou sobre a operação da PF. Ontem, publicou um vídeo nas redes sociais sem ligação com o caso.
A equipe jurídica do ex-presidente disse, em nota, que irá colocar à disposição da Justiça a movimentação bancária de Bolsonaro.
Sobre os fatos ventilados na data de hoje nos veículos de imprensa nacional, a defesa do Presidente Jair Bolsonaro voluntariamente e sem que houvesse sido instada, peticionou junto ao TCU -- ainda em meados de março, p.p. --, requerendo o depósito dos itens naquela Corte, até final decisão sobre seu tratamento, o que de fato foi feito. O Presidente Bolsonaro reitera que jamais apropriou-se ou desviou quaisquer bens públicos, colocando à disposição do Poder Judiciário sua movimentação bancária
Nota oficial da defesa de Bolsonaro
As suspeitas da PF sobre Bolsonaro
A suspeita da PF é que os recursos obtidos com as venda das joias eram repassados a Bolsonaro em dinheiro vivo.
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Quero receberOs valores obtidos dessas vendas eram convertidos em dinheiro em espécie e ingressavam no patrimônio pessoal do ex-presidente da República, por meio de pessoas interpostas e sem utilizar o sistema bancário formal, com o objetivo de ocultar a origem, localização e propriedade dos valores
PF, em inquérito sobre desvio de joias da Presidência
A operação de sexta também mirou o advogado Frederick Wassef e o assessor de Bolsonaro Osmar Crivelatti.
Um dos episódios de desvio de joias ocorreu, segundo a PF, em uma viagem para os Estado Unidos em junho de 2022. Na ocasião, Mauro Cid se separou da comitiva presidencial e vendeu dois relógios de luxo por US$ 68 mil, que foram depositados na conta do seu pai nos EUA. Os objetos foram presenteados ao Brasil por governos estrangeiros.
Em 30 de dezembro de 2022, quando Bolsonaro deixou o país pouco após ter perdido as eleições, outro kit de joias teria sido transportado ilegalmente aos EUA, segundo a PF. Em fevereiro, foram colocadas em leilão, mas não houve compradores.
'Estamos falando de 120 mil dólares'
Em um dos diálogos obtidos pela PF e levados ao Supremo, Cid conversa com outro assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, sobre as restrições existentes a respeito da venda dos bens no exterior.
Após uma venda concretizada e uma tentativa de leilão de peças, o gabinete de documentação da Presidência havia informado que era necessário registrar oficialmente a doação do bem ao governo brasileiro e que a venda no exterior também precisaria ser comunicada.
Só dá pena porque estamos falando de 120 mil dólares. Hahahahha"
Mauro Cid, em mensagem obtida pela PF
Câmara responde: "O problema é depois justificar e para onde foi".
[Esses diálogos] evidenciam que, além da existência de um esquema de peculato para desvio do acervo privado do ex-presidente da República Jair Bolsonaro os presentes de alto valor recebidos de autoridades estrangeiras, para posterior venda e enriquecimento ilícito do ex-presidente, Marcelo Câmara e Mauro Cid tinham plena ciência das restrições legais da venda dos bens no exterior.
Alexandre de Moraes, ministro do STF
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