Lula recua e diz que Justiça decidirá se Putin será preso se vier ao Brasil
O presidente Lula (PT) recuou após dizer no sábado (9) que o líder russo Vladimir Putin não seria preso no Brasil caso viesse participar da reunião do Grupo dos 20 (G20) no Rio de Janeiro no próximo ano. A nova declaração ocorreu na madrugada de hoje em entrevista à imprensa para o balanço da cúpula do G20 na Índia.
O que aconteceu
No sábado, Lula afirmou a um canal indiano que Putin poderia participar da próxima cúpula de líderes do G20 sem correr risco de ser preso. Na ocasião, o chefe do Executivo brasileiro também declarou que o Brasil "é 100% contra a invasão da integridade territorial de qualquer país".
Acusado de crimes de guerra, Putin decidiu não participar do encontro em Nova Délhi, na Índia, mesmo que a Rússia seja integrante do grupo. No sábado, as nações do G20 adotaram uma declaração consensual que evitou condenar a Rússia pela guerra na Ucrânia, mas conclamou todos os países a não usarem a força para tomar territórios.
A gente gosta de tratar bem as pessoas. Então, acredito que o Putin pode ir facilmente ao Brasil. Eu posso te dizer que, se eu sou o presidente do Brasil e se ele vem para o Brasil, não tem por que ele ser preso.
Lula em entrevista ao canal indiano Firstpost, no sábado (5)
Nesta segunda-feira (11), o petista foi questionado se o Brasil vai desrespeitar o tratado do TPI (Tribunal Penal Internacional), do qual é signatário, ao não prender Putin em eventual presença no país.
O TPI emitiu mandados de prisão contra o líder russo em março, acusando-o do crime de guerra de deportar ilegalmente centenas de crianças da Ucrânia. A Rússia negou que suas forças tenham se envolvido em crimes de guerra ou levado crianças ucranianas à força.
O Brasil, signatário do tratado (o Estatuto de Roma) que criou o tribunal, deveria cumprir as ordens dessa corte. O país —que assume a presidência do G20 no final deste ano— sediará a cúpula de líderes no Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de novembro de 2024.
Eu não sei se o tribunal, não sei se a Justiça brasileira vai prender. Isso quem decide é a Justiça, não é o governo [brasileiro], nem o Parlamento. É importante. Eu inclusive quero muito estudar essa questão desse Tribunal Penal [Internacional] porque os Estados Unidos não são signatário dele, a Rússia não é signatária dele também. Então, eu quero saber por que o Brasil é signatário de um tribunal que os EUA não aceitam. Por que somos inferiores e temos que aceitar uma coisa?
Lula, presidente do Brasil, na segunda-feira (11)
O presidente afirmou que o sistema judiciário funciona no país e temos que ver "se vai acontecer alguma coisa no momento que tiver que acontecer". Questionado se tiraria o Brasil do TPI, Lula comentou que vai "estudar" por que o Brasil é signatário do tribunal.
Eu não estou dizendo que vou sair de um tribunal. Eu só quero saber, e só me apareceu agora, eu nem sabia da existência desse tribunal, eu só quero saber por que os EUA não é signatário; por que a Índia não é signatária; por que a China e a Rússia não são signatárias e por que o Brasil é signatário. Eu quero saber qual é a grandeza que fez o Brasil tomar essa decisão de ser signatário. [...] Porque me parece que os países do Conselho de Segurança da ONU não são signatários, só os 'bagrinhos'.
A Índia também não é signatária. Então, é um absurdo. Os países emergentes são signatários de umas coisas que prejudicam eles mesmos. Eu vou dar uma pensada nisso direitinho, mas de qualquer forma é a Justiça que toma a decisão. Se o Putin decidir ir ao Brasil, quem toma a decisão se vai prendê-lo ou não é a Justiça que vai decidir, não é nem o governo, nem o Congresso Nacional. [Até a reunião do G20 no Brasil], eu espero que tenha acabado a guerra, espero que o tribunal tenha feito a sua posição para que a gente possa voltar à posição normal.
Lula, presidente do Brasil, na segunda-feira (11)
(Com Ansa e Reuters)
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