General Heleno rebate GDias, repete Bolsonaro e se cala na CPI do 8/1

O general Augusto Heleno negou participação em atos golpistas, xingou, rebateu seu sucessor no GSI (Gabinete de Segurança Institucional) e depois usou do direito de ficar calado durante depoimento prestado hoje na CPI do 8 de Janeiro. Ele também repetiu o discurso do ex-presidente Jair Bolsonaro de que o tenente-coronel era apenas um ajudante de ordens.

Não [sei de reunião] e eu quero esclarecer que o tenente-coronel Mauro Cid não participava de reuniões, ele era ajudante de ordens do presidente.
General Augusto Heleno, ex-GSI

O que aconteceu

O depoimento foi tumultuado, com provocações entre governistas e oposição, aplausos ao general, acusações de mentir à CPI e até um xingamento quando o militar se irritou com a relatora, Eliziane Gama (PSD-MA). "Ela fala coisas que ela acha que estão na minha cabeça. Porra, é pra ficar puto, né? Puta que pariu."

A sessão foi suspensa após um deputado gritar contra a fala de Duda Salabert e se recusar a deixar a comissão.

O general aproveitou os 15 minutos antes das perguntas para se defender. Ele tentou se afastar de atos de caráter golpista após a derrota nas eleições. "Eu jamais me vali de reuniões ou palestras ou conversas para tratar de assuntos eleitorais ou político-partidários."Ele ainda negou saber de qualquer reunião de Jair Bolsonaro (PL) com os comandantes de Exército, Marinha e Aeronáutica para tratar de intervenção miitar, mencionada em delação premiada do ex-assessor Mauro Cid.

General Heleno minimizou o papel de Cid, repetindo uma estratégia já usada por Bolsonaro para se defender. Bolsonaro já chegou a dizer que Cid "não participava de nada", "até por uma questão de hierarquia".

Fotos e documentos mostram a proximidade entre Cid e Bolsonaro e sua participação em encontros com militares.

Ele poderia ter ficado em silêncio, após decisão do ministro Cristiano Zanin, do STF (Supremo Tribunal Federal), mas só utilizou desse direito mais tarde na CPI, durante as perguntas de parlamentares governistas que exploraram suas frases contra Lula e sobre o golpe.

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O militar ressaltou que estava fora do cargo no dia das invasões. Também afirmou que não entrou em contato com nenhum servidor do GSI ou da Presidência a partir do momento em que deixou de ser ministro.

Ele classificou o acampamento em frente ao quartel-general do Exército em Brasília como "ordeiro" e "pacífico". O ex-ministro acrescentou que em nenhum momento o GSI monitorou o local.

Heleno disse desconhecer a minuta golpista encontrada com o ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Divergência entre generais

O general Heleno rebateu seu sucessor como ministro do GSI. Em seu depoimento à CPI, o general Gonçalves Dias declarou que não houve transição e este fato complicou o começo de seu trabalho no mandato de Lula.

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De acordo com o militar, não foi assim. Teriam acontecido três reuniões, com a estrutura do GSI disponível o tempo todo.

Tenho plena consciência de que ele recebeu todos os dados para começar seu trabalho nas melhores condições possíveis.
General Augusto Heleno, em oposição ao dito no depoimento por GDias

Ele ainda tentou minimizar as mensagens golpistas trocadas entre militares. Ele chamou as conversas de "bobagens" e que não motivavam a cúpula militar.

A relatora chegou a chamar o general de "irresponsável", quando ela mencionou o episódio em que um gradil foi usado para atacar uma cabo. Ela ficou com o capacete danificado devido à violência do golpe. Heleno falou que era "choro de militar" e foi repreendido. Ouviu a bronca em silêncio.

Sessão tumultuada

O depoimento do general foi tumultuado desde o começo. Quando apareceu na sala, Heleno foi aplaudido por deputados e senadores de oposição. A deputada governista Jandira Feghali (PCdoB-RJ) protestou: "Fico envergonhada".

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Já enquanto a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), fazia perguntas espinhosas, era interrompida pela oposição. Ela reclamou e o presidente da CPI precisou pedir calma.

A insistência de Heleno em dizer que não sabia de vários encontros entre militares e Bolsonaro fez a senadora debochar, dizendo que ele nunca sabia do que acontecia.

Quando ela anunciou que faria a última pergunta, um parlamentar da oposição gritou: "Finalmente". Houve risos, mas a relatora respondeu à provocação apontando "desespero" dos bolsonaristas.

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