Em reunião tensa sobre mina, Lula tenta conciliar aliados de Renan e Lira

O presidente Lula (PT) juntou autoridades e grupos políticos opostos para tentar resolver a crise após o rompimento de uma mina em Maceió. A reunião foi tensa e não chegou a uma solução.

O que aconteceu

Lula reuniu dois grupos políticos antagônicos de Alagoas. De um lado, está o governador Paulo Dantas (MDB), alçado ao cargo pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL). Do outro, o prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PL), aliado de primeira hora do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Todos estiveram na reunião. O embate entre eles tem atrapalhado o gerenciamento da crise.

Acordo entre a prefeitura e a mineradora Braskem é o foco da briga. O grupo de Renan é contra a proposta assinada por JHC, que não responsabiliza a empresa pelo acidente. Ontem (11), o governo de Alagoas anunciou a desapropriação da área de cinco bairros afetados pela mineração.

Na reunião, JHC e Renan se interromperam em diversos momentos. Eles discordaram em especial sobre o encaminhamento da área. Segundo participantes do encontro, o prefeito defendeu o acordo, enquanto o senador argumentou que não houve um repasse justo à população. Até Lula sentiu a necessidade de intervir.

Como vai ser o papel de Lula na crise

Lula propôs ser um interlocutor dos grupos, sem interferir na disputa jurídica. Segundo o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, o presidente ouviu todos os presentes e pediu um "pacto pela governança".

[A concordância em resolver] não significa que ninguém abrirá mão das suas iniciativas jurídicas ou as medidas legais que cada um acha que foi pertinente terem tomado. Se a gente quer começar a conversar para resolver o problema, não tem como pressuposto ninguém retirar as iniciativas adotadas. Se não, a gente não começa.
Ministro Rui Costa, após reunião

Ficou combinado que a briga ficará "congelada". "Cada um fica com as suas ações, do jeito que está, e vamos conversar", disse Rui. Ele não respondeu se o governo vai acionar a AGU, como têm pedido aliados em Alagoas.

Outra reunião vai ser feita com autoridades do estado, a bancada alagoana no Congresso e representantes da Braskem. Ainda não há data definida.

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Lula não deve ir a Alagoas até que a situação seja resolvida. Segundo interlocutores, o presidente avalia que não é hora de aparecer "tomando partido", embora seja aliado histórico de Renan.

Dantas já havia chamado o acordo de "ilegal" e "inconstitucional". Na semana passada, ele solicitou revisão à AGU (Advocacia-Geral da União). JHC deveria estar presente na conversa, mas cancelou na última hora.

CPI da Braskem deve ser instalada. O governo segue contra a implantação da comissão. Entre as justificativas, estão o desgaste com o Congresso e a Petrobras ser a segunda maior acionista da Braskem. Mas, segundo interlocutores, já houve uma aceitação de que ela vá acontecer. Ontem, o PT indicou nomes para participar do colegiado.

Disputa política atrapalha gerenciamento da crise

Foi a primeira reunião entre Dantas e JHC. Eles não haviam se encontrado pessoalmente desde o dia 29 de novembro, quando foi anunciado o risco iminente de colapso da mina.

Prefeitura e estado criaram comitês independentes para gerenciar a emergência. A mina 18 se rompeu no último domingo (10) e agora segue um processo de estabilização, segundo a Defesa Civil. Autoridades descartam que outras minas tenham sido afetadas pela movimentação do solo.

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Os planos eleitorais dos dois grupos atravancam as conversas. Em 2024, JHC busca reeleição. Em 2026, cenário está indefinido para o governo do estado.

JHC abraçou a oposição a Lula. Ele foi eleito à prefeitura em 2020 pelo PSB de Geraldo Alckmin. Mas se aproximou do grupo que apoia o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no estado e rumou para o PL pouco antes da janela eleitoral.

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