Golpe pode ter sido discutido, mas Bolsonaro não tinha intenção, diz Mourão

Ex-vice-presidente, o senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) admitiu hoje que o assunto sobre um golpe de Estado "pode ter sido discutido" durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), mas o ex-presidente "não tinha a intenção" de levar o plano adiante. Ontem (8), Bolsonaro foi alvo de uma operação da Polícia Federal.

O que aconteceu

Mourão disse que, se Bolsonaro quisesse, teria dado um golpe. Em entrevista à CNN Brasil, o ex-vice-presidente ponderou, porém, que não há nada que comprove que o ex-presidente teria ordenado ou instigado a ação. "Agora compete às investigações que estão sendo realizadas chegar até a verdade", afirmou Mourão.

Ex-presidente "não tinha a intenção" de dar um golpe, segundo Mourão. O senador disse nunca ter conversado sobre o assunto e que, após as eleições de 2022, aconselhou Bolsonaro a reconhecer a vitória de Lula (PT). "Recomendei a ele que passasse a faixa ao presidente Lula e que prosseguisse com a sua vida, porque ele é e continuará a ser o grande líder que a direita tem hoje", declarou.

Senador ainda avaliou como "delicada" a fala de Heleno sobre "virar a mesa". Em uma reunião de julho de 2022, cujo vídeo se tornou público hoje, o general Augusto Heleno disse que, se Bolsonaro tivesse que "virar a mesa", deveria fazê-lo antes das eleições. Questionado sobre a declaração, Mourão disse à CNN que não participou do encontro, mas que acredita que a frase foi uma "força de expressão".

Mourão reconheceu não haver provas sobre fraude nas urnas eletrônicas. Embora Bolsonaro tenha questionado diversas vezes a lisura do processo eleitoral, o ex-vice-presidente reforçou que nunca conseguiu encontrar uma "prova cabal" de que as urnas podem ser fraudadas. "Naquela reunião [de julho de 2022], se eu estivesse presente, diria que nós temos que confiar no processo", disse Mourão.

Julgo que o assunto [golpe de Estado] pode ter sido levantado eventualmente, discutido. Mas se o presidente Bolsonaro assim o quisesse, ele teria realizado. E não há nenhum dado que comprove que ele teria dado ordem. (...) O presidente Bolsonaro não tinha essa intenção. Essa é minha visão.
Hamilton Mourão, ex-vice-presidente, à CNN Brasil

Operação da PF

PF investiga uma suposta organização criminosa que tentou dar um golpe. Segundo a PF, o grupo se dividiu em núcleos para disseminar informações falsas sobre fraude nas eleições de 2022. A ação aconteceu antes mesmo do pleito para "viabilizar e legitimar uma intervenção militar, em dinâmica de milícia digital".

Primeiro núcleo trabalhou para construir e propagar a versão de fraude. O grupo espalhou mentiras sobre vulnerabilidades do sistema eletrônico de votação. De acordo com a PF, o discurso é repetido pelos investigados desde 2019 e continuou após a vitória do presidente Lula.

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Segundo eixo buscava subsidiar a abolição do Estado Democrático de Direito. O grupo tinha apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais no ambiente politicamente sensível.

Bolsonaro foi um dos alvos da operação da PF. Os agentes foram à casa do ex-presidente em Angra dos Reis (RJ) para recolher seu passaporte. O documento acabou apreendido poucas horas depois, em Brasília, na sede do PL. A informação foi confirmada por Paulo Bueno, advogado do ex-presidente.

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