Após fala, MBL confronta família Bolsonaro: 'De que lado vocês estão?'
O MBL (Movimento Brasil Livre), um dos principais grupos políticos de direita do país, confrontou a família Bolsonaro devido à entrevista concedida pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao "Roda Viva", da TV Cultura, na noite de ontem.
O que aconteceu
Flávio declarou ser contra destituição de Alexandre de Moraes. Após ser questionado por uma jornalista sobre o assunto, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse ser a favor do diálogo e contra o pedido para o impeachment do ministro do STF. Para ele, o episódio com o bilionário Elon Musk é uma chance para a Suprema Corte "voltar à normalidade" e arquivar inquéritos como o das milícias digitais.
Vamos por parte: primeiro, sempre que eu puder, eu vou buscar o diálogo. Não acho que pedir o impeachment de ministro do STF vá resolver os problemas do Brasil. Eu sempre acreditei numa autorregulação do Supremo. Eu acho que essa é uma ótima oportunidade para que o Supremo possa retomar as rédeas da Corte e parar de ser sugada toda hora para dentro de uma discussão —que não é institucional e relativa somente a um ministro. As coisas só vão voltar à normalidade quando esses inquéritos todos forem arquivados. Flávio Bolsonaro, em entrevista ao Roda Viva, da TV Cultura
Fala não foi bem recebida por bolsonaristas nas redes sociais. Um dos que se manifestaram críticos à posição de Flávio Bolsonaro foi o MBL, que confrontou um dos irmãos, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ). O grupo postou o vídeo com a declaração e questionou.
Sua família é contra impeachment de Ministros do STF? De que lado vocês realmente estão? MBL, em mensagem publicada no X (antigo Twitter)
Sua família é contra impeachment de Ministros do STF? De que lado vocês realmente estão? pic.twitter.com/SpKtMMhHTU
-- MBL - Movimento Brasil Livre (@MBLivre) April 9, 2024
Defesa de Musk
O senador também saiu em defesa de Musk, que vem travando um embate com Moraes. No domingo, o ministro determinou que Musk seja investigado por obstrução à Justiça, inclusive em organização criminosa, e incitação ao crime, após o bilionário anunciar que retiraria todas as restrições de contas no X determinadas pelo Judiciário brasileiro. Até o momento, Musk não cumpriu a ameaça, mas usou a rede social, enquanto a entrevista acontecia, para atacar o ministro e pedir seu impeachment, chamando-o de ditador e acusando-o de ter favorecido a eleição de Lula.
Para Flávio Bolsonaro, Musk não cometeu crime algum e não deveria ser investigado. "Uma cidadão americano, uma empresa privada, do meu ponto de vista, não cometeu crime nenhum, apenas falou, se posicionou, fez uma pergunta ao ministro que usa a rede social dele. O Elon Musk não tem foro por prerrogativa de função, está tudo errado. O ministro toma mais uma vez uma decisão monocrática, antes que qualquer ato fosse cometido, já incluindo Musk no inquérito", disse.
O senador comparou o Brasil à Venezuela, dizendo que o país pode sofrer sanções por não ser democrático. Mesmo o Brasil tendo passado recentemente por eleições consideradas justas e limpas, Flávio sugeriu que, se eleito nos Estados Unidos, Donald Trump pode adotar sanções contra o Brasil, como fez contra a Venezuela, por entender que a atuação do STF atualmente faz com que o país não tenha uma democracia. Ele ainda mencionou a proximidade entre Trump e Musk para reforçar a sugestão.
Ameaças a ministros do STF
Flávio negou que os Bolsonaro e seus apoiadores tenham qualquer papel nos ataques sofridos por ministros do STF. "Não é culpa do Bolsonaro, o ódio sofrido pelos ministros (...) Você não pode atribuir isso ao bolsonarismo", disse. Bolsonaro, aliados e apoiadores, porém, fizeram sucessivos ataques aos ministros, sobretudo a Moraes, e à Corte. No 7 de setembro de 2021, por exemplo, o então presidente chamou Moraes de "canalha" e disse que não cumpriria mais suas decisões.
Ataques ao processo eleitoral
Flávio atribuiu derrota do pai a interferências no processo eleitoral. Ao dizer que seu pai é honesto e está sendo bem recebido no Brasil todo, foi questionado sobre o porquê de ele ter perdido as eleições, se seu governo foi tão bom. O senador respondeu, sem apresentar provas, que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) favoreceu Lula. "O que o TSE fez antes, durante e depois das eleições, ficou muito claro para todo mundo que ele pesou muito mais a favor de um lado do que do outro", disse.
Senador volta a questionar o sistema eleitoral. Ao longo da entrevista, Flávio disse algumas vezes que não entraria na questão dos ataques às urnas eletrônicas, mas acabou colocando o sistema em dúvida repetidas vezes. Disse que "os brasileiros têm dúvidas" sobre a lisura do processo, sem mencionar que o próprio Bolsonaro e seus aliados passaram anos atacando as urnas, sem conseguir provar qualquer interferência no processo eleitoral. As urnas são auditadas junto a outros órgãos federais, incluindo as Forças Armadas.
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Quero receberDesconfiança das urnas é só em casos pontuais, tipo para a Presidência, disse o senador. Ele havia sido questionado sobre a incongruência de pôr em xeque um sistema que o elegeu diversas vezes, assim como a seu pai e seus irmãos.
Tentativa de golpe
Flávio classificou como "crime impossível" a suposta tentativa de golpe por Bolsonaro. De acordo com investigações da Polícia Federal, o então presidente e seus aliados planejaram um golpe de Estado para reverter o resultado das eleições. Ele teve o passaporte retido depois de ser alvo de uma operação em fevereiro.
Indícios do plano incluem depoimentos de dois comandantes das Forças Armadas e minuta golpista encontrada na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. O plano golpista foi confirmado por Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, em acordo de delação premiada.
Flávio diz que não houve crime de tentativa de golpe. O senador comparou a situação ao planejamento de um assassinato, em que alguém chega a comprar uma corda para cometê-lo, mas muda de ideia. Ele foi questionado pelos entrevistadores, uma vez que a mera tentativa de golpe já é um crime tipificado.
Novamente sem provas, Flávio sugeriu que Lula foi responsável ou conivente com os atos de 8 de janeiro. No dia dos ataques, Lula estava em Araraquara, interior de São Paulo, para prestar assistência às vítimas das chuvas que atingiram a região. Para Flávio, Lula "fugiu".
O que ele estava fazendo lá? Eu acho que ele saiu [de Brasília] torcendo para acontecer o que aconteceu. Não dá para colocar na conta do Bolsonaro o 8 de janeiro. Lula já estava no cargo, os movimentos estavam esvaziando. Eles sabiam e tinham a informação e não fizeram nada.
Flávio Bolsonaro
Ex-integrantes da cúpula da PM do Distrito Federal são réus no STF por omissão nos atos golpistas. Na denúncia, a PGR (Procuradoria-Geral da República) apontou "alinhamento ideológico e de propósitos" entre os denunciados e os bolsonaristas que pediam a intervenção das Forças Armadas.
Bolsonaro não var fugir em caso de condenação, diz senador. Ele foi questionado sobre os planos do ex-presidente em caso de pedido de prisão pelas investigações do 8/1. Para Flávio, seu pai sofre "perseguição" e "nem deveria ser investigado".
Flávio minimiza caso da embaixada da Hungria. Questionado sobre a estadia de Bolsonaro na embaixada da Hungria, após operação da PF que apreendeu seu passaporte, o senador disse que não havia qualquer intenção de fuga ou pedido de asilo e que seu pai é muito amigo do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. Segundo o senador, Bolsonaro não teria avisado sobre o caso nem à sua mulher, Michelle Bolsonaro. Ao ser questionado sobre a estranheza da situação, em pleno carnaval, Flávio afirmou que "não tinha nada para fazer em Brasília no carnaval.
Caso dos imóveis pagos em dinheiro vivo e das milícias
Flávio se defendeu de acusações de 'rachadinha'. Ele afirmou que tem patrimônio compatível com sua renda e negou o uso de dinheiro vivo na compra de imóveis, como foi revelado pelo UOL em 2022. De acordo com o parlamentar, as aquisições foram feitas em moeda corrente, por meio de transferências, e não em dinheiro vivo
O senador também negou ter ligações com milícias do Rio de Janeiro. Ele afirmou ter conhecido o miliciano Adriano da Nóbrega por causa de seu trabalho no Bope, em 2001. "Soube que estavam sendo injustiçados", disse. A mãe e a ex-mulher de Adriano teriam sido contratadas para trabalhar no seu gabinete como gesto de solidariedade pela situação vivida pelo ex-policial e em prol da "causa dos policiais injustiçados".
Não tem nada a ver Bolsonaro com grupo de extermínio, vinculação de Bolsonaro com milícias. Nunca defendi poder paralelo para extorquir morador.
Flávio Bolsonaro
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