STF condena Fátima de Tubarão a 17 anos de prisão por 8 de Janeiro

O STF (Supremo Tribunal Federal) condenou Fátima Mendonça Jacinto, a Fátima de Tubarão, a 17 anos de prisão pelos ataques golpistas de 8 de Janeiro. O julgamento foi realizado no plenário virtual e se encerrou na noite desta sexta-feira (9).

O que aconteceu

Condenação foi unânime, mas ministros divergiram sobre a pena. Seis ministros seguiram o voto do relator, Alexandre de Moraes, e outros cinco concordaram com a condenação dela, mas discordaram em relação aos crimes que ela cometeu e à pena que ela deveria cumprir.

Moraes condenou Fátima a 17 anos de prisão, sendo 15 em regime fechado. Ele determinou o pagamento de uma multa equivalente a R$ 43 mil mais correção monetária. Também ordenou que ela se responsabilize, junto com as centenas de réus dos ataques, e arque com uma indenização por danos morais coletivos de R$ 30 milhões.

Seguiram o voto de Moraes os ministros Flávio Dino, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Luiz Fux. Com isso, o tribunal formou maioria para aplicar a pena proposta pelo relator.

Zanin concordou com a condenação, mas reduziu a punição. Ele votou por 15 anos de prisão, sendo 13 anos e seis meses em regime fechado. Zanin também diminuiu a multa para um valor equivalente a R$ 2.000 mais correção monetária. O ministro manteve o pagamento da indenização por danos morais coletivas determinada por Moraes. Seu voto foi seguido pelo ministro Luiz Edson Fachin.

O presidente do Supremo Luís Roberto Barroso divergiu de Moraes. "Divirjo parcialmente do eminente relator, unicamente para afastar a condenação (...) por abolição violenta do Estado Democrático de Direito", escreveu em seu voto. Sem a condenação por esse crime, sua pena de reclusão reduziria em cinco anos e seis meses.

Os ministros André Mendonça e Kassio Nunes Marques também divergiram do relator e propuseram condenações bem menores. Indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro para o STF, os dois apresentaram as maiores divergências em relação a Moraes.

Nunes Marques entendeu que não caberia ao Supremo julgar o caso. Em seu voto, ele disse que, caso os ministros decidissem manter o julgamento no STF, como foi feito, Fátima de Tubarão deveria ser condenada apenas pelos crimes de dano qualificado e destruição de patrimônio cultural, o que daria uma pena somada de dois anos e seis meses, a ser cumprida em regime aberto.

André Mendonça, por sua vez, entendeu que Fátima só deveria ser condenada pelo crime de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. No entendimento do ministro, ela deveria cumprir uma pena de cinco ano de prisão por este crime.

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A maioria dos ministros condenou Fátima por cinco crimes:

  1. Golpe de Estado;
  2. Abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
  3. Associação criminosa armada;
  4. Deterioração de patrimônio tombado;
  5. Dano qualificado.

O que diz a defesa

Advogados afirmam que vão recorrer ao final do julgamento virtual. Em seu perfil oficial no Instagram, o escritório Folle e Falchetti divulgou um vídeo dizendo que, caso ela seja condenada, irá "esgotar todos os recursos previstos no âmbito do regimento interno do STF" e que não descarta recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos.

"Vamos pra guerra", disse Fátima

Ré aparece em vídeo dizendo: "Vamos para a guerra, vou pegar o Xandão agora!". A gravação foi feita por outro manifestante durante os atos golpistas que destruíram sedes dos três Poderes, em Brasília. "Quebrando tudo e cagando nessa bosta aqui", disse Fátima.

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Fátima de Tubarão disse que estava no "pelotão de frente" dos ataques de 8 de Janeiro. Sob o codinome "Ovelha", ela enviou áudio pelo WhatsApp a um interlocutor identificado como Cezar Meneguel. A gravação foi obtida por meio da quebra de sigilo telefônico dela.

Em outra mensagem, ela afirmou que "cagou" no "vaso do Xandão". "Só o que fiz foi caga (sic) no vaso do Xandão, não nego", escreveu Fátima no dia 16 de janeiro de 2023 a uma pessoa identificada como Karla.

Prisão semanas depois do vandalismo. Ela foi detida em 27 de janeiro de 2023, na 3ª fase da Operação Lesa Pátria, da PF (Polícia Federal). Nascida em Tubarão, no sul de Santa Catarina, Maria de Fátima foi enviada para a Penitenciária Sul de Criciúma (SC) após denúncia protocolada pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Defesa de Fátima de Tubarão teve cinco pedidos de liberdade negados. Os advogados apresentaram recursos para retirá-la da cadeia sob alegação de problemas de saúde. A decisão de prisão preventiva dela, porém, foi mantida cinco vezes por Moraes —em 3 de abril, 10 de outubro e 15 de dezembro de 2023 e em 3 de abril e 2 de julho de 2024.

Fátima já foi condenada por tráfico de drogas envolvendo menores de idade.

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