PGR diz que não propôs acordo a 'pichadora' do STF por gravidade dos crimes

A PGR (Procuradoria-Geral da República) não ofereceu acordo de não persecução penal à cabeleireira Débora Rodrigues Santos, 39, presa por ter pichado a estátua da Justiça durante os atos golpistas de 8 de Janeiro.

O que aconteceu

Gravidade dos crimes cometidos por Débora não eram condizentes para a formalização de acordo, segundo a PGR. Ela é ré por cinco crimes: abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e associação criminosa armada. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, sugeriu uma pena de 14 anos: seriam 12 anos e seis meses de reclusão, um ano e seis meses de detenção e mais cem dias-multa.

A cabeleireira está na cadeia desde março de 2023. Ela foi presa preventivamente na Operação Lesa Pátria e segue detida no interior de São Paulo. Os investigadores confirmaram a identidade dela graças aos registros fotográficos feitos no dia.

A gravidade dos crimes imputados na denúncia, bem como as penas mínimas relacionadas ao caso, não são condizentes com a formalização de ANPP (acordo de não persecução penal).
PGR, em nota enviada ontem ao UOL

Acordo pode ser feito em casos de infração penal sem violência ou grave ameaça, cuja pena mínima seja menor que quatro anos, de acordo com o MPF (Ministério Público Federal). Com isso, o réu deixa de responder a processo criminal, permanece primário e sem antecedentes.

Proposta da PGR a envolvidos nos atos de 8 de Janeiro iam de afastamento das redes sociais a serviços comunitários. Veja termos:

  • Prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas pelo total de 150 horas;
  • Proibição de participação em redes sociais até o fim do acordo de não persecução;
  • Participação presencial no curso "Democracia, Estado de Direito e Golpe de Estado", com carga horária de 12 horas;
  • Não ser processado por outro crime até o fim do acordo.

527 acordos foram homologados, 20 estão sendo cumpridos e 37 estão em tratativas, segundo o STF. Os dados são de janeiro deste ano.

Acordo foi oferecido para "mais de mil pessoas" denunciadas pelos atos golpistas do 8 de Janeiro, afirmou Moraes. O ministro Alexandre de Moraes disse ontem, durante o julgamento da denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que "vários recusaram, dizendo que querem intervenção militar."

Continua após a publicidade

Julgamento de Débora foi suspenso

O ministro Luiz Fux pediu mais tempo para analisar o caso. Ele terá até 90 dias para retomar o julgamento na Primeira Turma do STF. Os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino já haviam votado para condenar Débora a 14 anos de prisão. Como as turmas são compostas por cinco ministros, basta mais um voto para formar maioria pela condenação.

Moraes disse no voto que as provas mostram que Débora se aliou conscientemente ao grupo que planejava um golpe de Estado. Ela também permaneceu na organização em frente ao quartel-general do Exército em Brasília e escolheu participar dos atos de 8 de Janeiro. Débora confirmou as acusações em interrogatório.

Em carta, Débora pediu desculpas por ter pichado a estátua. Ela escreveu "Perdeu, mané" na estátua, em referência a uma fala do presidente do STF, o ministro Luís Roberto Barroso. O magistrado respondeu a um manifestante bolsonarista com essa frase ao ser abordado na rua, durante uma viagem a Nova York, em novembro de 2022.

Débora afirmou que "jamais compactuou" com atitudes violentas ou ilícitas. Segundo a cabeleireira, ela foi à Brasília para uma "manifestação pacífica e sem transtornos".

Por isso, no calor do momento, cheguei a cometer aquele ato tão desprezível (pichar a estátua). Posso assegurar que não foi nada premeditado, foi no calor do momento e sem raciocinar. Quando eu estava próxima a estátua, um homem pelo qual eu jamais vi, começou a escrever a frase e pediu para que eu a terminasse, pois sua letra era ilegível. Talvez tenha me faltado malícia para rejeitar o 'convite', o que não justifica minha atitude. Me arrependo deste ato amargamente, pois causou separação entre eu e meus filhinhos.
Débora Rodrigues Santos, em pedido de desculpas por ter pichado a estátua da Justiça

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.