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Crise política se acirra, e estados lutam para lidar com mortos por covid

Corpos se acumularam em corredor de hospital público em Duque de Caxias (RJ), segundo a prefeitura da cidade - Prefeitura de Duque de Caxias / Divulgação
Corpos se acumularam em corredor de hospital público em Duque de Caxias (RJ), segundo a prefeitura da cidade Imagem: Prefeitura de Duque de Caxias / Divulgação

Clarice Cardoso

Do UOL, em São Paulo

28/04/2020 01h30

Com 66.501 casos oficiais e 4.205 mortes confirmadas, o Brasil enfrenta ao menos três faces da crise causada pelo novo coronavírus. Na esfera política, a semana começa com boatos de que Paulo Guedes pode deixar a Economia em breve poucos dias depois da saída dos populares ministros Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e Sergio Moro, da Justiça.

O ministro se tornou o novo alvo de uma ala do governo por insistir na política de ajuste fiscal após a pandemia e pesa, em sua relação com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o protagonismo de Braga Netto, da Casa Civil, no anúncio do plano Pró-Brasil, um dos principais projetos do governo federal para driblar a crise econômica causada pela pandemia de covid-19.

Tentando recuperar a imagem de um dos principais nomes do seu governo, Bolsonaro disse ontem pela manhã que "um só homem" decide os rumos nessa área: "Ele se chama Paulo Guedes".

Mas driblar a crise pode não ser tão simples. Na noite de ontem, o ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal) autorizou a abertura de um inquérito contra ele após declarações dadas na sexta-feira por Moro.

Diante disso, o presidente pode perder considerável apoio popular. Segundo o Datafolha, cresceu para 46% o número de brasileiros que querem sua renúncia, contra 50% que rejeitam o gesto. Número similar, de 45%, deseja que a Câmara dos Deputados abra um processo de impeachment contra ele, contra 48% que são contra a medida.

No campo dos que contradizem o presidente brasileiros e suas opiniões sobre como combater a pandemia está o diretor-geral da OMS, Tedros Gebreysus, a quem Bolsonaro atacou na semana passada.

Ao ser questionado pelo UOL sobre comentários do presidente brasileiro, o etíope evitou citar o nome do país, mas indicou que as nações que seguiram os conselhos da OMS estão em uma melhor situação hoje, em comparação com aqueles que não escutaram.

Segundo ele, a pandemia está longe de terminar. "Temos um longo caminho diante de nós", lamentou..

O próprio Ministério da Saúde referenda essa projeção e diz que a pandemia atingiria o ápice entre o fim e abril e o início de maio. "Estamos na semana epidemiológica de número 18. O período de maior incidência de vírus respiratórios ocorre em torno da 20ª, 22ª, 27ª semana", afirmou o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, ontem à tarde.

A crise na saúde pública já é visível em diversos estados brasileiros. Capital mais atingida pela pandemia, Manaus registrou no domingo o maior número de enterros em um dia na cidade: 140 sepultamentos de vítimas com diagnóstico confirmado ou com suspeita de covid-19. Desde a semana anterior, a média diária tem ultrapassado 100 enterros.

Outra cena dramática foi registrada no final de semana no Rio de Janeiro, onde pelo menos 15 corpos de vítimas da doença se acumularam nos corredores de um hospital em Duque de Caxias por lotação no necrotério.

Tamanha é a quantidade de mortos pela doença que hospitais da rede municipal do Rio de Janeiro começaram a instalar contêineres refrigerados para aumentar a capacidade de armazenagem de corpos.

Considerando todas as unidades de saúde da rede estadual fluminense, a taxa de ocupação dos leitos de UTI (unidades de terapia intensiva) está em 83%, e o estado já tem fila de pacientes infectados aguardando vagas em leitos de UTI.

Com taxa de ocupação de leitos de UTI de 59,8%, São Paulo já tem quase 8 mil pessoas internadas por suspeita de coronavírus. Ontem, o secretário de saúde do estado, que responde por 40% do total de mortes por covid-19 no país, revelou que, até o momento, não houve qualquer contato do novo ministro da Saúde, Nelson Teich.

"Na última quinta-feira, o consórcio Sul-Sudeste de governadores, protocolou uma solicitação ao ministro para que ele possa fazer uma videoconferência com os governadores e secretários de saúde da Região Sul-Sudeste, a mais afetada pelo coronavírus", afirmou o governador João Doria (PSDB).

Além dessa proposta de conferência, o plenário do Senado aprovou ontem um convite para que Teich, fale sobre as ações da pasta no enfrentamento do coronavírus .

O UOL entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber se o ministro aceitará o convite e aguarda resposta.