Sala Rosa de Hospital 28 de Agosto é a Sala da Morte, diz médica em Manaus
A ginecologista Marcela Sousa encontrou "um cenário de terror" ao entrar na Sala Rosa do Hospital Pronto Socorro 28 de Agosto, onde seu pai idoso estava internado, na última quinta-feira (30). A unidade é uma das principais da rede pública de Manaus, cidade que enfrenta um colapso do sistema de saúde devido à pandemia do novo coronavírus.
A Sala Rosa é o setor do hospital destinado a pacientes suspeitos ou confirmados da covid-19. "O que eu vi foram cenas de terror. Eu acho que tinham lá umas 60 pessoas sofrendo sem atendimento médico. A Sala Rosa é a Sala da Morte", afirmou a médica, em entrevista ao UOL.
"Elas estavam perto umas das outras, num local sem estrutura. E meu pai ali, no meio daquele inferno".
O hospital é administrado pela gestão do governador Wilson Lima (PSC), que enfrenta um processo de impeachment (leia resposta mais abaixo).
Protestos de funcionários
Na segunda-feira (27), profissionais de saúde fizeram um protesto contra as condições de trabalho no hospital. Em vídeo, um enfermeiro afirmou que não há EPIs (equipamentos de proteção individual) para trabalhar no setor da UTI (Unidade de Terapia Intensiva).
Em outra gravação, uma funcionária mostra que o 4º andar do Hospital 28 de Agosto está vazio, apesar da superlotação de pacientes em outros andares da unidade.
Falta gestão, diz médica
"Não quero criticar os colegas profissionais de saúde. O que acontece é falta de gestão, é culpa de quem governa", declara médica.
O 28 de Agosto funciona como parte da rede de apoio ao Hospital Delphina Aziz, a referência de tratamento da covid-19.
"Vi várias pessoas falecendo sem uma gota de dignidade (SEM ASSISTÊNCIA MÉDICA)", escreveu a médica, em um texto divulgado em suas redes sociais.
A médica conseguiu transferir seu pai para o Delphina Aziz, onde ela diz que ele apresentou melhoras e o tratamento sido adequado.
"Eu nunca poderia ficar calada pelo que eu vi. As pessoas precisam saber o que acontece".
O Amazonas é um dos mais atingidos no país pelo coronavírus. Dados do Ministério da Saúde informam que 6.062 casos foram confirmados e 501 pessoas morreram.
Porém o número de mortes por doenças respiratórias e de enterros em Manaus indicam que a subnotificação de óbitos atingiu um nível alarmante.
Em resposta, a Susam (Secretaria de Saúde do Estado) afirmou que "as Salas Rosas no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, assim como nas outras 15 unidades da rede estadual que atendem covid-19, foram instaladas para que os pacientes sintomáticos, ao chegar nessas unidades, não dividam o mesmo espaço com os demais pacientes que buscam outro tipo de assistência."
Ainda de acordo com a nota da Susam "o local tem corpo clínico específico e preparado para fazer a avaliação, estabilização e acompanhamento dos pacientes, antes que estes sigam o fluxo de internação, que pode ser na própria unidade ou transferidos para uma unidade de referência, via Sistema de Regulação inter-hospitalar, como foi o caso do pai da denunciante encaminhado ao Delphina Aziz."
O ministro da Saúde Nelson Teich vai visitar hospitais de Manaus, durante o dia de hoje. O Hospital 28 de Agosto não será um deles.
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