Mortes por covid-19 têm novo patamar, e Teich admite lockdown pontual
O Brasil teve ontem, pelo segundo dia seguido, recorde de mortes registradas em decorrência da covid-19, com 615 vítimas, superando as 600 de ontem e indicando novo patamar de óbitos contabilizados diariamente: na última semana, o incremento era de cerca de 300 mortos ao dia.
O recrudescimento da pandemia no país coincide com endurecimento do discurso do ministro da Saúde. Na contramão do que defende o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), Nelson Teich falou ontem à noite na possibilidade de o governo recomendar lockdown (confinamento) nos lugares onde a transmissão é mais acentuada.
A mudança no discurso do ministro, que se aproxima assim da linha de Luiz Henrique Mandetta (DEM), se dá também após ele ser pressionado por secretários estaduais de saúde, que cobraram de Teich um discurso "unificado" no combate ao coronavírus, conforme revela reportagem desta quinta (7) do UOL.
Vai ter lugar que vamos recomendar o lockdown e vai ter lugar em que existe uma situação que permite tentar alguma coisa Nelson Teich, ministro da saúde
Apesar da ponderação, o fato de Teich admitir o lockdown — tipo de confinamento em que a população só pode sair para usar serviços essenciais, como supermercado, farmácia e médico — contrasta com a defesa do "isolamento inteligente" que o ministro fazia desde sua posse.
Brasil é dos países com mais mortos por covid-19 no mundo
Ao totalizar 8.536 mortes pelo novo coronavírus e 125.096 casos oficiais, o Brasil subiu na lista dos países com mais vítimas da doença.
À frente do Brasil no ranking da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, só estão agora:
- Estados Unidos - 70.802 mortes
- Reino Unido - 30.150 mortes
- Itália - 29.684 mortes
- Espanha - 25.857 mortes
- França - 25.812 mortes
- Brasil - 8.536 mortes
Diante do agravamento do cenário, a Organização Mundial da Saúde ofereceu ajuda aos estados brasileiros, mas precisa do aval do governo Bolsonaro — crítico à entidade.
RJ terá "bloqueio parcial"
Nos estados e municípios, medidas mais restritiva à circulação de pessoa são cada vez mais adotadas para tentar frear o coronavírus.
A cidade do Rio de Janeiro é uma das que está adotando o bloqueio "parcial", depois de municípios do Pará e Ceará terem feito o mesmo ontem. O prefeito carioca, Marcelo Crivella (Republicanos), anunciou que, a partir das 5h, iniciará um bloqueio no Calçadão de Campo Grande, na Zona Oeste.
A Fiocruz, por sua vez, recomenda o lockdown em todo o estado. Em ofício enviado ao Ministério Público do Rio de Janeiro, a entidade recomendou que apenas trabalhadores de serviços essenciais e pessoas que usarão esses serviços circulem pelo estado.
São Paulo ainda não falou de lockdown, apesar de ter ultrapassado hoje os 3.000 mortos, segundo a secretaria de saúde do estado. Com a taxa de isolamento ainda em 47%, o secretário José Henrique Germman diz que população está brincando com a sorte. O governador, João Doria, atribuiu a baixa adesão ao distanciamento a Jair Bolsonaro.
Críticas à conduta do presidente
A maneira como o presidente tem lidado com a pandemia foi motivo de críticas durante duas entrevistas no UOL.
"Quando o presidente diz que se trata apenas de uma 'gripezinha', ele evidentemente não reconhece a realidade e, de certa forma, influencia certos segmentos. Vejo e ouvi de um integrante do Ministério da Saúde que não chegamos ao pico. Que teremos esse pico somente em junho e julho. As pessoas hoje já estão baixando a guarda, já não estão mantendo a cautela que deveriam manter".
Marco Aurélio Mello, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal)
A ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora Marina Silva também repudiou o comportamento de Bolsonaro e citou a resposta do presidente ao ser questionado sobre as mortes em decorrência da covid-19.
"Ele passou de todos os limites. Uma pessoa que depois que tivemos a notícia de mais de 5.000 mortes diz 'e daí?', como presidente da República, é a coisa mais afrontosa que já vi na minha vida", disse.
Ontem, o TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região) determinou que o presidente Jair Bolsonaro divulgue o resultado de seus exames médicos para comprovar que não foi infectado pelo coronavírus, como afirma.
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