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Opas vê Brasil como risco a vizinhos, mas destaca trabalho de governadores

Organização Pan-Americana de Saúde ainda destacou preocupação com covid-19 em povos indígenas - Marijan Murat / dpa / AFP
Organização Pan-Americana de Saúde ainda destacou preocupação com covid-19 em povos indígenas Imagem: Marijan Murat / dpa / AFP

Emanuel Colombari

Do UOL, em São Paulo

12/05/2020 16h13

O número de casos do novo coronavírus no Brasil é uma preocupação, inclusive para outros países. Foi o que explicou hoje a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em entrevista coletiva a respeito da pandemia nas Américas.

Para Marcos Espinal, diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da Opas, é importante que governantes dos níveis federal, estadual e municipal sigam tomando medidas para controlar o número de casos no país. Do contrário, o Brasil pode se tornar um perigo para si e para os países vizinhos.

"Lembremos que nossas fronteiras em muitos países são porosas. Isso implica que os países tomem medidas juntos. A Opas está trabalhando com o Brasil para assegurar que as autoridades recebam as preparações e os conselhos necessários. O Brasil é um país federal, como os EUA, e os governadores nos estados tem o poder de implantar mitigação, entre outras medidas, para assegurar a contenção da epidemia como possível", afirmou Espinal.

Segundo dados da Universidade Johns Hopkins, o Brasil é o país com mais casos do novo coronavírus na América Latina. São 172.243 diagnósticos confirmados (contra 68.822 do Peru, o segundo da lista), com 67.384 pacientes recuperados e 11.980 óbitos.

No âmbito do intercâmbio entre os países latino-americanos, a Opas apontou uma preocupação particular entre os povos indígenas. Em especial a partir dos casos que migram de grandes cidades na região da Amazônia.

"Os países amazônicos, que são vários, estão enfrentando um desafio maior nesta fase da pandemia. Existem, na zona amazônica, cidades grandes. Depois da importação de casos nessas cidades grandes, há um risco alto de ampliação nessas cidades amazônica — Manaus, Letícia (Colômbia), Iquitos (Peru), por exemplo", explicou Sylvain Aldighieri, gerente de incidente da OPAS.

"Nessas cidades, há vários fatores de risco. A pobreza, as comorbidades — diabetes, problemas cardiovasculares — e a densidade humana são importantes. A partir da amplificação nesses focos urbanos, temos uma disseminação por vias fluviais e estradas, incluindo comunidades indígenas, que têm como desafio o acesso a serviços de saúde", acrescentou.

Dados divulgados ontem pelo governo do Amazonas informa que Manaus contava com 7.264 casos diagnosticados da covid-19 até aqui, com 691 óbitos. Para Aldighieri, em áreas de fronteiras, é necessário "um intercâmbio rápido de informações para que o país vizinho possa tomar medidas rápidas". A Opas ainda sugeriu o contato com grupos indígenas para ajudar na tomada de decisões e para garantir o acesso à saúde e o isolamento contra o vírus.

Ainda na entrevista coletiva, a Opas reforçou sua defesa por investimentos constantes e crescentes em saúde pública. Contra a desigualdade da América Latina, Marcos Espinal afirmou que "a mensagem principal é que os países precisam continuar investindo em saúde, contínua e crescentemente, se quisermos chegar à saúde universal".

No caso do Brasil, o diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da Opas lembrou os trabalhos feitos também por governadores e prefeitos no combate ao novo coronavírus.

"Como disse antes, o Brasil é um país muito grande, com um vasto território. Cada estado tem também sua própria autoridade. São três níveis de governo — federal, estadual e municipal. Vimos que os estados estão tomando medidas para afrontar os casos no Brasil ao mesmo tempo. Existe um risco: Rio de Janeiro, como exemplo, ou Manaus são hotspots, lugares que necessitam uma atenção especial, distanciamento, exames", disse, lembrando as questões sociais brasileiras como um obstáculo a mais no combate à covid-19.

"O Brasil tem uma grande população em nível de pobreza, em favelas, que não tem espaço. É muito importante darmos atenção a isso. Uma das razões pelas quais estamos observando picos na América Latina é que o vírus está em lugares onde vive gente do mais baixo nível econômico, na pobreza. As desigualdades na América Latina, não só no Brasil, são muito amplas. Não baixemos a guarda. Os governadores no Brasil, vimos que estão tomando medidas. As medidas devem ser ampliadas e reforçadas — é um país grande, onde nem tudo é igual ao mesmo tempo."

Saúde e economia

Em pronunciamento inicial, a diretora da Opas e diretora Regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) para as Américas, Carissa F. Etienne, colocou cidades como Rio de Janeiro e Lima (Peru) como grandes centros sobrecarregados. Além disso, destacou que a necessidade de soluções conjuntas para buscar soluções para três emergências ao mesmo tempo: social, econômica e de saúde.

"Os países estão percebendo que devemos trabalhar juntos para reforçar investimentos farmacêuticos e médicos. Também precisamos explorar investimentos regionais para reduzir nossa dependência de importações", disse Carissa. "A covid-19 nos lembra que, quando investimos em saúde, mantemos nosso povo saudável e a economia forte."

Enquanto os países latino-americanos enfrentam a pandemia e a reabertura de atividades econômicas, a Opas pede atenção a alguns fatores, como a disponibilidade de leitos hospitalares e o controle de taxas de contágio.

"Essa é uma inquietação de muitos países da América Latina. Temos um mosaico de situações sobre a covid-19 sobre as distintas partes do mundo. As notícias de um determinado país, em outros países, as pessoas creem que estamos todos na mesma situação. Isso não é verdade", disse Jarbas Barbosa, vice-diretor da Opas.

"Em quase todos os países da região, nas últimas duas semanas, tivemos um crescimento importante de casos, que nos dizem que a transmissão comunitária é forte. Quais são as recomendações? Primeiro, que se tenha controlado a transmissão", acrescentou.

Questionada ainda sobre a transmissão comunitária, a Opas afirmou não ter previsão de até quando ela acontecerá. "Não temos, neste momento, modelo que nos diga quando terminará a transmissão comunitária", disse Sylvain Aldighieri, gerente de incidente da Opas. "O modelo, outra vez, é um assunto, um aspecto importante para o planejamento de serviços, não é um aspecto mágico que nos permita dar datas exatas."

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