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Linha de trem separa comércio aberto e fechado em bairro com bloqueio no RJ

13.mai.2020 - Cliente é atendido em loja que desrespeita regras de isolamento em Santa Cruz, na zona oeste do Rio - Igor Mello/ UOL
13.mai.2020 - Cliente é atendido em loja que desrespeita regras de isolamento em Santa Cruz, na zona oeste do Rio Imagem: Igor Mello/ UOL

Igor Mello

Do UOL, no Rio

14/05/2020 04h00

O reforço de fiscalização das regras de isolamento social só funciona em um pequeno trecho do bairro de Santa Cruz, um dos mais afetados pelo coronavírus, na zona oeste do Rio. Enquanto bloqueios montados pela Guarda Municipal surtiram efeito na principal rua de comércio do bairro, basta atravessar a linha férrea que corta o subúrbio carioca para que a regra seja o descumprimento das medidas de isolamento social.

O UOL esteve ontem (13) no bairro acompanhando o segundo dia de funcionamento de um bloqueio nos arredores da rua Felipe Cardoso, principal ponto comercial do bairro. De acordo com dados da SMS (Secretaria Municipal de Saúde), nesta terça-feira, Santa Cruz já tinha 33 mortes confirmadas por covid-19, doença causada pelo novo coronavírus —sendo um dos epicentros da pandemia na cidade.

A via é perpendicular à linha férrea, começando bem em frente à estação de trens de Santa Cruz. Por volta das 11h, todos os comércios não essenciais dentro do perímetro bloqueado haviam fechado as portas. Isso, porém, não evitou aglomerações, já que muitas pessoas estavam concentradas em frente de duas agências bancárias.

13.mai.2020 - Agências bancárias provocam aglomeração em área comercial de Santa Cruz, na zona oeste do Rio - Igor Mello/ UOL - Igor Mello/ UOL
Agências bancárias provocam aglomeração em área comercial de Santa Cruz, na zona oeste do Rio
Imagem: Igor Mello/ UOL

Um cenário bem diferente era encontrado a poucos metros da área bloqueada. Na própria estação de trem, uma loja de acessórios para celulares estava aberta apesar das normas estaduais e municipais proibirem o funcionamento desse tipo de comércio. Mesmo em corredores viários centrais no bairro —como as ruas Senador Camará e do Prado, que também desembocam na estação— lojas e prestadoras de serviço (como barbearias e clínicas estéticas) funcionavam.

Parte delas adotou a estratégia de manter as portas parcialmente fechadas para enganar a fiscalização. Outras já desrespeitavam as normas ostensivamente, sem se preocupar com eventuais punições.

13.mai.2020 - Loja aberta contrariando as normas de isolamento em Santa Cruz, na zona oeste do Rio - Igor Mello/ UOL - Igor Mello/ UOL
Loja aberta contrariando as normas de isolamento em Santa Cruz, na zona oeste do Rio
Imagem: Igor Mello/ UOL

A situação era a mesma inclusive no entorno do Hospital Municipal Pedro 2º. Principal pronto-socorro da região, a unidade de saúde recebe um fluxo constante de pessoas com suspeita de ter contraído o novo coronavírus, além de parentes em busca de informações sobre pacientes internados.

A poucos metros do hospital, estavam abertos diversos estabelecimentos, como barbearia, duas gráficas e uma loja de esquadrias de alumínio, entre outras. Funcionavam sem serem incomodadas por uma viatura da Guarda Municipal baseada nas imediações do hospital.

O UOL pediu esclarecimentos à prefeitura por conta do descumprimento generalizado das normas de isolamento no bairro, mas não obteve resposta até o momento.

O estado do Rio de Janeiro passou da marca de 2.000 mortes pelo novo coronavírus e está perto de chegar aos 19 mil casos confirmados. A capital é a cidade fluminense com mais mortes e casos da covid-19: 1.363 mortes e 11.026 casos.

Bloqueios atingem outros 11 bairros

Além de Santa Cruz, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) anunciou bloqueios em áreas comerciais de outros 11 bairros.

Foram abrangidos pela medida também as regiões centrais dos bairros de Freguesia, Taquara, Realengo e Guaratiba, na zona oeste, e Tijuca (Praça Saens Peña), Grajaú (Praça Verdun), Madureira (Calçadão), Pavuna e Méier (Rua Dias da Cruz), na zona norte. As medidas têm validade de sete dias. Anteriormente, os calçadões de Campo Grande e Bangu, na zona oeste, já haviam sido bloqueados.

Nesta terça-feira (12), primeiro dia com as novas determinações em vigor, o UOL esteve no Méier, na Tijuca, no Grajaú e em Realengo. A reportagem constatou que pouco do que havia sido prometido saiu do papel.

No Méier, as aglomerações no comércio e o grande fluxo de pessoas seguiu sem alterações na rua Dias da Cruz, a principal do bairro. Já na Tijuca, apenas dois agentes da Guarda Municipal estavam na Praça Saens Peña, onde mais de 20 ambulantes vendiam mercadorias no local. Realengo nem havia recebido equipes da Guarda Municipal até então.

A prefeitura justificou os problemas em nota, afirmando que no primeiro dia havia implantado as medidas apenas no Grajaú, em Madureira e em Santa Cruz.