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Preços das vacinas contra a covid-19 no Brasil ainda não estão definidos

Laboratório do Instituto Butantan, em São Paulo. Vacina de origem chinesa, em fase de testes no estado, foi mais uma vez rechaçada por Bolsonaro, que contradisse seu próprio ministro da saúde - Divulgação/Governo do Estado de São Paulo
Laboratório do Instituto Butantan, em São Paulo. Vacina de origem chinesa, em fase de testes no estado, foi mais uma vez rechaçada por Bolsonaro, que contradisse seu próprio ministro da saúde Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo

Lucas Borges Teixeira

Do UOL, em São Paulo

21/10/2020 21h03

Centro da mais nova polêmica do governo Jair Bolsonaro (sem partido), as vacinas contra a covid-19 testadas no Brasil ainda não têm preço definido. O valor de US$ 10 oferecido pelo Ministério da Saúde em ofício enviado ao Instituto Butantan, no entanto, não desvia das previsões internacionais.

Hoje, o presidente desautorizou publicamente seu ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, após o anúncio de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Entre as justificativas dadas por Bolsonaro para a rejeição foi o " bilionário aporte financeiro num medicamento que sequer ultrapassou sua fase de testagem".

Em ofício enviado ao Instituto Butantan que mostra a intenção de comprar a CoronaVac, o Ministério da Saúde estimou o preço da dose em US$ 10,30 (cerca de R$ 56,60) — são necessárias duas doses, com intervalo de 14 dias. Esse valor é condizente com o preço estimado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) em seu consórcio para vacinar países pobres.

No Brasil, no entanto, o preço ainda não foi definido pelas fabricantes. Em acordo anunciado no final de setembro, o governo paulista adquiriu 60 milhões de doses, que serão entregues em duas levas, por US$ 90 milhões (cerca de R$ 505 milhões). Isso indica US$ 1,5 (R$ 8,25) por dose, quase sete vezes a menos do que o proposto pelo ministério.

Essa diferença se dá pelo tipo de acordo. O Instituto Butantan ressaltou que o negócio entre o governo paulista e a Sinovac é um acordo de cooperação que inclui transferência de tecnologia, não apenas uma compra — o que impacta diretamente no preço.

Da mesma forma, o governo federal editou uma medida provisória em agosto que liberou R$ 1,8 bilhão para um acordo com a AstraZeneca, que produz uma vacina junto à Universidade de Oxford, que incluía "transferência de tecnologia e produção de 100 milhões de vacinas" pela Fiocruz. Neste caso, prevê-se a aplicação de apenas uma dose por pessoa.

Em setembro, o governador baiano Rui Costa (PT) anunciou a compra de 50 milhões de doses da vacina Sputnik V, desenvolvida pela Rússia, sem divulgar valores. A imunização, neste caso, também requer duas doses por pessoa. Os lotes deveriam chegar em novembro e precisam ser aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

A reportagem procurou a Secretaria de Saúde da Bahia para saber o valor pago pelas doses, mas não teve resposta até o fechamento da matéria.

As outras vacinas testadas no Brasil também não especificaram seus valores. Procurada pelo UOL, a Pfizer, que produz uma vacina junto à BioNTech, afirmou que o preço ainda não foi definido. A Janssen, que está com os testes em pausa, também disse estar definindo os próximos passos, sem ter estimativa de preços.

O UOL tentou entrar em contato ainda com a AstraZeneca, mas não teve sucesso até o fechamento da matéria.

Internacionalmente, os valores almejados pelos governos variam. Segundo matéria da revista Veja, a dose da AstraZeneca nos Estados Unidos custará cerca de US$ 4 (R$ 22) ao passo que, segundo o jornal britânico Daily Mail, ela custará 2,20 libras (R$ 16) na Europa.