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Jamil Chade

OMS prevê vacina a US$ 10 a dose; Brasil gastaria R$ 4 bi com vulneráveis

Diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durate entrevista coletiva em Genebra -
Diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durate entrevista coletiva em Genebra

Colunista do UOL

24/08/2020 10h45Atualizada em 24/08/2020 17h32

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Resumo da notícia

  • Valor faz parte de previsão da aliança mundial criada para garantir acesso à vacina
  • Brasil terá de se comprometer a pagar 15% do valor em setembro, se quiser fazer parte do projeto
  • Consórcio prevê 2 bilhões de doses até o final de 2021.
  • Meta inicial é a de vacinas 20% da população, incluindo profissionais de saúde, idosos e pessoas com doenças crônicas

O consórcio mundial criado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) para garantir a vacinação contra a covid-19 negocia levar o produto aos países por um preço médio de US$ 10 por dose, cerca de R$ 55. O valor é significativamente mais baixo do que empresas de ponta anunciaram nos últimos meses. A estimativa é de que uma imunização exigirá duas doses da vacina.

Cerca de 90 países mais pobres do mundo receberiam gratuitamente o produto. Mas o Brasil não faz parte desse pacote, já que é considerado como uma economia de renda média. Assim, o governo terá de pagar para ter acesso à vacina.

Depois de um período de hesitação, o Brasil já indicou que está disposto a fazer parte da aliança. Mas, neste momento, negocia os termos de seu compromisso, que precisa estar fechado até dia 31 de agosto. O governo tem até o dia 18 de setembro para indicar o valor que está disposto a destinar para a aliança e os primeiros pagamentos devem ocorrer a partir de 9 de outubro.

A vantagem da aliança é sua capacidade de negociar um desconto importante com empresas, já que oferece em troca uma garantia de compras de bilhões de doses.

Mas, para o Brasil, isso envolve ainda avaliar se acordos bilaterais seriam mais vantajosos e, caso opte por entrar no pacote mundial, quanto estaria disposto a investir.

A proposta da aliança é de que, até outubro, governos destinem 15% do valor que vão se comprometer.

Países podem integrar consórcio da OMS e também negociar direto com empresas

Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, saiu em defesa do projeto. Segundo ele, 172 países já declararam interesse e destaca que o consórcio é hoje a plataforma com maior portfólio de potenciais vacinas. São nove produtos já confirmados, quatro empresas em negociação e mais nove candidatas sendo avaliadas.

"Esse mecanismo é que vai permitir uma vacinação global. É de interesse de todos, inclusive daqueles que fecharam acordos bilaterais", afirmou.

Ao incluir várias opções de produtos, o mecanismo permitirá que o risco de se investir numa vacina seja diluído, assim como garantirá um preço mais baixo.

Numa primeira fase, as vacinas que saiam do consórcio irão para trabalhadores do setor de saúde, pessoas com doenças e idosos. Isso significaria 20% em média da população dos países.

Primeira fase de vacinação no Brasil poderia custar R$ 4,4 bilhões

No caso do Brasil, isso envolveria cerca de 40 milhões de pessoas. Se o governo optar por esse caminho, terá de considerar cerca de US$ 20 para imunizar cada pessoa com as duas doses.

Um total, portanto, de US$ 800 milhões seriam necessários para vacinar apenas essa parte mais vulnerável da população brasileira, (cerca de R$ 4,4 bilhões).

Num segunda fase, a distribuição dependerá de como está a situação de cada país. Até o final de 2021, o plano é de distribuir 2 bilhões de doses.

Ainda que o valor continue sendo elevado, fontes na OMS indicam que o custo é bem inferior a alguns dos acordos sendo fechados entre governos e empresas. A norte-americana Moderna Inc., por exemplo, estaria projetando um preço entre US$ 32 e US$ 37 por dose.

Tedros lembra que, se governos fizeram injeções de US$ 12 trilhões na economia mundial, será o financiamento da aliança que garantirá resultados reais.

Consórcio coloca regras para país que negociar "por fora"

Documentos enviados aos governos neste fim de semana estipulam duas opções aos países. Na primeira deles, governos precisariam se comprometer a comprar um certo volume da vacina por um determinado preço, seja qual for a fabricante.

Mas, pela primeira vez, há uma opção de uma flexibilidade. Para países que já fecharam um acordo bilateral com uma empresa, haveria a possibilidade de que o governo em questão opte por não entrar na primeira distribuição da aliança caso a vacina oferecida seja exatamente da mesma companhia.

O país então apenas entraria na distribuição numa segunda leva de vacinas, produzida por um outra companhia. Mas, neste caso, seria o último a receber.

Esse poderia ser o caso do Brasil. O governo fechou um acordo comercial com a AstraZeneca, que também faz parte do consórcio. Se essa for a primeira vacina a chegar ao mercado, o Brasil poderia ser obrigado a pagar duas vezes. Uma por conta de seu acordo bilateral e outra por fazer parte da aliança mundial.

Como há essa flexibilidade agora, o governo poderia optar por sair dessa distribuição. Mas, em compensação, ficaria no final da fila numa distribuição seguinte.

Por enquanto, fazem parte do consórcio os seguintes projetos: Inovio, Moderna, Novavax, CureVac, Institut Pasteur/Merck/Themis, AstraZeneca/Universidade de Oxford, Universidade de Hong Kong, Clover Biopharmaceuticals, (China) e a Universidade de Queensland (Australia).

ERRATA: a primeira versão do título da reportagem citava o valor de US$ 4 bilhões (dólares) para vacinar a parcela vulnerável da população brasileira, quando o valor correto é de R$ 4 bilhões (reais)