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Anvisa autoriza importação de matéria-prima pelo Butantan para a CoronaVac

Foto ilustrativa da CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan - Cadu Rolim/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Foto ilustrativa da CoronaVac, desenvolvida pela chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan Imagem: Cadu Rolim/Fotoarena/Estadão Conteúdo

Carla Araújo e Rafael Bragança

Do UOL, em Brasília e em São Paulo

28/10/2020 18h03Atualizada em 28/10/2020 19h43

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou hoje que autorizou a importação de matéria-prima para o início da produção local da CoronaVac, a vacina contra a covid-19 desenvolvida e testada pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac.

O pedido havia sido feito em 23 de setembro pelo Butantan, que tem a previsão de usar os insumos vindos da China para produzir 40 milhões de doses em sua fábrica em São Paulo. A instituição acredita ser possível que as doses estejam à disposição até dezembro.

Além disso, já foi liberada a importação de 6 milhões de doses produzidas pela Sinovac, que devem chegar a São Paulo na próxima semana.

Em nota, a Anvisa confirmou que concedeu a liberação dos insumos em "caráter excepcional". A decisão foi tomada no Circuito Deliberativo da agência, que permite a votação virtual dos diretores sobre temas de grande relevância. O grupo se reuniu ontem e hoje.

A Anvisa também fez questão de esclarecer que a CoronaVac ainda não tem registro no Brasil. "Os estudos ainda estão em andamento e não existe previsão de data para a vacinação", informa a nota.

Testes antes do registro

A CoronaVac está na última fase de testes (chamada de fase 3), em que são feitos testes massivos em voluntários. O relatório final deve incluir 61 voluntários infectados pelo vírus. Estas pessoas são avaliadas para saber se eles tomaram a vacina ou placebo, permitindo que seja medida a eficácia o imunizante.

O controle é feito por um órgão internacional e somente esta entidade tem conhecimento se a dose aplicada é de placebo ou imunizante. Se o imunizante atingir os índices necessários de eficácia e segurança, será submetido a uma avaliação da Anvisa para registro e só então a vacina estaria liberada para aplicação na população.

Cobranças públicas

Na última semana, o Instituto Butatan, que é ligado ao governo estadual, fez cobranças públicas pela liberação da importação. A Anvisa havia respondido dizendo que havia "discrepâncias" no pedido de importação.

Dimas Covas, diretor geral da instituição, cobrou a Anvisa hoje, mais cedo, afirmando que a demora estava atrasando o cronograma de produção da CoronaVac. De acordo com o Butantan, a fábrica, em São Paulo, tem capacidade para produzir 1 milhão de doses por dia.

No início da noite, nas redes sociais, o governador João Doria (PSDB) agradeceu a Anvisa pela liberação da importação dos insumos. "Desta forma, poderemos produzir a CoronaVac aqui em São Paulo, no Instituto Butantan, que há 120 anos presta serviços ao país e produz vacinas para os brasileiros", diz a publicação.

Confiança no Butantan

Logo após a divulgação da autorização, o diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, demonstrou confiança de que o Butantan possa atender os requisitos feitos pela agência, assim como disse acreditar na competência da instituição paulista para lidar com um material que requer segurança redobrada.

"Vacinas já prontas foram autorizadas e agora estamos autorizando a vinda para o Brasil de matéria-prima, que, é claro, terá todo o atestado de segurança do manuseio deste material assumido pelo próprio Instituto Butantan, que tem condições para isso para que possa ter início os ajustes da fase de produção", disse Barra Torres em entrevista à CNN Brasil.

"Claro que temos que lembrar que estamos lidando com o material, no caso o vírus inativado, mas é um material biológico que precisa ter um controle muito bem feito e rigoroso. E com certeza não terá maiores dificuldades para que o Instituto [Butantan] proceda dessa maneira", completou o diretor da Anvisa.

Barra Torres disse que as exigências feitas pela agência, "em linhas gerais, são detalhes que falam da segurança, do transporte, do acondicionamento desse material, do seu manuseio, das condições que tem de haver para que ele fique em perfeitas condições".

Impasse sobre distribuição

Enquanto a produção local da CoronaVac deu mais um passo à frente, a distribuição do imunizante contra a covid-19 ainda permanece sob incertezas. Na última semana, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, chegou a anunciar um compromisso de compra das primeiras 46 milhões de doses da vacina, mas foi desautorizando no dia seguinte pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que mandou cancelar a compra.

Em coletiva, hoje, o governador João Doria afirmou que caso o governo federal não decida pela inclusão da CoronaVac no PNI (Programa Nacional de Imunizações) —o que significaria sua distribuição pelo SUS (Sistema Único de Saúde) em todo o país— o governo paulista pagará pelas 46 milhões de doses, fará uma campanha de vacinação estadual e poderá fornecer o imunizante para outros estados.