Covid: Hospitais de São Paulo têm dados imprecisos sobre ocupação de leitos
Em meio a uma possível segunda onda de covid-19 na cidade de São Paulo, os hospitais da cidade têm divulgado dados imprecisos sobre os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) disponíveis para ocupação e os já ocupados.
O UOL buscou levantar quantos leitos de UTI a cidade tem no total, contando os hospitais municipais, os leitos contratados pelo município em hospitais particulares, os dos hospitais privados e dos hospitais estaduais localizados dentro do município. As informações não são centralizadas. A própria Secretaria Municipal de Saúde não tem os dados totais de leitos.
Reportagens publicadas ao longo das últimas semanas mostraram o aumento nas internações na cidade de São Paulo. Primeiro, começou com os hospitais particulares —que inicialmente foi negado pelo governo estadual e depois confirmado— e logo migrou para a rede pública. A gestão Bruno Covas, que disputa neste momento o segundo turno das eleições, nega que o crescimento seja preocupante. O prefeito já tachou, inclusive, essas preocupações como "fake news".
Vamos enfrentar isso sem criar expectativas de que o problema foi resolvido e sem criar qualquer tipo de fake news de que há uma segunda onda sendo escondida pela prefeitura Bruno Covas durante entrevista ao Roda Viva
Entre os motivos que a gestão aponta para o aumento das ocupações estão: redução do isolamento social, frequência em festas, bares e restaurantes pelas classes A e B e residentes de outros municípios buscando os hospitais da capital.
O secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, também atribui o aumento da ocupação na rede privada à diminuição da oferta desses leitos desde o pico da pandemia. Segundo ele, na rede pública, a situação é de estabilidade.
Os leitos privados eram 1.746. Hoje, são 975. Eles diminuíram 50%. Por causa da baixa demanda, eles foram sendo readequados para voltarem a fazer internações de cirurgias eletivas.
Edson Aparecido em entrevista ao UOL
Mesmo com a suposta sensação de estabilidade, a prefeitura está abrindo mais 200 novos leitos de enfermaria —que atendem casos menos graves— para covid-19.
Também foram criados novos leitos de UTI nos hospitais da Brasilândia (188), Bela Vista (50), Guarapiranga (140), Parelheiros (206) e Sorocabana (6), segundo boletim da secretaria municipal.
O boletim diário divulgado pela prefeitura informa os dados de leitos UTI covid dos hospitais municipais e contratualizados. Os dados sobre a rede privada foram dados em coletiva de imprensa na semana passada e dos hospitais estaduais precisam ser levantados um a um pelo DataSus do Ministério da Saúde.
Segundo um outro boletim enviado pelo secretário Edson Aparecido, o número total de leitos covid na rede privada (contando enfermaria e UTI) é de 3.533, com uma taxa de ocupação de 66%. Nos estaduais, esse número é de 1.341, com uma taxa de 69% até quarta-feira (25).
Segundo o secretário, esse aumento na rede privada é devido à procura de pessoas não residentes no município. Porém, de acordo com dados levantados pela própria prefeitura, os não residentes internados atualmente correspondem a 20% das internações. É o maior percentual contabilizado por mês desde o início da pandemia — com a ressalva de o que mês ainda não terminou.
Até o dia 17 de novembro, 2.899 pessoas estavam internadas na rede privada em São Paulo. Dessas, 2.320 eram residentes e 579 não eram residentes na cidade. Quando questionado se o percentual não era baixo para ser o causador de uma ocupação tão expressiva, o secretário não respondeu.
Prefeitura nega segunda onda
Na esteira das eleições municipais —e da campanha do atual prefeito Bruno Covas à reeleição—, a Prefeitura de São Paulo nega a existência de uma segunda onda —ou repique da primeira onda— de covid-19 na cidade.
Não há nenhum indício nos dados públicos de qualquer segunda onda, é mais uma notícia produzida às vésperas das eleições para deixar as pessoas com medo, como se aqui a gente tivesse qualquer prazer particular em relação à quarentena.
Bruno Covas em entrevista ao UOL.
Covas endossa o argumento de seu secretário e diz que grande parte dessas novas hospitalizações é de pessoas de fora da capital paulista, definida por ele como "uma cidade acolhedora e referência no tratamento da área da Saúde".
Já o governo de São Paulo decidiu adiar a reclassificação que estava programada para o dia 16 de novembro do Plano SP, o conjunto de medidas restritivas adotadas para controlar a pandemia no estado. João Doria prometeu uma nova atualização para 30 de novembro, um dia após a eleição municipal, mesmo com recomendações de seu Centro de Contingência para que as restrições fossem feitas antes.
Os dados mostram que a média de casos e de mortes têm crescido na cidade, no estado e no país como um todo, ligando um alerta. O gráfico abaixo mostra pequenos repiques de casos em novembro e um aumento agora semelhante aos meses de setembro e outubro.
A média móvel de casos e mortes é a melhor forma de observar o crescimento da pandemia em uma região, segundo especialistas. Com ela, se faz a média dos últimos sete dias de dados e compara com o mesmo período de 14 dias atrás —tempo no qual a doença pode demorar para se manifestar.
Covas questiona checagem do UOL sobre queda em mortes
Durante o último debate do primeiro turno na TV Cultura, o atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas, refutou o aumento de casos e mortes de covid-19 na cidade dizendo que a média de mortes está em queda na capital "há 24 semanas".
A reportagem checou a informação e classificou como falsa, pois identificou momentos de repique na média de mortes de maio até o momento. A prefeitura questionou a checagem, classificando como errada.
"O UOL errou ao colocar um selo FAKE na declaração do prefeito Bruno Covas sobre a cidade de São Paulo estar na 24ª semana consecutiva de redução de óbitos. A cidade vive a menor taxa de mortes por covid-19 desde março, com média de 24,71 óbitos diários (média móvel de sete dias). No pico da pandemia na cidade, em maio, foi registrada média diária de 119 mortes", disse a secretaria por meio de nota.
A análise da média móvel de mortes, no entanto, mostra os momentos de repique e aponta que a cidade está em aceleração desde o dia 14 de novembro e apenas no dia 27 os números apresentaram queda novamente. Já nos últimos debates e entrevistas, o prefeito optou por dizer que há "estabilidade" da doença na cidade, um termo que o UOL Confere também classificou como falso.
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