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Gabbardo: Bolsonaro pode aprender com Israel, sem perder tempo com spray

Caroliina Marins, Douglas Porto, Thaís Augusto e Felipe Oliveira

Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em São Paulo

04/03/2021 16h05Atualizada em 04/03/2021 16h41

João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo, criticou hoje uma fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que afirmou que vai enviar uma equipe a Israel para conhecer o spray nasal EXO-CD24, medicamento que começou a ser testado contra a covid-19 apenas recentemente naquele país e ainda não tem dados de eficácia publicados.

"É incompreensível mandar um grupo de pessoas para Israel. Eles deveriam ir para ver o que fizeram na vacinação e para trazer coisas positivas. Israel está vacinando todo mundo, o número de internações caiu abruptamente e o número de óbitos também. Aí eles vão lá para olhar uma coisa que está em avaliação e não passou nem pela fase 1, 2 ou 3? Vão perder tempo com isso. Não tem sentido", criticou Gabbardo.

Ir para Israel buscar uma alternativa mágica? É um movimento totalmente equivocado do governo.
João Gabbardo, coordenador-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo

A declaração foi dada no UOL Entrevista, conduzido pelas colunistas do UOL Carla Araújo e Maria Carolina Trevisan.

Gabbardo ainda ressaltou que o spray está sendo testado em casos graves da covid-19. "De novo nós vamos deixar a população ficar doente para ir para hospitais?"

Anteontem, Bolsonaro ainda comentou que "está tudo acertado, mas não quer dizer que vai acontecer", para que seja dada a entrada da documentação do remédio em teste na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para que a fase 3 do estudo seja feita no Brasil.

O que é o spray?

Visto como a "nova cloroquina" de Bolsonaro — numa referência ao medicamento já descartado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para o combate ao coronavírus, o spray ficou conhecido após estudiosos do Centro Hospitalar de Tel Aviv informarem que o fármacco foi aprovado nos primeiros testes executados. Trata-se, porém, de um estudo preliminar em fase de sondagem da aplicação à doença, sem compará-lo a um placebo, por exemplo.

Por se tratar de um experimento, também não foram especificadas as idades dos voluntários nem seus agravos de saúde. Segundo a base internacional Clinical Trials, a primeira fase dos testes começou em setembro e será concluída ao fim deste mês.

Na semana passada, o responsável israelense pelo desenvolvimento do novo produto, Nadir Arber, do Hospital Ichilov de Israel, afirmou ao colunista do UOL Jamil Chade, que o medicamento não está pronto para uso e precisa de novos testes.

Segundo a diretora da Sociedade Infectologia do Distrito Federal, Lívia Vanessa, "não há comprovação científica de imunização advinda desse spray nasal, ou mesmo tratamento para infecção por SARS-CoV2".

"São necessários ensaios clínicos randomizados, controlados, duplo-cegos para determinar a eficácia e não apenas relatos de casos isolados", afirmou. A médica disse ainda que estudos de eficácia in vitro e testagens em animais não são suficientes para validar o tratamento em humanos.

Ao UOL a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) informou, por meio de sua assessoria, que ainda não há "nenhum pedido de análise de uso ou anuência de estudo clínico dessa medicação" — no mês passado, Bolsonaro usou as redes sociais para anunciar que enviará à agência um pedido de liberação emergencial do medicamento e fez uma live pelo Facebook defendendo o fármaco.