Mandetta, Teich, Pazuello e Queiroga: os 4 ministros da Saúde da pandemia
Com a nomeação de Marcelo Queiroga, o Brasil chegou hoje ao seu quarto ministro da Saúde desde o início da pandemia. O médico cardiologista vai substituir o general Eduardo Pazuello, o mais longevo no cargo, que vinha sendo criticado por sua subserviência ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e sua condução da política sanitária contra a covid-19 — em especial, no que diz respeito às vacinas.
Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, os dois primeiros ministros da gestão Bolsonaro, deixaram o cargo por discordarem da maneira com que o presidente queria atuar na pandemia. Já Pazuello foi substituído não por vontade de Bolsonaro, mas por pressão de parlamentares do centrão, segundo apurado pelo UOL.
Queiroga era a segunda opção do presidente. Sua colega de profissão, a médica cardiologista Ludhmila Hajjar, foi a primeira a se reunir com Bolsonaro e ser convidada para o cargo, mas recusou por ter "divergências técnicas" com o governo. Assim como Queiroga, ela reforça a importâncida das medidas de isolamento social e é contra o "tratamento precoce" contra a covid-19, defendido muitas vezes pelo presidente.
Relembre quem foram os três primeiros ministros da Saúde e conheça Marcelo Queiroga:
Luiz Henrique Mandetta
Profissão: médico ortopedista
Período como ministro: de 1º de janeiro de 2019 a 16 de abril de 2020
Como foi a gestão: Mandetta era um defensor das medidas de isolamento social e sempre recomendou que a população seguisse as orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Motivo da saída: O protagonismo que Mandetta ganhou ao liderar o combate ao coronavírus incomodou Bolsonaro. Em dado momento, a aprovação do Ministério da Saúde sob seu comando foi maior que a do presidente, segundo pesquisa Datafolha feita à época. Além disso, o apoio público de Bolsonaro ao uso da cloroquina no tratamento da covid-19, mesmo não havendo comprovação de sua eficácia, também foi motivo de discordância entre os dois.
Nelson Teich
Profissão: médico oncologista
Período como ministro: 16 de abril de 2020 a 15 de maio de 2020
Como foi a gestão: Tendo permanecido no cargo por pouco menos de um mês, Teich pouco pôde fazer como ministro da Saúde. Assim como Mandetta, ele defendia o isolamento social e chegou a propor lockdown (confinamento total) para cidades com maior taxa de transmissão do coronavírus.
Motivo da saída: Teich vinha sendo cobrado por Bolsonaro para mudar o protocolo do Ministério da Saúde para o tratamento da covid-19. O presidente defendia a recomendação para o uso da cloroquina, enquanto o então ministro não considerava o medicamento uma solução. Além disso, Teich estava isolado, não tendo sido sequer consultado quando o governo federal editou um decreto que ampliava as atividades consideradas essenciais para incluir academias e salões de beleza.
Eduardo Pazuello
Profissão: general da ativa do Exército
Período como ministro: 15 de maio de 2020 a 15 de março de 2021
Como foi a gestão: Foi sob o comando de Pazuello que o Ministério da Saúde lançou o protocolo de tratamento da covid-19 que recomenda a utilização da cloroquina, como queria Bolsonaro. O ministro foi bastante criticado principalmente por sua subserviência ao presidente — "um manda, outro obedece", como chegou a dizer em uma live — e pela demora na negociação com laboratórios por vacinas contra a covid-19.
Adicionalmente, Pazuello passou a ser investigado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por suposta omissão na crise sanitária do Amazonas, onde pacientes morreram asfixiados por falta de cilindros de oxigênio medicinal.
Motivo da saída: Com o Brasil batendo consecutivos recordes de mortes por covid-19 e a vacinação ainda em ritmo muito lento, a relação entre Bolsonaro e Pazuello foi exposta às críticas dos aliados do governo, e a saída do ministro ganhou força no último fim de semana. Segundo apurado pelo UOL, o presidente não queria fazer a troca, mas vinha sendo pressionado por parlamentares do centrão.
Quem é Marcelo Queiroga
Atual presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, Marcelo Queiroga é graduado em Medicina pela UFPB (Universidade Federal da Paraíba), especialista em cardiologia, e doutorando em Bioética pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, em Portugal.
Hoje, ele dirige o departamento de hemodinâmica e cardiologia intervencionista (Cardiocenter) do Hospital Alberto Urquiza Wanderley (Unimed João Pessoa) e é médico cardiologista intervencionista no Hospital Metropolitano Dom José Maria Pires, também na Paraíba.
Assim como Ludhmila Hajjar, recebida ontem pelo presidente, Queiroga defende o isolamento social como forma de combate à pandemia. Ele também já se posicionou contrário ao "tratamento precoce" defendido por Bolsonaro à base de cloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz contra a covid-19.
De perfil técnico, Queiroga atuou na equipe de transição do governo de Michel Temer (MDB) para Bolsonaro no fim de 2018. Em setembro do ano passado, encontrou-se com o presidente no Planalto e chegou a publicar uma foto com ele.
"Doenças cardiovasculares lideram todas as estatísticas de mortalidade no Brasil e no mundo. O presidente Jair Bolsonaro tem atenção especial a esse cenário. Em audiência no Palácio do Planalto, tratei com o presidente sobre as ações da Sociedade Brasileira de Cardiologia no enfrentamento às doenças do coração", escreveu à época.
(Com Estadão Conteúdo e Reuters)
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