Após 3 meses, Brasil vacinou contra covid só um terço do grupo prioritário
Resumo da notícia
- Expectativa do governo era imunizar os grupos preferenciais até o fim deste semestre
- Falta de doses, atrasos de insumos e inclusão de novas categorias prioritárias frustram projeção
- No curto e médio prazo, o governo não se preocupou em ter vacinas, diz infectologista
- Nesta semana, ministro da Saúde afirmou não ter "condição de estabelecer prazos"
O Brasil completa três meses do começo da vacinação contra a covid-19 ainda longe de conseguir imunizar todos os prioritários. Hoje, o país iniciou a imunização de, aproximadamente, uma em cada três pessoas do grupo, formado por idosos, pessoas com comorbidades e profissionais da saúde e da educação, entre outros.
No total, pouco mais de 25 milhões de brasileiros receberam ao menos uma dose de vacina — todos do grupo prioritário, que é estimado em 77,2 milhões de pessoas, segundo dados do Ministério da Saúde.
Quando apresentou o plano de vacinação, no final do ano passado, o governo calculava cumprir três fases de distribuição de doses para o grupo prioritário em cerca de quatro meses. À época, a previsão era iniciar a imunização em meados de fevereiro, com projeção de vacinar todo o grupo até o fim do primeiro semestre —e a população em geral, acima de 18 anos, nos 12 meses seguintes (totalizando 170 milhões de pessoas, segundo afirmou o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello).
Na prática, a vacinação contra o novo coronavírus começou um mês mais cedo, mas demorará mais do que o previsto para atingir todos os prioritários. A falta de doses, os atrasos no recebimento e a ampliação do grupo — com a inclusão de cerca de 27 milhões de pessoas — frustraram a projeção feita por Pazuello em 16 de dezembro.
Ainda é possível que o grupo prioritário receba ao menos a primeira dose até o final de junho com algumas pessoas precisando completar o esquema vacinal no seguinte —num cenário otimista, sem novos atrasos no recebimento de doses, histórico que o Brasil não tem.
Enquanto isso, países como Estados Unidos, Israel e Chile, já estão em uma etapa avançada para imunizar a população em geral. Esses países garantiram a encomenda de mais de um imunizante em 2020, algo que o governo de Jair Bolsonaro não fez.
"A pandemia mostra o seu pior momento e, agora que precisamos das vacinas, nós ficamos sem", diz Renato Kfouri, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).
Fizemos uma estratégia de longo prazo. Porém, no curto e médio prazo [o governo] não se preocupou em ter vacinas imediatamente. E é isso que estamos sentindo hoje a falta"
Renato Kfouri, diretor da SBIm
Procurado pela reportagem desde quarta-feira (14), o Ministério da Saúde se não manifestou sobre a vacinação do grupo prioritário.
Situação hoje
Na última quinta-feira (15), o ministério anunciou que já recebeu 53,9 milhões de doses de vacina, com cerca de 34 milhões aplicadas até agora —cerca de 8,5 milhões destas eram de segunda dose.
Com base nesses dados, uma projeção otimista indicaria que todo o grupo prioritário terá recebido ao menos a primeira dose até junho —a imunização com as duas doses deve ser atingida só em setembro. Porém, o governo federal constantemente tem frustrado a quantidade de doses previstas em seus cronogramas, como aconteceu em fevereiro e março.
Para abril, por exemplo, o governo chegou a estimar que receberia cerca de 47,3 milhões de doses. Na prática, deverá ter 23,6 milhões, de acordo com consultas feita pelo UOL com a Fiocruz, fornecedora da vacina Covishield (AstraZeneca/Oxford), e o Instituto Butantan, da CoronaVac. Nem todas elas servirão para vacinar pessoas ainda não imunizadas, já que uma parte terá de ser usada para aplicação da segunda dose.
A princípio, deverão entregues cerca de 100 milhões de doses entre maio e junho. Mas o cronograma do Ministério da Saúde, atualizado pela última vez em 19 de março, apresenta imunizantes que ainda não foram aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e não conta com atrasos nas entregas de doses da Fiocruz e do Covax Facility.
Por esse histórico, o diretor da SBIm é mais pessimista e acredita que a última pessoa do grupo prioritário a receber a primeira dose será alcançada no final de julho.
Falta de doses e lentidão
Quando o plano de operacionalização foi apresentado, em dezembro, o Brasil só havia fechado contrato para a Covishield, tendo rejeitado anteriormente acordos pela CoronaVac e pela vacina da Pfizer. À época, Pazuello reclamou da "ansiedade" da população por imunizantes.
A falta de doses para acelerar a imunização já gera contratempos para o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que assumiu no mês passado. Na última terça-feira (13), ele disse que não tem "condição de estabelecer prazos" e que não sabe quando o país poderá vacinar 2,4 milhões de pessoas por dia, capacidade máxima de imunização do Brasil. Como comparação, na última quinta, foram vacinados 930 mil brasileiros com primeiras e segundas doses.
Prioridade ainda não alcançou todos os idosos
Dos imunizados do grupo prioritário, foram atendidos praticamente apenas os primeiros da lista: profissionais da saúde, indígenas e pessoas que vivem em instituições de longa permanência.
Dos idosos, ainda falta avançar para o grupo com idade entre 60 e 64 anos. De acordo com a 13ª pauta de distribuição de vacinas, de 14 abril, 2,4% das pessoas nessa faixa etária serão atendidas com os imunizantes entregues até agora.
Além dos idosos, alguns estados já começaram a imunizar profissionais de educação e da área da segurança. A lista, porém, ainda precisa avançar para áreas como a de transporte e indústria, e pessoas com comorbidades.
Quando apresentou o planejamento, a gestão Pazuello indicou que planejava iniciar a vacinação de 15 milhões de pessoas em um mês. O Brasil, porém, conseguiu chegar a essa marca em 27 de março, ou seja, pouco mais de dois meses depois de a primeira dose ter sido aplicada no país.
Governo nega omissão
A lentidão para imunizar os brasileiros é alvo de ações contra o governo federal no STF (Supremo Tribunal Federal). A Presidência, porém, nega ter sido omissa na busca por imunizantes.
Em manifestação enviada na quinta-feira (15) ao Supremo, a AGU (Advocacia-Geral da União) disse que o plano de vacinação teria "a estratégia mais eficaz de enfrentamento da pandemia, considerando a quantidade inicial limitada de vacinas para o atendimento da população brasileira".
Ela ainda pontua que o governo "vem empreendendo os esforços possíveis para a disponibilização de imunizantes de forma célere e responsável". Cerca de 370 mil pessoas já morreram em razão da covid-19 no Brasil, hoje considerado um problema mundial para o combate à pandemia.
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