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Idosos madrugam e fazem peregrinação em busca de 2ª dose de vacina no RN

O aposentado João Maria Fernandes, 70, ainda não conseguiu sua 2ª dose da vacina, apesar de já ter passado o prazo - Mariana Ceci/UOL
O aposentado João Maria Fernandes, 70, ainda não conseguiu sua 2ª dose da vacina, apesar de já ter passado o prazo Imagem: Mariana Ceci/UOL

Mariana Ceci

Colaboração para o UOL, em Natal

27/04/2021 04h00

Durante quatro dias, João Maria Fernandes, 70, percorreu postos de vacinação em diferentes bairros de Natal e ouviu a mesma frase dos profissionais de saúde: "Não há vacinas nem previsão para que cheguem".

O aposentado aguarda para tomar a segunda dose da CoronaVac na capital do Rio Grande do Norte, onde a falta de estoque suspendeu ontem pela terceira vez a aplicação do imunizante produzido pelo Instituto Butantan.

"O prazo de 28 dias que colocaram na minha carteira de vacinação vence hoje [ontem]. Em todo canto que eu vou, dizem que não tem mais vacina", conta João.

No sábado (24), a aplicação da CoronaVac foi retomada brevemente após o recebimento de doses do Ministério da Saúde e da reserva técnica do estado, que foi distribuída aos municípios para tentar evitar que a campanha fosse interrompida.

O anúncio de retomada da vacinação levou centenas de pessoas aos postos de saúde da capital, que registraram aglomerações e superlotações ao longo do fim de semana.

As filas eram compostas principalmente por idosos que esperavam poder tomar a segunda dose da vacina. O estoque foi rapidamente esgotado e a campanha teve de ser interrompida mais uma vez. Atualmente, estão sendo imunizadas pessoas de 61 anos ou mais.

Maria Albantina - Mariana Ceci/UOL - Mariana Ceci/UOL
Maria Albantina, 72, mostra sua carteirinha de vacinação com a só primeira dose da CoronaVac
Imagem: Mariana Ceci/UOL

Maria Albantina, 72, chegou por volta das 10h ao posto de vacinação no Via Direta Shopping, na zona sul da cidade. Ela já havia ido a três pontos de vacinação, em dias diferentes, sem sucesso.

Conta que já teve covid-19, assim como outros membros de sua família. A filha que a acompanha aos locais de vacinação ainda lida com sequelas, como fadiga e perda de olfato e paladar.

A gente se sente perdido e sem saber como vai ficar a situação. Quando chega a vacina, parece que tem que correr porque acaba num instante.
Maria Albantina, do grupo prioritário que ainda busca a 2ª dose

"É um desespero porque todo mundo precisa disso para continuar a vida. O que a gente queria é resolver isso logo, porque sair de casa tem sido, além de um risco, uma dificuldade para todos nós", completou.

A suspensão da vacinação não é exclusividade da capital. Em Mossoró, a segunda maior cidade do estado, a aplicação da segunda dose da CoronaVac foi suspensa por falta de imunizantes. Maceió também registrou problemas no final de semana.

De acordo com pesquisa feita pela CNM (Confederação Nacional dos Municípios) entre os dias 19 e 22 deste mês, 499 municípios dos 2.096 que responderam ao questionário disseram ter ficado sem imunizantes para os grupos prioritários.

A governadora Fátima Bezerra (PT) publicou um vídeo nas redes sociais na manhã de ontem em que afirma ter feito um apelo ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

O estado reduziu suas reservas técnicas da vacina de 5% para 1%, após distribuir 10 mil doses para os municípios que corriam risco de falta de vacina.

No fim de março, o Ministério da Saúde mudou a estratégia da campanha de vacinação, dispensando a necessidade de guardar a metade dos lotes para aplicação da segunda dose da vacina. O objetivo era acelerar o ritmo da campanha nacionalmente.

A decisão foi vista com preocupação, já que não havia ainda divulgação de datas para a entrega de novas doses. A Sesap (Secretaria do Estado de Saúde Pública) do Rio Grande do Norte chegou a emitir um informe técnico defendendo que a vacinação só deveria progredir a um novo grupo com a imunização de todas as pessoas da fase anterior.

De acordo com o estado, Natal e Mossoró seguiram a orientação federal e não guardaram doses.

Cientistas afirmam que os estudos de eficácia da vacina são feitos com base na aplicação das duas doses. Pessoas que receberam apenas uma dose, portanto, continuam vulneráveis à doença. Segundo estudos, o intervalo de até 28 dias também deveria ser mantido.

De acordo com o Instituto Butantan, um novo lote de vacinas deve ser entregue ao PNI (Plano Nacional de Imunização) no dia 3 de maio.