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Queiroga chama vacinação em adolescentes de 'intempestiva' e culpa estados

Do UOL, em São Paulo

16/09/2021 15h19

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou hoje que a aplicação da vacina contra covid-19 em adolescentes foi feita de maneira "intempestiva" e criticou estados por não seguirem as orientações federais.

"Estados e municípios iniciaram essa vacina antes, até no mês de agosto, vacina que era para começar ontem", disse ele durante entrevista coletiva. "Como conseguimos coordenar a campanha dessa forma?".

Segundo Queiroga, estados estariam aplicando vacinas de outros fabricantes além da Pfizer, que é o único autorizado pela Anvisa para menores de idade.

"Sigam a recomendação do PNI [Plano Nacional de Imunização], não apliquem vacinas que não têm autorização da Anvisa", disse. "Não vamos aceitar isso. Temos compromisso com todos os brasileiros, mas em especial com os adolescentes, que são o futuro dessa nação".

Segundo ele, quase 3,5 milhões de adolescentes já receberam o imunizante. "Três milhões e meio que receberam a vacina de forma intempestiva", classificou.

De acordo com um gráfico exibido durante a apresentação, foram aplicadas mais de 26 mil doses de vacinas que não foram autorizadas para adolescentes. Também foram registrados nove casos de jovens que tomaram três doses da vacina, que estão sendo investigados pela pasta.

Segundo Ministério, mais de 26 mil doses de vacinas que não estão autorizadas para adolescentes foram aplicadas - Reprodução - Reprodução
Segundo Ministério, mais de 26 mil doses de vacinas que não estão autorizadas para adolescentes foram aplicadas
Imagem: Reprodução

Segundo o ministro, a vacinação foi interrompida para investigação de eventos adversos, e que não será retomada até que haja evidências científicas "sólidas".

O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, afirmou que foram registrados cerca de 1.500 episódios dentre esses 3,5 milhões de adolescentes vacinados. Desses, a maioria é leve, mas Medeiros citou a morte de uma adolescente paulista como motivo de monitoramento.

O caso está sendo investigado e ainda não foi comprovada relação com a vacina.

Queiroga negou que a suspensão tenha acontecido por falta de doses. "Os estados dizem que está faltando AstraZeneca e estão usando AstraZeneca em quem não é para usar. Quando falei em excesso de vacina, tanto tem que estão vacinando quem não deve, iniciando a terceira dose antes do tempo".

O ministro criticou o que chamou de "pressa" dos estados, dizendo que alguns encaram a imunização como uma "corrida" e que "exibem como se fosse um troféu".

Ministério suspende vacinação em adolescentes

Ontem à noite, a pasta suspendeu a vacinação para adolescentes sem comorbidades. Alguns estados já estavam aplicando o imunizante nessa população, enquanto outros previam começar hoje.

A nova orientação prevê que a vacina só seja aplicada em pessoas entre 12 e 17 anos que tenham "deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade".

A decisão estaria embasada nas orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) de não recomendar a imunização desse grupo, pelo número baixo de casos graves e pelos poucos estudos sobre a vacinação nessa faixa etária.

A nota também cita que houve redução na média móvel de casos e mortes por covid, o que torna o cenário epidemiológico menos perigoso para os adolescentes sem comorbidades.

O anúncio da suspensão ocorre em meio a falta de estoque de certas vacinas em alguns pontos do Brasil, como São Paulo, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, até então, era favorável à vacinação de adolescentes e havia previsto o início da imunização para todos os jovens assim que os adultos tivessem a primeira dose.

A prefeitura de São Paulo e do Rio disseram que vão manter a vacinação de adolescentes sem comorbidades, apesar da recomendação do ministério.

Outros países aplicam a vacina contra covid-19 em adolescentes, como os Estados Unidos, Chile, Israel, França e outros.

'Suspensão da vacinação é 'inoportuna''

Especialistas criticaram a decisão do Ministério. Para a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Margareth Dalcomo, a suspensão é "inoportuna" e gera "insegurança, tumulto e medo".

O epidemiologista Pedro Hallal classificou a interupção como "100% errada". "Até quando vão tratar a pandemia com uma abordagem clínica, e não coletiva? É verdade que a maioria dos adolescentes não terá caso grave, mas quanto mais gente vacinada, mais difícil pro vírus circular", escreveu Hallal em sua conta no Twitter.

As principais entidades representativas dos secretários de saúde cobraram da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) uma posição oficial sobre a decisão da pasta. O Conass (Conselho Nacional de Secretários de Saúde) e o Conasems (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) disseram ter encaminhado um ofício na manhã de hoje ao diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres.