Centenas entram em choque com a polícia na Tunísia; aliados e oposição criticam proposta de novo governo
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Fethi Belaid/AFP
Chokri Belaid, morto a tiros na frente de sua casa
Centenas de manifestantes anti-islamitas e a polícia se enfrentaram nesta quinta-feira (7) diante da sede do governo de Gafsa, uma cidade instável da bacia de mineração, na região central da Tunísia.
Os manifestantes, que acompanhavam o funeral simbólico de Chokri Belaid, o opositor assassinado a tiros ontem (6), na frente de sua casa em Túnis, e cujo sepultamento acontecerá na sexta-feira (8), lançaram um coquetel molotov contra os policiais, que responderam com gás lacrimogêneo.
Há meses, o país sofre violências políticas e sociais, em um contexto de esperanças frustradas após a revolução de 2011. Nos últimos meses, partidos de oposição e sindicalistas acusaram milícias pró-islamitas de ataques contra opositores.
Belaid era um advogado de esquerda que tinha relativamente poucos seguidores políticos, mas que falava por muitos que temem restrições de radicais religiosos às liberdades conquistadas na rebelião que deu início à Primavera Árabe, há dois anos.
Promessa irrita opositores
O primeiro-ministro da Tunísia, Hamdi Jebali, tentou apaziguar os manifestantes anunciando a formação de um novo governo. Jebali disse na noite de quarta, horas após o assassinato, que irá nomear um gabinete provisório composto por tecnocratas, em substituição a ministros do seu partido islâmico moderado. Ele também disse que convocará eleições assim que possível.
Políticos islâmicos da Tunísia contestaram a decisão. Dirigentes do Ennahda, o partido de Jebali, disseram que ele não os consultou. "Acreditamos que a Tunísia precisa de um governo político agora", disse Abdelhamid Jelassi, vice-presidente do Ennahda. Ele prometeu que seu partido continuará as discussões com outras legendas sobre a formação de uma coalizão.
Os principais partidos de oposição também rejeitaram a nomeação de um gabinete de tecnocratas, e exigiu que sejam consultados antes da formação de um novo governo. Jebali deve continuar interinamente no seu cargo, algo que desagradou grupos de oposição. "Todo o governo, inclusive o primeiro-ministro, deveria renunciar", disse Beji Caid Essebsi, ex-premiê que dirige o partido laico Nida Touns.
Palco dos confrontos e greve
Na manhã de hoje, a polícia estava na avenida Habib Bourguiba, palco dos confrontos e local emblemático da revolução de janeiro de 2011, que derrubou o regime de Zine El Abidine Ben Ali. Ônibus, caminhonetes e furgões policiais foram mobilizados e a circulação foi proibida em torno do Ministério do Interior.
Quatro partidos políticos convocaram uma greve geral para sexta-feira, dia do funeral de Belaid. A poderosa central sindical UGTT (União Geral de Trabalhadores Tunisianos) decidiu se unir à convocação de greve. Além de insistir na condenação do crime, o sindicato advertiu que a morte de Bel Aid "abre caminho para o assassinato de políticos em uma tentativa de silenciar o espírito civil livre".
Pessoas próximas de Belaid que alegam que o poder islamita estava por trás do assassinato dele. Um policial foi morto nos distúrbios de ontem e várias sedes do Ennahda foram incendiadas ou saqueadas em várias regiões do país.
Milícias próximas ao Ennahda foram acusadas de orquestrar ataques contra a oposição, entre eles o assassinato de um opositor espancado por manifestantes.
UE pede fim da violência
A Alta representante para a Política Externa da União Europeia (UE), Catherine Ashton, e o comissário europeu para a Política de Aproximação, Stefan Fule, disseram nesta quinta que é preciso fazer de tudo para evitar a violência política na Tunísia.
"Esperamos que as autoridades tunisianas esclareçam este assassinato para que os responsáveis deste homicídio respondam pelo seu ato diante da justiça", escreveram Ashton e Fule. "O número crescente de atos de violência política cometidos por grupos extremistas são uma ameaça para o processo de transição em curso."