'Quem se beneficia com o uso de armas químicas na Síria?', questiona o Vaticano
O Vaticano pediu nesta quinta-feira (22) grande prudência para que não se atribua precipitadamente o massacre no subúrbio de Damasco ao governo de Bashar al-Assad, perguntando por meio de seu observador na ONU "quem realmente se beneficia desse crime desumano".
"Não se pode fazer um julgamento antes que haja provas suficientes", considerou o bispo Silvano Tomasi, observador permanente da Santa Sé nas Nações Unidas em Genebra, consultado pela Rádio Vaticano.
Ele reagiu às acusações feitas contra o regime sírio de que suas forças haviam utilizado armas químicas no massacre de quarta-feira.
O uso de armas químicas é considerado pelas potências ocidentais uma "linha vermelha", que nenhum dos dois lados no conflito sírio, nem governo nem rebeldes, pode cruzar.
"Devemos esclarecer os fatos", recomendou o bispo Tomasi, antes de se perguntar: "Que interesse imediato teria o governo de Damasco em provocar uma tragédia como essa, sabendo que ele seria considerado diretamente culpado de qualquer forma?". Segundo ele, é conveniente se perguntar "a quem esse crime desumano realmente beneficia".
Tomasi reafirmou a firme oposição do Vaticano a qualquer intervenção internacional armada, pedindo uma solução negociada, "sem precondição" de exclusão deste ou daquele grupo, a fim de obter a criação de um "governo de transição".
"A experiência nos mostrou no Iraque, no Afeganistão, que essas intervenções armadas não geram resultados construtivos", disse, repetindo a posição inalterável da Santa Sé.
"É preciso também parar de enviar armas, tanto à oposição como ao governo", acrescentou.
O diplomata criticou "qualquer análise incompleta da realidade síria e do Oriente Médio em geral".
"Tenho a impressão de que a imprensa e os grandes meios não levam em conta todos os elementos na base desta situação de violência e de conflito incessante", lamentou.
"Vimos no Egito como o apoio incondicional à Irmandade Muçulmana causou mais violência", disse, referindo-se aos ocidentais.
"Alguns interesses são evidentes: há aqueles que querem um governo sunita na Síria, e aqueles que querem manter uma participação de todas as minorias", observou.
A Santa Sé prefere mais a segunda solução, e os cristãos no local optaram por apoiar Bashar al-Assad como garantidor de um Estado mosaico.
A maior preocupação do Vaticano na região é o fortalecimento de um islamismo radical que obrigue os cristãos a buscar o exílio, e prejudique a convivência entre muçulmanos e cristãos, do Egito à Síria.