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China adverte EUA, Reino Unido e Austrália sobre acordo de submarino nuclear: 'Perigoso'

Em imagem de arquivo, de 9 de julho de 2004, o submarino nuclear britânico HMS Tireless se aproxima no porto de Gibraltar, enclave britânico na península ibérica - Jose Luis Roca/AFP
Em imagem de arquivo, de 9 de julho de 2004, o submarino nuclear britânico HMS Tireless se aproxima no porto de Gibraltar, enclave britânico na península ibérica Imagem: Jose Luis Roca/AFP

14/03/2023 08h05Atualizada em 14/03/2023 08h33

O governo da China advertiu nesta terça-feira (14) que Estados Unidos, Reino Unido e Austrália transitam por um "caminho equivocado e perigoso", após o anúncio de um acordo sobre submarinos de propulsão nuclear entre os três países.

Com a ideia de contra-atacar a influência da China na região Ásia-Pacífico, Washington, Londres e Canberra apresentaram na segunda-feira a aliança AUKUS - anunciada há 18 meses e cujo nome é o acrônimo em inglês das três nações - para construir uma nova geração de submarinos nucleares, após a compra prevista pela Austrália de vários aparelhos.

"A última declaração conjunta dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália demonstra que os três países transitam cada vez mais por um caminho equivocado e perigoso, pensando em seus próprios interesses e menosprezando a preocupação da comunidade internacional", declarou o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin.

Pequim já havia solicitado aos três países, antes do anúncio de segunda-feira, que "abandonassem a mentalidade da Guerra Fria e dos jogos de soma zero".

A Rússia, que deseja fortalecer os vínculos com a China, também acusou as potências ocidentais de fomentar "anos de confronto" na região Ásia-Pacífico.

"O mundo anglo-saxão constrói estruturas de bloco como AUKUS, avançando a infraestrutura da Otan na Ásia, e apostando seriamente em longos anos de confronto", afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) advertiu que precisa "monitorar que nenhum risco de proliferação emane deste projeto", nas palavras de seu diretor geral, Rafael Grossi.

Na segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao lado dos primeiros-ministros da Austrália e Reino Unido, Anthony Albanese e Rishi Sunak, respectivamente, anunciou na base naval de San Diego uma cooperação "sem precedentes".

"Estamos na melhor posição para enfrentar, juntos, os desafios de hoje e amanhã", disse o presidente.

Estados Unidos não poderiam ter "melhores amigos", acrescentou.

"Sem armas nucleares"

Nenhum dos três governantes mencionou a a China diretamente, mas Biden afirmou que o AUKUS garantirá que região Ásia-Pacífico "permaneça livre e aberta", uma frase que demonstra a vontade de contra-atacar a influência chinesa na região.

Albanese disse que este é "o maior investimento individual na capacidade de defesa da Austrália em nossa história", ao mesmo tempo que destacou que os três países estão "unidos, acima de tudo, por um mundo (...) em que a paz, a estabilidade e a segurança garantam maior prosperidade".

O governo australiano calcula que o projeto, de várias décadas, custará quase 40 bilhões de dólares nos primeiros 10 anos e criará 20.000 empregos.

A Austrália é, depois do Reino Unido, o segundo país que tem acesso à tecnologia nuclear secreta americana, disse Albanese.

Sunak também insistiu nos esforços para aumentar o orçamento de defesa do Reino Unido, que se compromete com o "acordo de defesa multilateral mais importante em várias gerações".

O programa de submarinos de ataque, que busca adaptar a presença militar ocidental no Pacífico, será desenvolvido em três etapas, explicou a Casa Branca.

E será baseado em um princípio "crucial", reiterou Biden: "Estes submarinos serão de propulsão nuclear, mas não terão armas nucleares", para respeitar o princípio de não proliferação.

Primeiro acontecerá uma fase de familiarização na Austrália, que não possui submarinos de propulsão nuclear nem tecnologia nuclear.

Os fuzileiros navais, engenheiros e técnicos do país receberão treinamento com especialistas americanos e britânicos.

Nova geração de submarinos

O objetivo é mobilizar, a partir de 2027 e em sistema de rodízio, quatro submarinos americanos e um submarino britânico na base australiana de Perth (oeste).

Em uma segunda etapa, a Austrália comprará três submarinos americanos da categoria Virginia de propulsão nuclear, com opção de outros dois. Os aparelhos devem ser entregues a partir de 2030.

Na terceira etapa, a mais ambiciosa, Estados Unidos, Austrália e Reino Unido estabelecerão uma associação para criar uma nova geração de submarinos de ataque chamada SSN AUKUS.

Os novos aparelhos, com base em um design britânico com tecnologia americana avançada, serão construídos e utilizados pelo Reino Unido e a Austrália. Os submarinos devem ser entregues a partir da década de 2030 e no início da década de 2040.

A Austrália deve criar do zero uma indústria nuclear de alta tecnologia, destaca David Andrews, analista em estratégia militar da Universidade Nacional Australiana.

"Existem riscos na forma de gerenciar funcionários, construir linhas de produção, administrar suprimentos e na manutenção", alerta.