E-mails indicam que shopping em São Paulo pagava propina para evitar fiscalização
Em São Paulo
Trocas de e-mails em poder do Ministério Público Estadual (MPE) reforçam a tese de que o Shopping Raposo, na zona oeste de São Paulo, pagou propina para fiscais da Subprefeitura do Butantã e para funcionários do Departamento de Estradas de Rodagem (DER). A conversa, obtida pelo jornal O Estado de S.Paulo, envolve executivos do shopping e despachantes e sugere que os pagamentos foram feitos para evitar fiscalização e multas de ambos os órgãos.
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A primeira mensagem foi enviada em 29 de outubro de 2008, por Marcelo Ghitnic, então superintendente do centro comercial, para vários despachantes que cuidavam da regularização do shopping na Prefeitura e no governo estadual. Na mensagem, ele convoca uma reunião para falar sobre a "parceria com a Sub e DER". Segundo ele, o despachante Pedro Augusto Nascimento "não consegue mais segurar a situação" e, se nada for feito, vão começar a ter problemas com "fiscalizações e multas".
Uma semana depois, em 4 de novembro, Ghitnic afirma que um funcionário do DER "não para de ligar querendo uma posição sobre o pagamento prometido". O servidor é conhecido como Miguel e tem ascendência nipônica. Conforme o jornal O Estado de S.Paulo revelou na semana passada, ele é acusado por ao menos duas testemunhas de ter recebido propina para evitar exigências de obras de compensação e acesso na Rodovia Raposo Tavares, cujo trecho é administrado pelo DER.
Ambas as mensagens chegaram à cúpula da Brookfield Gestão de Empreendimentos (BGE), empresa que controla o shopping. Um desses ex-funcionários é Daniela Gonzales, ex-diretora financeira da empresa. Em e-mail enviado por ela em 21 de outubro de 2008 para outro funcionário da BGE, Daniela diz que é "impossível" trabalhar com Ghitnic, que teria pedido autorização para pagar "R$ 1 milhão de bola" (propina).
No dia seguinte, ela recebe uma resposta de seu chefe, Manoel Bayard - presidente do fundo da Brookfield responsável pelos shoppings e indiciado pela Polícia Civil pelos supostos subornos. Bayard afirma que Daniela "não pode escrever em e-mails coisas que não sabe ou que não são apropriadas para estar num e-mail". Em outra mensagem do mesmo dia, Bayard afirma que parece que Daniela "desembarcou no Brasil hoje".
Em depoimento à Promotoria do Patrimônio Público e Social, Daniela afirmou que ao menos R$ 144,5 mil foram pagos em propina para o funcionário do DER. O valor teria sido dividido em duas notas fiscais emitidas pela empresa Pan Serviços de Administração, que era de propriedade de Pedro Augusto Nascimento. A empresa é acusada de emitir notas frias.
Procurado pela reportagem, o DER afirmou que, com base nos documentos, abriu sindicância para apurar possíveis irregularidades. O departamento disse que não cabia ao órgão nenhuma aprovação nem compensação viária no caso do Raposo e, por isso, vai verificar se o nome do órgão foi usado indevidamente.
Já o advogado da Pan, por e-mail, afirmou que a empresa atua há mais de 10 anos respeitando a legislação e que as acusações são mentirosas. Segundo ele, serão tomadas todas as medidas judiciais cabíveis para proteger a imagem da empresa. Já a BGE afirmou que não vai se manifestar e não respondeu ao pedido de posicionamento de Marcelo Ghitnic. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.