Barco que afundou no Pará estava com superlotação
Em Belém
Nove adultos e quatro crianças morreram no naufrágio de um barco de passageiros na madrugada desta sexta-feira, 19, a 500 metros do porto da cidade de Cachoeira do Arari, no arquipélago do Marajó, norte do Pará. Segundo um dos 46 sobreviventes, a embarcação transportava mais de 60 pessoas, quando a capacidade era de apenas 25.
O número de mortos ainda é parcial, segundo informações da Marinha do Brasil, porque há passageiros desaparecidos. Os corpos resgatados foram levados para um ginásio da cidade. Após a realização de perícia, deverão ser liberados às famílias para sepultamento.
Equipes de resgate do Corpo de Bombeiros, Marinha, Polícia Militar e Defesa Civil, além de navios e helicópteros, foram mobilizados na tentativa de encontrar outros sobreviventes ou mortos. As buscas foram suspensas no começo da noite e deveriam recomeçar na manhã deste sábado, 20.
A maioria dos sobreviventes foi atendida em um hospital de Cachoeira do Arari, mas o governo estadual deslocou equipe médica para transportar os casos mais graves para Belém. Foi o caso de uma criança com ferimentos e problemas respiratórios, levada de helicóptero para a capital e internada na Santa Casa de Misericórdia.
Além de muita água, vários passageiros engoliram óleo diesel, que vazou da embarcação durante o naufrágio. Alguns mortos estavam no porão do barco e não tiveram tempo de sair. A Capitania dos Portos abriu inquérito para apurar as causas do acidente e tem prazo de 90 dias para concluir o trabalho.
O comandante do barco "Leão do Norte", Luís Inácio Lima, admitiu em depoimento à polícia que havia passageiros muito além da capacidade máxima da embarcação. Segundo a Capitania dos Portos, o barco transportava cerca de 60 passageiros, mas Lima disse que na viagem havia 49 pessoas, quando o número de vagas era de apenas 25. "Não sou homem de mentir para ninguém. Viajo com a minha esposa, minha filha e meu filho", declarou, acrescentando que sempre levava mais passageiros do que a lotação permitia.
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Lima conduzia a embarcação no momento do acidente e disse não saber o que aconteceu. "Não bati e nem senti o barco batendo em qualquer coisa, foi tudo muito rápido", contou. Lima rebocava outra barco, que estava com problemas mas acabou ajudando no resgate de sobreviventes.
O sargento Orivaldo Santos, do destacamento da PM em Cachoeira do Arari, disse que testemunhas relataram que o barco estava fazendo a curva do Tujá e o comandante teria perdido o tempo da manobra, não conseguindo voltar, quando o barco 'sentou', começando a afundar. Na hora, a maioria dos passageiros estava dormindo. O pânico foi geral. Pessoas gritavam, crianças choravam e, na escuridão, muitos que não sabiam nadar pediam socorro. Moradores da cidade que estavam na orla do cais ajudaram a resgatar vários sobreviventes.
A enfermeira do hospital municipal de Cachoeira do Arari, Marly Rodrigues, informou que muitas pessoas chegaram assustadas e se queixando de dores pelo corpo, além de reclamar que haviam ingerido água com óleo diesel. "Atendi algumas pessoas que tiveram o abdômen distendido."
A fiscalização das mais de 100 mil embarcações que diariamente navegam pelos rios da Amazônia ainda representa um desafio para a Capitania dos Portos da região, que possui um quadro insuficiente de homens para inspecionar milhares de portos, a maioria clandestinos.
Somente na Amazônia ocidental, que compreende os Estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, nos últimos seis anos foram registrados 646 acidentes e 209 mortes. Em 2012 foram 100 acidentes, que provocaram a morte de 33 passageiros - um aumento de 100% no número de vítimas fatais em dois anos.