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Desmatamento e agropecuária respondem por 23% das emissões de gases de efeito estufa

4.out.2018 - Imagem do Ibama mostra desmatamento em fazenda - Divulgação/Ibama
4.out.2018 - Imagem do Ibama mostra desmatamento em fazenda Imagem: Divulgação/Ibama

Giovana Girardi e Roberta Jansen

No Rio de Janeiro

09/08/2019 07h41

Desmatamento e agropecuária respondem por 23% das emissões de gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global. A perda da vegetação, por sua vez, faz o planeta absorver cada vez menos o CO2 em excesso na atmosfera, minando ainda mais sua capacidade de combater mudanças climáticas.

Essa é uma das principais conclusões do relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado ontem - o primeiro focado no uso da terra.

O novo recorte sobre o uso da terra mostra que, se esse problema não for enfrentado juntamente com a redução de emissões no setor de energia, será impossível resolver a crise climática. O documento deve elevar a pressão sobre países como o Brasil, onde a produção agrícola tem papel econômico crucial e o desmate está em alta, ao mesmo tempo que o governo Jair Bolsonaro tem questionado dados que apontam essa elevação.

"Agricultura, desmate e outros tipos de uso da terra respondem por 23% das emissões de gases-estufa (ocorridas no planeta de 2007 a 2016). Ao mesmo tempo, processos naturais da terra (como fotossíntese) contribuem para absorver 30% das emissões de CO2 resultantes da queima de combustível fóssil e da indústria", disse Jim Skea, um dos autores do relatório.

Metade dessas emissões é de responsabilidade de desmatamento. Considerando só o gás metano, a agricultura ainda causa metade das emissões. O setor é responsável também por 3/4 das emissões globais de óxido nitroso, por causa do uso de fertilizantes. A expectativa dos cientistas é de que, de modo geral, emissões de gases-estufa da produção agrícola devem crescer em razão do aumento da população e da renda - e de mudanças nos padrões de consumo.

A exploração de recursos naturais não tem precedentes. Atividades humanas afetam mais de 70% de toda a superfície terrestre não coberta de gelo. E cerca de 1/4 está sujeita à degradação induzida pelo homem. "Para conter o aquecimento do planeta a menos de 2°C (meta do Acordo de Paris), emissões por queima de combustíveis fósseis têm de cair; só cuidar do uso da terra não solucionará o problema", diz o meteorologista Humberto Barbosa, da Universidade Federal de Alagoas, que também assina o documento.

O relatório estima que de 1/4 a 1/3 do potencial terrestre é usado para produzir alimentos, fibras e energia. A degradação da terra, por sua vez, a torna menos produtiva e reduz sua capacidade de absorver carbono.

"O relatório destaca que a humanidade vai ter de fazer opções difíceis entre a necessidade de expandir o tamanho das florestas para capturar CO2 da atmosfera, aumentar a produção de biocombustíveis para ajudar na redução das emissões e a produção de alimentos e reduzir drasticamente o desmatamento", diz o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), autor do segundo capítulo do documento.

Brasil

Apesar de optar por fazer análise mais geral sobre a situação do planeta, sem destacar os países de modo individual, o IPCC criticou o governo brasileiro. O cientista alemão Hans-Otto Portner, do grupo de trabalho 2, afirmou que as mudanças em ação no País, no que se refere à gestão da Amazônia, "contradizem todas as mensagens apresentadas no relatório". A resposta foi dada após questionamento da imprensa internacional. O governo brasileiro não se pronunciou sobre o assunto ontem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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