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Comunicação do governo monta ação anticríticas nas redes

O presidente, Jair Bolsonaro (PSL) - Werther Santana/Estadão Conteúdo
O presidente, Jair Bolsonaro (PSL) Imagem: Werther Santana/Estadão Conteúdo

Renata Agostini e Julia Lindner

Brasília

23/08/2019 14h39

Auxiliares palacianos de Jair Bolsonaro tentam reagir à pressão da militância bolsonarista nas redes sociais, que cobra uma defesa mais enfática do presidente. Para conter críticas, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) passou a atuar em duas frentes. De um lado, o secretário Fábio Wajngarten estabeleceu uma ponte com o escritor Olavo de Carvalho, que tem influência sobre os ânimos da tropa nas redes e os principais expoentes da chamada ala ideológica do governo. Em outra frente, prevê uma ofensiva para divulgar "boas notícias".

A aproximação com Olavo partiu do secretário, após ver um comentário positivo do escritor sobre sua indicação ao governo. Os dois passaram a se falar, segundo pessoas próximas. Como consequência dessa aproximação, Olavo o elogiou recentemente para seus seguidores. "Muitos não o percebem à primeira vista, mas o Fábio Wajngarten está fazendo um trabalho notável na Secom", publicou Olavo em seu Twitter no domingo passado.

Wajngarten tem sofrido ataques nas redes da ala mais extremada do bolsonarismo e se tornou alvo de "memes". Nas mensagens, ele é cobrado por supostamente deixar o presidente desprotegido de críticas por parte da imprensa e do que seus apoiadores chamam de "guerra ideológica" em temas como a questão ambiental e mudanças promovidas por Bolsonaro no antigo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Segundo interlocutores, o secretário chegou a receber ameaças.

Na semana passada, a demissão do jornalista Paulo Fona da Secretaria de Imprensa da Presidência respingou em Wajngarten, responsável pela indicação. Antes de assumir brevemente o cargo no Planalto, Fona atuou em governos estaduais comandados por PSB e PSDB. A ligação com os partidos desagradou a militantes bolsonaristas e as críticas chegaram a Bolsonaro por WhatsApp, o que determinou a exoneração.

Reação

A outra frente na estratégia para melhorar a comunicação do governo é a criação do canal "SecomVc". A iniciativa, que foi lançada ontem, tem como objetivo criar um meio de distribuição de notícias consideradas positivas pelo governo no Twitter, Facebook e YouTube e tentar, assim, influenciar a narrativa.

"O governo está em ritmo acelerado para mudar o Brasil. O problema é que muita notícia boa não chega para quem realmente importa: você", dizia o primeiro post da conta no Twitter. "Será o canal para quem torce pelo País." Além disso, o objetivo é combater o que, na visão do governo, seriam informações falsas que circulam na rede.

A equipe de comunicação utilizou ontem as contas da "SecomVc" para afirmar que a floresta amazônica está sob "ataque de fake news". As peças foram divulgadas em português e, em alguns casos, em inglês com a hashtag #AmazôniaSemFake.

A conta reproduziu, por exemplo, uma publicação feita pelo jogador de futebol português Cristiano Ronaldo para dizer que a foto utilizada por ele é de março de 2013. "Que bola fora, hein, Cristiano", diz o texto.

O canal compartilhou também a reação de Bolsonaro ao presidente francês Emmanuel Macron, que classificou as queimadas na Amazônia como uma "crise internacional". O próprio Wajngarten utilizou o Twitter para engrossar o coro contra o francês. "Ou o presidente da França está agindo de má fé ou é um completo irresponsável!", publicou, argumentando que a foto usada por Macron era antiga.

Integração

Há também a intenção de mostrar que a comunicação do governo está mais integrada. Após assumir o cargo, em julho, o ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) contribuiu para distensionar a relação entre Wajngarten e o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, segundo relato de auxiliares de Bolsonaro. Uma das soluções foi tirar formalmente o porta-voz da Secom.

O texto de lançamento do "SecomVc" trouxe manifestações de Wajngarten e Rêgo Barros, numa indicação que o projeto tem apoio dos dois.

Rêgo Barros viu seu espaço esvaziado nas últimas semanas com o aumento das declarações do presidente, que passou a falar quase diariamente com jornalistas ao sair do Palácio da Alvorada. Auxiliares de Bolsonaro creditam muitos dos posicionamentos mais polêmicos à influência de assessores ligados ao vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente, responsável pela comunicação da campanha do ano passado.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.