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Após determinação do Ibama, agentes de combate a incêndios se desmobilizam

Brigadistas do Prevfogo combatem incêndio na Serra do Amolar, no Pantanal do MS, em setembro de 2020 - Ecoa (Ecologia e Ação) / Reinaldo Nogales
Brigadistas do Prevfogo combatem incêndio na Serra do Amolar, no Pantanal do MS, em setembro de 2020 Imagem: Ecoa (Ecologia e Ação) / Reinaldo Nogales

Yuri Ramires, especial para o Estadão

Cuiabá

23/10/2020 16h37

Cerca de 70 brigadistas do Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (Prevfogo), do Ibama, começaram a desmobilização na Serra do Amolar, região do Pantanal entre Cáceres (MT) e Corumbá (MS), onde passaram mais de 50 dias em companhia de bombeiros e voluntários do Instituto Homem Pantaneiro (IHP) no combate intenso do fogo que atinge essas áreas.

Os servidores deixaram a Serra nesta quinta-feira, 22, em uma chalana, navegação típica pantaneira, que funciona como um barco hotel. O grupo, que é composto por servidores da tripulação do helicóptero e do combate direto em solo, está voltando para Corumbá e de lá vai seguir para as bases.

A desmobilização é fruto da decisão do ministro do Meio Ambiente (MMA), Ricardo Salles, de suspender todas as operações de combate a incêndios no Brasil tomada na noite de quarta-feira, 21. O Ibama deu ordem para que todos os agentes de combate a incêndios do órgão ambiental em campo no País voltassem imediatamente para as suas bases a partir da meia-noite desta quinta-feira, 22. A ordem partiu da Diretoria de Proteção Ambiental, que opera o Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais. Hoje, há cerca de 1.400 agentes do órgão em ação contra os incêndios em todo o Brasil. Mas, em alguns pontos do Centro-Oeste, essa desmobilização já vinha ocorrendo devido à diminuição dos focos do fogo.

Em Mato Grosso, por exemplo, são 185 brigadistas do Ibama desmobilizados no Pantanal a partir de sábado, 24. A região turística ainda sofre com o fogo e já perdeu só em 7 dias o equivalente a 5 mil hectares. No auge do fogo, ao menos 200 servidores do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) chegaram a atuar por lá.

A Associação Brasileira das Entidades do Meio Ambiente (Abema) vê a decisão do MMA com preocupação. "2020 tem sido um ano difícil para os Estados brasileiros, em especial os da Amazônia Legal. A retirada das forças de combate, deixando a cargo dos governos estaduais, compromete o resultado que será entregue à população", disse a diretora Mauren Lazzaretti, que também é secretária de Meio Ambiente de Mato Grosso.

"Devemos continuar essas ações até que sejam controlados todos esses incêndios florestais", completou. O corpo de Bombeiros de Mato Grosso foi procurado pelo Estadão, mas não respondeu ao pedido de entrevista.

Em nota, o Ibama informou que o retorno dos brigadistas do Prevfogo acontece devido à falta de recursos. "Desde setembro, a autarquia passa por dificuldades quanto à liberação financeira por parte da Secretaria do Tesouro Nacional".

O instituto informou ainda que, para manter suas atividades, tem recorrido a créditos especiais, fundos e emendas. "Mesmo assim, já contabiliza R$ 19 milhões de pagamentos atrasados, o que afeta todas as diretorias e ações do instituto, inclusive, a do Prevfogo".

Pantanal

O Estadão mostrou que o Ibama e o Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio) estão com contas de serviços básicos com atrasos que chegam a mais de 90 dias. Há faturas em aberto de contratos de manutenção predial, contas de luz, abastecimento de veículos e alugueis de aeronaves. No Ibama, o rombo acumulado já chega a mais de R$ 16 milhões. No ICMBio, as contas em aberto somam mais de R$ 8 milhões. São aproximadamente R$ 25 milhões em dívidas.