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Líder evangélico quer diálogo com Lula e diz que Zambelli deu 'punhalada' em Bolsonaro

Deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP) - Agência Câmara
Deputado federal Cezinha de Madureira (PSD-SP) Imagem: Agência Câmara

Vinícius Valfré

Brasília

03/11/2022 10h54

Um dos principais nomes da bancada evangélica no Congresso, o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL), foi procurado por emissários do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e está disposto a trabalhar pautas em comum com o novo governo.

Porta-voz do bispo Samuel Ferreira e expoente da Assembleia de Deus de Madureira, uma das maiores denominações evangélicas do País, o pastor diz que o interesse em sentar à mesa com os petistas não significa incoerência nem traição a Bolsonaro.

O fogo-amigo, no entendimento do líder evangélico, partiu de outra parte da base de Bolsonaro, às vésperas do segundo turno. E ele responsabiliza especialmente a deputada Carla Zambelli (PL-SP).

"Traição foi a punhalada que o presidente recebeu nas costas com a deputada correndo na rua com arma na mão, talvez por um deslize mental. Cuidar do povo não é traição", disse ele ao Estadão.

Cezinha avalia que a ação de Zambelli e os tiros que o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) deu em policiais federais foram decisivos para a derrota de Bolsonaro.

Ele alega que os acontecimentos também derrubaram em cerca de 3 milhões de votos a previsão que o grupo fazia para a vitória de Tarcísio de Freitas (Republicanos), eleito governador de São Paulo com 13 milhões de votos. Cezinha atuou próximo à campanha de Tarcísio e é cotado para participar da administração.

"A Zambelli cometeu a pior bobeira, é gente despreparada. Nossa eleição estava ganha. Para o Tarcísio, nossa previsão era de 16 milhões de votos. Eu digo que Lula não ganhou, nós que perdemos", afirmou.

Presidente Jair Bolsonaro e deputado Cezinha de Madureira no ato "Acelera para Cristo" em São Paulo em junho de 2021 - Reprodução/ Flickr - Reprodução/ Flickr
Presidente Jair Bolsonaro e deputado Cezinha de Madureira no ato "Acelera para Cristo" em São Paulo em junho de 2021.
Imagem: Reprodução/ Flickr

Cezinha também acredita que a denúncia sem lastro de suposto prejuízo a Bolsonaro na propaganda eleitoral nas rádios prejudicou a reeleição. A alegação, apresentada pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria (PP), na semana do pleito, foi classificada como tentativa de tumultuar o processo eleitoral e acabou rejeitada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O deputado se reuniu com o chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), na segunda-feira, 31, um dia antes de o presidente Jair Bolsonaro se pronunciar pela primeira vez sobre o resultado das eleições. Ambos manifestaram interesse em manter relação republicana com o novo governo.

Cezinha destaca que os evangélicos têm interesse em pautas econômicas. "Bolsonaro terá nosso respeito, admiração e lealdade. Mas não significa que vamos votar contra o aumento de salário, contra o combate à fome", declarou. "Com o crescimento da bancada evangélica, óbvio que nenhuma pauta aberrante vai passar, como liberação de drogas e aborto. Mas estamos dispostos a trabalhar para pautas que ajudem o Brasil. Vamos conversar sobre o que for importante para o País."

Apesar da sinalização do rival, Lula não deve contar com o apoio oficial da bancada evangélica. O presidente da Frente Parlamentar Evangélica no Congresso, Sóstenes Cavalcante (PL), já anunciou oposição ao petista.

Com a dificuldade de transitar entre uma parte da bancada evangélica, emissários de Lula já procuraram Cezinha. "Sabem que o que pauta a minha vida é o diálogo. Quando é bom para os brasileiros, temos de conversar", disse.

O tom é semelhante ao adotado pelo governador eleito de São Paulo. Após concretizada sua vitória sobre Fernando Haddad (PT), Tarcísio afirmou que "o resultado das urnas é soberano" e que buscará "manter o melhor diálogo possível, de maneira republicana".

Como mostrou o Estadão, a bancada evangélica, a partir de 2023, estará reforçada por campeões de voto e pelo aumento do poder das grandes igrejas. Dos 203 integrantes da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara, 177 foram candidatos a novo mandato. Deste total, 109 tiveram sucesso, uma taxa superior a 60%.