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Entenda por que o filme sobre Maomé foi considerado ofensivo por muçulmanos

14/09/2012 19h00

Milhares de pessoas têm protestado em países da Ásia, da África e do Oriente Médio contra um filme feito nos Estados Unidos, que retrata o profeta Maomé. A BBC explica por que a obra tem causado tanta indignação:

O que o filme mostra?

O vídeo, que é o trailer de um filme mais longo chamado Innocence of Muslims ("Inocência de Muçulmanos", em tradução livre), parece retratar o islã como uma religião de violência e ódio, e Maomé, como um homem tolo e com sede de poder.

A primeira cena do vídeo mostra uma família cristã copta vivendo em um Egito em processo de radicalização e sofrendo ataques de muçulmanos. O pai diz às filhas que os muçulmanos estão matando os cristãos e que o Estado islâmico está escondendo seus crimes.

Em seguida, o filme mostra o profeta Maomé com sua família e seus seguidores no deserto. Maomé é mostrado em posições sexuais com a sua mulher e com outras. Uma das sequências que mais insultaram os muçulmanos inclui uma referência a Maomé sancionando o abuso de crianças, e em determinado momento o profeta revela ser homossexual.

Muitos dos personagens recitam versos supostamente tirados do Corão, mas claramente inventados, falando de matar e extorquir pessoas.

Por que o conteúdo é tão ofensivo?

Qualquer representação de Maomé já vai contra os ensinamentos islâmicos - imagine então uma representação satírica e crítica. A descrição pouco elogiosa da mulher de Maomé e de seus seguidores também é considerada uma blasfêmia.

O princípio fundador do islã é que o Corão é a palavra direta de Deus, revelada a Maomé para ser divulgada à humanidade. Sendo assim, o fato de o vídeo sugerir que o Corão é inspirado em versos do Antigo e do Novo Testamento também é uma afronta aos muçulmanos.

Outras referências aos casos de Maomé com mulheres, a sua ganância e sua tendência à violência também são ofensivas em qualquer contexto.

O que se sabe sobre o vídeo?

Acredita-se que o filme completo tenha cerca de uma hora, ainda que o vídeo mais visto seja um trailer de 14 minutos, amplamente divulgado em inglês e árabe.

O filme tem características amadoras, no que diz respeito a atores, cenário e produção. Foi filmado durante cinco dias em um estúdio da Califórnia em agosto do ano passado, com cerca de 50 atores e outras dezenas de produtores.

A maior parte do conteúdo ofensivo parece não estar presente no filme original, e sim ter sido dublada posteriormente.

Quem é Nakoula Basseley Nakoula?

O trailer foi colocado no YouTube por uma conta ligada ao usuário "sambacile" - inicialmente descrito como um judeu israelense que levantou US$ 5 milhões com israelenses nos EUA para fazer o filme. Mas essa pessoa não existe.

Autoridades dos EUA agora dizem ter identificado Nakoula Basseley Nakoula, um egípcio cristão copta que vive na Califórnia e pode ser o autor do filme. Basseley, condenado por fraude em 2010 e forçado a pagar mais de US$ 790 mil em restituições, é suspeito de ter usado o pseudônimo "Sam Bacile" para esconder sua identidade. Ele nega as acusações.

O que dizem os atores?

Eles alegam que foram enganados a respeito do filme, dizendo que o projeto original não tinha nenhuma relação com o islã ou com o profeta. Segundo eles, todas as referências a Maomé e os insultos religiosos foram adicionados depois, na fase de pós-produção.

Cindy Lee Garcia, que fez uma pequena participação no filme, disse ao site Gawker.com que ela e seus colegas receberam um roteiro de um filme chamado Desert Warriors ("Guerreiros do Deserto", em tradução livre), que seria um drama histórico ambientado no Oriente Mèdio.

A atriz confirmou ter visto Nakoula durante as gravações.

Tem algo mais acontecendo nessa polêmica sobre o filme?

Como ficou evidente depois da publicação dos charges sobre Maomé em 2006, líderes políticos e religiosos na região se utilizam desses supostos insultos ao islã para provocar manifestações públicas.

Manifestações começaram a se espalhar do Egito para outros países - inflamado talvez pela mídia local - por causa da desconfiança em relação ao Ocidente, algo que muitos grupos vêm capitalizando sobre a polêmica.

Desilusão, falta de oportunidades e ódio contra o establishment podem causar protestos em qualquer contexto.