O 'erro' do padre católico que anulou milhares de batismos nos EUA
Um erro de um padre católico que atuou no Brasil levou à anulação de milhares de batismos que ele realizou ao longo de muitos anos nos Estados Unidos.
Autoridades eclesiásticas dizem que o pároco colombiano Andrés Arango usou a palavra "nós" em vez de "eu" durante os rituais.
Os católicos acreditam que somente Jesus Cristo tem o poder de batizar - não a comunidade em geral ou a Igreja.
Arango renunciou ao cargo e pediu desculpas.
Segundo a Diocese Católica de Phoenix, no Estado americano do Arizona, Arango estava recitando incorretamente as palavras usadas para batismos até 17 de junho de 2021. A Igreja declarou inválidos todos os batismos que ele realizou até essa data.
Os registros mostram que Arango chegou à paróquia de Phoenix como padre em fevereiro de 2013. Anteriormente, ele foi diretor de um ministério católico no campus da Califórnia. Entre 1995 e 2000, atuou como professor e padre no Brasil, na Arquidiocese de Salvador. Arango nasceu em Medellín, na Colômbia.
Em comunicado enviado à BBC News Brasil, a Arquidiocese de Salvador informou que "está à disposição para acolher as pessoas que precisam de mais informações ou que foram batizadas pelo padre Andrés Arango, para que possam ser orientadas".
Não está claro quantos batismos são agora considerados inválidos, embora a imprensa americana tenha estimado o número na casa dos milhares. As autoridades da Igreja estão pedindo que as pessoas batizadas por Arango ou tiveram seus filhos batizados se apresentem.
No centro da controvérsia está o uso de Arango da palavra "nós" em vez de "eu" na frase "eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo".
Em uma carta aos fiéis católicos locais, o bispo de Phoenix, Thomas Olmstead, disse que um "estudo cuidadoso" das palavras conduzido por autoridades locais, em consulta com autoridades do Vaticano em Roma, os levou a declarar os batismos inválidos.
Deepak Sarma, professor de estudos religiosos da Universidade Case Western Reserve, no Estado americano de Ohio, diz à BBC que, na religião, palavras individuais podem ser "poderosas" e "transformadoras".
"Nesse caso... quando a palavra 'nós' é usada, parece implicar que há uma comunidade de fiéis fazendo o batismo", explica. "A Igreja Católica ensina que quando uma pessoa batiza, é realmente Cristo quem está trabalhando por meio dessa pessoa."
Termo-chave
O uso das palavras "eu" ou "nós", acrescenta o professor Sarma, "causa ou não causa a transformação que se pretende".
"Se as palavras forem ditas incorretamente, a pessoa que se destina a ser batizada não se transforma. Se eles continuarem e procederem como católicos e tiverem outros sacramentos no futuro, tudo se baseia na falácia de que eles foram, de fato, transformados.
"Em uma carta postada online, Arango pediu desculpas por "usar uma fórmula incorreta" e renunciou ao cargo, ao mesmo tempo em que prometeu "ajudar a remediar e curar os afetados".
A Igreja Católica acredita que o batismo é um pré-requisito para a salvação. Na Bíblia, Jesus é batizado por João e diz aos discípulos que "ninguém pode entrar no reino de Deus sem nascer da água e do espírito".
O professor Sarma explica que o batismo ? assim como os rituais e atividades em todas as religiões ? forma uma parte fundamental da identidade religiosa e, nesse caso, "transforma alguém em uma pessoa católica".
"Diferentes tradições, seja catolicismo, judaísmo ou hinduísmo, têm padrões diferentes que você precisa seguir para se tornar um fiel totalmente autêntico, por exemplo", diz ele.
"Esses são ritos de passagem, e é preciso passar por esses ritos de iniciação para se tornar um ser humano mais completo."Falando à imprensa local, os fiéis que conheciam Arango expressaram simpatia por ele.
"Não acho que tenha sido algo que ele fez de propósito", diz Evelyn Ortega, uma mulher cujo batismo do filho agora é inválido, à emissora 12 News.
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