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Zimbábue aprova proposta que proíbe críticas ao governo antes das eleições

24.nov.2017 - Emmerson Mnangagwa faz juramento como presidente do Zimbábue, em Harare - Mike Hutchings/ Reuters
24.nov.2017 - Emmerson Mnangagwa faz juramento como presidente do Zimbábue, em Harare Imagem: Mike Hutchings/ Reuters

01/06/2023 16h43

Zimbábue aprova "lei patriótica" que criminaliza em até 20 anos de prisão ações que possam ser prejudiciais à "soberania e interesse nacional". A proposta que proíbe as críticas ao governo do país foi aprovada pela Assembleia Nacional do Zimbábue na noite desta quarta-feira (31/05).

O projeto de lei, que ainda precisa ser aprovado pelo Senado e depois sancionado pelo presidente Emmerson Mnangagwa, provocou temores de uma possível repressão aos críticos, a pouco mais de dois meses das eleições.

O projeto de lei foi aprovado poucas horas depois que o governo anunciou que as eleições parlamentares e presidenciais serão realizadas em 23 de agosto deste ano. Mnangagwa busca garantir um segundo mandato. O partido governista Zanu-PF, de Mnangagwa, tem maioria na Assembleia Nacional.

O que é a 'Lei Patriótica?'

Muito da controvérsia gerada pela nova lei se deve a uma cláusula que criminaliza ações que possam ser prejudiciais à "soberania e interesse nacional do Zimbábue". Nos casos mais graves, os que forem considerados culpados poderão sofrer penas de até 20 anos de prisão.

O partido governista Zanu-PF defendeu a lei, afirmando que ela motiva os mais de 15 milhões de habitantes a se tornarem "patriotas"

"Essa lei não foi feita para limitar a existência de partidos políticos, ela existe para impulsionar o povo do Zimbábue a amar seu país e parar de criticá-lo", disse o parlamentar Joseph Chinotimba, do Zanu-PF.

Reação da oposição

Grupos de direitos humanos, ativistas e políticos da oposição denunciaram o projeto de lei, dizendo que a medida visa proibir qualquer crítica ao governo do país africano.

Os críticos que a cláusula servirá para punir organizações da sociedade civil, cidadãos e partidos políticos que se oponham ao Zanu-PF.

"A liberdade de expressão está morta", escreveu o jornalista e ativista Hopewell Chin'ono no Twitter, acrescentando que foi "um dia muito triste para o Zimbábue".

Um porta-voz da Coalizão de Cidadãos pela Mudança (CCC), da oposição, descreveu o projeto de lei como "perigoso".

"O Zanu-PF reduziu nossa grande nação a um posto avançado da tirania", disse o porta-voz do CCC, Fadzayi Mahere, à agência Reuters.

Observadores estão se preparando para uma votação tensa nesse país onde o descontentamento com a pobreza arraigada, cortes de energia e carestia é profundo.

Emmerson Mnangagwa, de 80 anos, substituiu o antigo ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, em 2017, após um golpe palaciano liderado pelos militares.

Seu principal adversário é o chefe do CCC, Nelson Chamisa, de 45 anos. Advogado e pastor, Chamisa perdeu por uma pequena margem para Mnangagwa nas eleições de 2018.

Grupos de direitos humanos estão se preparando para o impacto do novo projeto de lei à medida que a campanha se intensifica antes das eleições em agosto.

"É lei mais draconiana que vimos no Zimbábue", disse o chefe do Fórum de ONGs de Direitos Humanos, Musa Kika.