A onipresente influência do exército na política do Egito
O Exército do Egito sempre esteve presente nos momentos-chave da política do país, nos quais exerceu um papel determinante.
O chefe das Forças Armadas, Abdel Fatah al Sisi, anunciou nesta quarta-feira a suspensão da constituição e a destituição do presidente, Mohammed Mursi, que foi eleito há pouco mais de um ano e será substituído provisoriamente pelo presidente do Tribunal Constitucional, Adly Mansour, após as grandes manifestações reivindicando sua saída do poder.
A onipresença do exército egípcio ficou clara depois dos últimos acontecimentos, mas já era forte no nascimento da atual república após um golpe militar liderado pelo então oficial Gamal Abdel Nasser em 1952.
O exército desempenhou um papel primordial durante a revolução que desbancou Hosni Mubarak do poder em fevereiro de 2011 e também como fiador da paz durante a transição para um governo civil.
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No transcurso da revolta, que começou em janeiro de 2011 e causou mais de 800 mortes, o exército liderou intensas negociações até convencer Mubarak, militar de carreira e comandante em chefe da Força Aérea, para que abandonasse seu cargo.
No dia 12 de fevereiro de 2011, um dia depois da queda de Mubarak, o Conselho Supremo das Forças Armadas, para o qual o deposto presidente cedeu todos os seus poderes, se comprometeu a transferí-los a uma autoridade civil escolhida democraticamente.
Nos meses seguintes à revolução, novos protestos tomaram conta da praça Tahrir pelas prerrogativas de que se queria conceder à Junta Militar quando se elaborasse a futura Constituição.
Por fim, as eleições de maio de 2012 deram a vitória ao líder da Irmandade Muçulmana, Mohammed Mursi, que se tornou o primeiro presidente civil desde 1952, quando Nasser depôs o rei Farouk.
Em novembro de 2012, meses depois da eleição de Mursi, o exército voltou a ter um papel importante quando a violência tomou novamente as ruas do Cairo, depois que o presidente egípcio emitiu um decreto que o situava acima da lei, o que provocou uma onda de protestos.
Apesar de Mursi ter anulado este decreto em dezembro, algumas polêmicas continuavam em curso.
O exército egípcio participou de vários conflitos bélicos, especialmente contra Israel, entre eles a primeira guerra árabe-israelense (1948-1949), a do Canal de Suez (do 26 de outubro a março de 1956), a Guerra dos Seis Dias de 1967 ou a do Yom Kippur, em 1973.
Entenda a crise no Egito
A QUE SE DEVE A NOVA CRISE? | O descontentamento começou em novembro de 2012, quando o presidente do Egito, Mohammed Mursi, promulgou um decreto pelo qual estendia mais poderes para si mesmo. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Essa divisão política foi propiciada por uma constituição polêmica, escrita por um painel dominado por islamitas. O fato foi agravado pelo que a oposição chamou de decisão unilateral adotada pelo governo. Alguns alegaram que muitos dos membros da Constituinte egípcia foram indicados pela Irmandade Muçulmana com base em critérios que privilegiaram a lealdade à competência. | |
O QUE MURSI DIZIA? | Apesar de admitir que cometeu alguns erros, Mursi insinuou que os protestos foram motivados por ex-membros do antigo regime e seus associados. Ele também culpa a oposição por não responder a seus pedidos para a construção de um diálogo nacional. Tais indicações ficaram claras em um pronunciamento à nação em 26 de junho deste ano. |