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ANÁLISE

Limite do humor, Vini Jr., app racista: o que ensinamos às crianças negras

Aplicativo "Base", do Instituto Vini Jr., ensina disciplinas para crianças através da tecnologia - Bruno Braz / UOL
Aplicativo "Base", do Instituto Vini Jr., ensina disciplinas para crianças através da tecnologia Imagem: Bruno Braz / UOL

Editora-assistente do Núcleo de Diversidade do UOL

25/05/2023 13h59

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Muita coisa já se falou sobre o caso de racismo envolvendo o jogador do Real Madrid Vini Jr., de 23 anos. Opinião não falta: do elogio pela postura de denúncia à tentativa de minimizar o ocorrido durante a partida que começou, permaneceu e terminou aos gritos de "macaco" por parte da torcida espanhola [em vídeo] - antes deste, outros nove casos de racismo contra ele foram registrados na Espanha, cuja formação históricadá caminhos para entender tais comportamentos.

Vini Jr. fez denúncias ainda em campo e usa ativamente as redes sociais. Fruto de um país em que organizações e intelectuais negros provocam o senso comum para de fato extinguir a ideia de democracia racial, o jogador ergue não só a sua voz, mas os punhos de vários parceiros de campo como Paulinho e Rodrygo, além do apoio de personalidades, entidades e autoridades políticas.

O que Vini Jr. passa hoje, no entanto, mesmo depois de alcançar status, fama, dinheiro e plano de carreira em uma das profissões mais almejadas do mundo, é a mesma chacota que ele muito provavelmente escuta desde a infância.

Toda criança negra, menos ou mais retinta, sentiu a dor pelo constrangimento causado pelo outro por ter a cor de pele que tem - até mesmo no simples gesto de comer uma banana no intervalo da aula.

Mesmo que Vini Jr. não seja o primeiro a denunciar o racismo dentro de campo, com a repercussão de seu caso e a forma como ele vem debatendo o problema, mães, pais e responsáveis poderão mostrar aos seus filhos que um jovem negro retinto, com todos os seus fenótipos negróides, do cabelo crespo ao nariz largo, fez autoridades políticas nacionais e internacionais exigirem respeito a ele. Afinal, como bem disse Emicida, chamar alguém de "macaco" é tentar tirar sua humanidade.

Mesmo vivendo em um mundo onde ainda debatemos o limite do humor a partir da dor de escravizar uma pessoa e aplicativos que simulam a escravidão serem elogiados; ter vozes como a de Vini Jr. ajudam a comprovar às crianças negras que é possível trilhar caminhos de combate ao racismo, e que este caminho nunca será individual, mas coletivo - como sempre bem pontua a filósofa Sueli Carneiro.

Leia mais:

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DECISÃO... A Justiça do Rio negou pedido da defesa de dois acusados do assassinato do congolês Moïse Kabagambe, em janeiro do ano passado, e manteve a prisão preventiva deles.

FAMA... Ludmilla, Naldo, Kanye West: veja artistas que mudaram de nome como The Weeknd.

APP... Hospedado na Play Store, o jogo "Simulador de Escravidão" tem causado revolta por provocar jogadores a brincar de comprar, vender, castigar e até receber prazer de pessoas escravizadas. Após a reclamação de vereadores, deputados e pesquisadores, a empresa retirou o game do ar.

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PEGA A VISÃO

"Nosso grande diferencial é preparar o jovem para ele performar melhor em todas as áreas da vida dele, na acadêmica, esportiva e pessoal, potencializá-lo para conquistar uma bolsa 100% e gerar uma transformação completa
Jorge de Sá, empresário

Jorge de Sá - Divulgação - Divulgação
Jorge de Sá
Imagem: Divulgação

Com um investimento inicial de R$ 900, Jorge de Sá, também filho da cantora Sandra de Sá, fundou em 2018 o DCEI (Departamento de Conexões Esportivas Internacionais), uma assessoria acadêmica esportiva que facilita o acesso de jovens a bolsas para estudar e jogar no exterior basquete, futebol de campo, vôlei, tênis, atletismo, natação, dança, entre outros. O DCEI já levou cerca de 900 atletas para o exterior, ultrapassando R$ 10 milhões em valor distribuído nas bolsas.

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A HISTÓRIA DA HISTÓRIA

Chaguinhas foi morto a pauladas após escapar da forca três vezes; ao lado, a Capela dos Aflitos - Karime Xavier / Folhapress - Karime Xavier / Folhapress
Chaguinhas foi morto a pauladas após escapar da forca três vezes; ao lado, a Capela dos Aflitos
Imagem: Karime Xavier / Folhapress

Antes de o cosmopolita bairro da Liberdade, no centro de São Paulo, ser palco do Ano-Novo Chinês, das feiras dominicais e dos cafés badalados, um militar negro fazia história ao se revoltar contra as políticas do império português. Francisco José das Chagas, mais conhecido como Chaguinhas, foi protagonista de uma história que até hoje inspira a cidade.

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DANDO A LETRA