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Encontro de Bolsonaro com Toffoli gera forte reação entre aliados do presidente

Toffoli abraça Bolsonaro - Reprodução/CNN
Toffoli abraça Bolsonaro Imagem: Reprodução/CNN

Ricardo Brito

Da Reuters, em Brasília

05/10/2020 18h11

O caloroso abraço de recepção de Jair Bolsonaro no anfitrião do encontro de sábado à noite, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, gerou forte reação da base bolsonarista nas redes sociais, com o presidente sendo até chamado de traidor por apoiadores. A imagem do abraço viralizou nas redes sociais.

Presidente do Supremo até setembro, Dias Toffoli promoveu em sua casa em Brasília um jantar que contou com a presença de várias autoridades, entre elas o desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) Kassio Nunes, indicado por Bolsonaro ao STF.

Toffoli foi responsável por autorizar a abertura do inquérito das fake news ano passado, que posteriormente já realizou investigações, quebras de sigilo e até prisões de aliados do presidente. Ministros do Supremo foram alvo de ataques nas redes sociais.

Aliados do presidente questionaram tanto o encontro de Bolsonaro com Toffoli quanto à indicação surpresa de Kassio Nunes —desembargador que não teria ligações com as pautas bolsonaristas— ao Supremo.

"Bolsonaro? Que inveja eu tenho do Toffoli. Ele pelo menos ganhou um abraço do Bolsonaro", disse a ativista Sara Winter, no Facebook.

"Não reconheço Bolsonaro. Não sei mais quem ele é. O homem que eu decidi entregar meu destino e vida para proteger um legado conservador. Porque (sic) estou escrevendo isso? Pq (sic) não aguento mais. Não aguento mais", afirmou ela, que cumpre prisão domiciliar em razão de outra investigação do Supremo, a dos atos antidemocráticos.

O pastor Silas Malafaia, que já tinha contestado duramente Bolsonaro por não ter cumprido a promessa de indicar um evangélico para a primeira cadeira do STF, também protestou: "O PT, toda esquerda, o centrão, os corruptos e todos os que são contra a Lava Jato agradecem a nomeação de Bolsonaro para o STF."

Em resposta a um comentário em suas redes sociais, o presidente respondeu a uma pessoa que se disse seu eleitor sobre o encontro, porque estaria em dúvida. "Preciso governar. Converso com todos em Brasília. Um abraço", disse.

Procurada, a Secretaria de Comunicação (Secom) não se manifestou sobre a participação de Bolsonaro no encontro.

Fux alijado

As tratativas para a escolha de Kassio Nunes ao Supremo, na vaga que será aberta com a aposentadoria no próximo dia 13 do decano Celso de Mello, passaram ao largo do atual presidente do Supremo, Luiz Fux, segundo uma fonte próxima a ele.

Toffoli e o ministro Gilmar Mendes foram informados da escolha de Kassio Nunes por Bolsonaro na semana passada, segundo fontes que participaram das tratativas.

Contudo, Fux pretende manter uma presidência do STF distante de Bolsonaro numa comparação com a atuação de Toffoli nos últimos dois anos.

Outra fonte do STF disse ter considerado "tudo estranho" na relação de Toffoli com Bolsonaro, mesmo já na presidência de Fux. Alertou até que essa aproximação poderia até levá-lo a se tornar suspeito em eventuais julgamentos no Supremo.

Convidado por Toffoli para o encontro, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, apoiou a indicação de Bolsonaro, dizendo ser um juiz sério, técnico e preparado.

"De todos os nomes cogitados, ele seguramente é o melhor nome", disse. "Se os bolsonaristas são contra a indicação do desembargador Kassio, é porque a indicação é boa", completou ele, ao ressalvar que tinha deixado a casa de Toffoli antes da chegada de Bolsonaro ao jantar.

Pelo regimento do STF, Kassio Nunes herdará a relatoria de casos de Celso de Mello, como o inquérito que investiga o presidente por suspeita de interferência na Polícia Federal. É possível que um rearranjo interno seja feito para que ele —se tiver o nome aprovado pelo Senado— não conduza essa apuração.