COP25: Imprensa diz que Bolsonaro "não poderá imitar" Trump e abandonar Acordo de Paris
A abertura da 25ª Conferência do Clima da ONU (COP25), em Madri, recebe destaque na imprensa francesa nesta segunda-feira (2). O Les Echos publica um artigo de opinião sobre a posição climática do Brasil e afirma que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) "não poderá imitar" Donald Trump.
A COP25, inicialmente prevista para acontecer no Brasil e em seguida no Chile, abriu finalmente suas portas hoje na capital espanhola e acontece até o próximo dia 13 de dezembro.
A humanidade, que sofre as consequências do aquecimento global, deve escolher entre a "esperança" de um mundo melhor e agir, ou a "capitulação", declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em seu discurso inaugural. "Realmente queremos passar para a história como a geração que fez como o avestruz, que descansava enquanto o mundo ardia?", questionou Guterres diante dos cerca de 200 signatários do Acordo de Paris, incluindo cerca de quarenta chefes de Estado e de governo.
A imprensa francesa aborda o encontro com certo pessimismo. "Uma nova COP por nada?", questiona o jornal Libération. A publicação progressista informa que o evento não deve "a priori" ser palco de grandes decisões. As discussões entre os 197 países que integram a Convenção da ONU sobre o Clima devem tratar essencialmente de aspectos técnicos, antes da cúpula crucial no ano que vem, na Escócia, esclarece o Libération.
"A batalha para salvar o planeta ainda não foi ganha", concorda Le Parisien. O diário completa dizendo que, diante da multiplicação de catástrofes ambientais, nada garante que esta COP25 traga respostas concretas para frear o fenômeno do aquecimento global.
Crescimento negativo
Já o diário econômico Les Echos alerta que o encontro em Madri é crucial para "evitar o crescimento negativo da economia". O jornal diz que, apesar de todos os compromissos acertados até agora para conter o fenômeno, o evento começa num contexto de aumento persistente das emissões de gases que provocam o efeito estufa.
Durante as duas semanas de discussões, o objetivo é atingir a neutralidade do carbono em 2050 e limitar o aquecimento global abaixo de 2°C. Acima deste nível, a humanidade pode perder o controle das consequências das mudanças climáticas. Para o setor econômico, que representa Les Echos, a alternativa é simples: reduzir rapidamente as emissões de CO2 para garantir o crescimento.
Como ocorre desde a COP21, as emissões aumentaram ao invés de diminuir. Por isso, os países deverão fazer um esforço ainda maior no futuro. Se não houver surpresas, a conferência de Madri deve propor uma redução anual de 8% nas emissões de CO2 no lugar dos 4% previstos no Acordo de Paris, acredita o jornal.
Posição brasileira
Les Echos traz um artigo de opinião, assinado pela filha do filósofo francês Regis Debray, Laurence Debray, sobre a posição do Brasil, que deveria acolher inicialmente esta reunião, antes da desistência do presidente brasileiro. "Bolsonaro não poderá imitar Trump", destaca o título do artigo. Por razões econômicas, é muito pouco provável que ele saia do Acordo de Paris, como fez o presidente americano.
Como Trump, Bolsonaro não acredita no aquecimento global, mesmo se 9 mil km2 da Floresta Amazônica, o equivalente à ilha de Chipre, foram destruídos pelos incêndios nos últimos meses. Lembrando o discurso do presidente brasileiro na ONU, em setembro, pedindo respeito à soberania nacional, o texto afirma que por "nacionalismo Bolsonaro cortou drasticamente o orçamento dedicado à defesa do meio ambiente no país e encoraja a extração de minério em terras antigamente protegidas". O artigo lembra que os antecessores de Bolsonaro e presidentes de esquerda de países vizinhos, como Venezuela e Bolívia, também não eram, ou não são, ecologistas convictos e também destruíram a floresta.
Mas agora que a questão climática se transformou em um desafio planetário, Bolsonaro "tem que compor com os interesses do Brasil". Um excesso de provocação, como um eventual abandono do Acordo de Paris, pode colocar em risco a ratificação do tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, alerta. E devido ao peso das exportações brasileiras para a Europa, ele ainda não ousou dar esse passo, conclui Laurence Debray.
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