Em última entrevista, Alfredo Sirkis denunciou 'ignorância' de Bolsonaro sobre causa ambiental
O escritor e jornalista carioca Alfredo Sirkis morreu ontem em um acidente de carro na Baixada Fluminense (RJ). O célebre ambientalista, um dos fundadores do Partido Verde, conversou com a RFI em 2 de julho sobre o lançamento de seu novo livro, "Descarbonário", e comentou os altos e baixos da causa ambiental no Brasil, denunciando "profunda ignorância" do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre a questão.
"Bolsonaro odeia o meio ambiente, odeia os ecologistas, odeia quem se preocupa com o assunto, e se identifica com o grileiro, o desmatador e o garimpeiro. Ele tem uma 'alma de bandeirante', aquelas expedições que entravam na mata para procurar pedras preciosas e matar os índios. Essa é a mentalidade", afirmou Sirkis, em entrevista à RFI. (Veja o vídeo abaixo)
O escritor também comentou a concepção que o presidente brasileiro tem da causa ambiental.
"Para ele, a questão ambiental está dentro da caixinha do comunismo. Ele acha que foram os comunistas que inventaram 'esse negócio'. (...) A concepção do Bolsonaro existe dentro da profunda desinformação e ignorância, e daquela postura resumida pela piada brasileira que diz 'não sei, não quero saber e tenho raiva de quem sabe'", avaliou.
Sirkis morreu por volta das 13h50 de sexta-feira, em um acidente de carro no Arco Metropolitano (BR-493), em Nova Iguaçu (RJ). Segundo a Polícia Rodoviária Federal, ele estava sozinho no veículo e seguia em direção à Via Dutra. Ele se dirigia a Morro Azul (RJ) para visitar a mãe, Liliana, de 96 anos, em isolamento social devido à pandemia. O escritor tinha 69 anos, era casado com a editora e empresária Ana Borelli e deixou um filho e uma filha.
Biografia: da militância à fundação do PV
Alfredo Hélio Sirkis nasceu no Rio de Janeiro em 8 de dezembro de 1950, filho de imigrantes judeus-poloneses. Na juventude, participou de protestos contra a Ditadura Militar, como a Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968.
Na época em que estudou no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CAp/UFRJ), começou a se dedicar ao militantismo estudantil. Integrou grupos que realizavam ações de guerilha contra a ditadura, como o Vanguarda Popular Revolucionária.
Em 1970, se envolveu no sequestro do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher. Em 1971, Sirkis se exilou e morou no Chile, Argentina e França. Com a Lei da Anistia, voltou ao Brasil, em 1979.
Como jornalista, trabalhou para as revistas Isto É e Veja, além de ter colaborado com vários outros jornais da imprensa brasileira. Na política, foi um dos pioneiros na luta pela preservação do meio ambiente no Brasil, e um dos fundadores do Partido Verde, em janeiro de 1986, tornando-se presidente da legenda em 1991.
Autor de nove livros, Sirkis recebeu o Prêmio Jabuti de 1981 por "Os Carbonários" (1980). Há duas semanas, lançou "Descarbonário, sobre as mudanças climáticas, que também traz um balanço da política no Brasil e sobre o qual conversou com a RFI em 2 de julho.
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