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Segurança do Marrocos estaria por trás de espionagem de Macron, diz site

12.jul.2021 - O presidente da França Emmanuel Macron durante um discurso transmitido pela televisão à nação - Ludovic Marin/AFP
12.jul.2021 - O presidente da França Emmanuel Macron durante um discurso transmitido pela televisão à nação Imagem: Ludovic Marin/AFP

21/07/2021 12h03

A revelação de que uma linha de celular usada pelo presidente francês, Emmanuel Macron, estava na base de dados de uma lista de 10 mil telefones potencialmente infiltrados pelo software espião Pegasus, fabricado pela empresa israelense NSO, tem forte repercussão na França. As suspeitas recaem sobre a principal autoridade da área de Segurança do Marrocos, Abdellatif Hammouchi, 55 anos, homem de confiança do rei Mohammed VI.

Os serviços que o ex-policial marroquino comanda são suspeitos de estabelecer a lista de 10 mil telefones possivelmente "infectados" pelo cookie espião. A maioria dos números são marroquinos. O próprio rei do Marrocos fazia parte das personalidades visadas.

Depois de instalado no telefone, o software espião Pegasus é capaz de copiar mensagens de SMS, textos de e-mails, anotações, fotografias e vídeos, além de acionar microfone e câmera para gravar conversas e filmar encontros sem conhecimento da vítima.

Segundo o site de informação France Info, o marroquino Abdellatif Hammouchi é um admirador da visão de segurança americana. "Ele subiu na hierarquia da polícia com velocidade surpreendente e hoje ocupa um lugar central no aparato de segurança do reinado", diz uma reportagem publicada nesta quarta-feira (21). O discreto policial "é uma estrela em ascensão do poder marroquino", de acordo com um jornalista local.

Adepto das novas tecnologias, Hammouchi modernizou e profissionalizou o sistema de segurança marroquino em poucos anos. Próximo de Mike Pompeo, ex-chefe da CIA que se tornou secretário de Estado de Donald Trump, o oficial marroquino criou em seu país um escritório antiterrorismo nos moldes do FBI.

Macron não foi o único presidente visado nesse amplo escândalo de espionagem. Linhas telefônicas de 12 chefes de Estado e de governo surgiram nas investigações reveladas no domingo (18) pelo consórcio de jornalistas chamado "Forbidden Stories" e veículos parceiros, associados à ONG Anistia Internacional. Os aparelhos foram infiltrados em 2019. Na França, além do presidente, 14 ministros do governo do ex-premiê Edouard Philippe, políticos de oposição e jornalistas tiveram seus celulares vasculhados.

Na época, segundo o site France Info, Macron estava preocupado com os protestos contra o então presidente da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, enfraquecido pela idade e por décadas de exercício autoritário do poder. Argélia e Marrocos mantêm relações tensas, e Macron consultava líderes da União Africana sobre a instabilidade em Argel.

Temor de manipulação

Em entrevista ao jornal Le Parisien, um ex-dirigente do serviço secreto francês, que fala sob anonimato, afirma não haver nada de novo nesse escândalo de espionagem, embora a escala seja inédita. Sobre a implicação do Marrocos, o entrevistado acredita que "dificilmente a inteligência marroquina poderia infiltrar os telefones dos dirigentes franceses sem autorização direta do rei". Porém, de acordo com sua experiência, nesse tipo de caso é necessário muita cautela, pois "as aparências enganam". "As pistas que levam ao Marrocos podem ser um tiro pela culatra, uma manipulação", diz o oficial francês. "A urgência é entender o que aconteceu, quem está por trás disso", acrescenta, destacando que será difícil obter as provas.

Macron utiliza várias linhas de celular de marcas vendidas no mercado, como IPhone e Samsung. Apesar dos esforços feitos pelos serviços de inteligência franceses para proteger os aparelhos do presidente, ele tem o hábito de dialogar com membros do governo pelos aplicativos de mensagem WhasApp e Telegram em aparelhos que não foram completamente criptados.

A principal preocupação dos assessores de Macron é com a eleição presidencial de 2022. "E se informações sensíveis obtidas por meio de espionagem fossem utilizadas para impedir a reeleição de Macron em 2022?", indaga o jornal Le Parisien. Este é o maior temor entre as pessoas próximas do líder centrista, que já teve e-mails hackeados na campanha presidencial de 2017.

A justiça francesa abriu uma investigação para examinar as denúncias do consórcio de jornalistas. Oficialmente, o Marrocos declara que não utiliza esse software espião. "Se os fatos forem verdadeiros, eles são obviamente muito graves", declarou o Palácio do Eliseu em nota, acrescentando que "toda a luz será lançada sobre as revelações da imprensa".

A Anistia Internacional constatou a intrusão em vários aparelhos de pessoas que estavam na base de dados, como o celular do ex-ministro da Transição Ecológica François de Rugy. Ele aceitou entregar seu telefone para perícia.

Além do Marrocos, o software Pegasus teria sido usado pelo México,Índia, Azerbaijão e Hungria, membro da União Europeia, entre outros países.